segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Trainspotting – Sem Limites [1996]


(de Danny Boyle. Trainspotting, Reino Unido, 1996) Com Ewan McGregor, Ewen Bremner, Jonny Lee Miller, Kevin McKidd, Robert Carlyle, Kelly Macdonald. Cotação: *****

Polêmico. Esse já seria um adjetivo que resumiria muito bem essa obra de Danny Boyle, baseado no livro homônimo de John Hodge, de 1993. Aclamado pela crítica e logo tido como um dos filmes mais queridos dos anos 90, "Trainspotting" passou por severas críticas, acusado de incentivar a violência e o uso de drogas. Ainda assim, o marco imprevisível que um filme pode causar numa sociedade que cultua o pop subversivo provém principalmente de todo um trabalho formidável. Eis o exemplo.

Na clubber Edimburgo, Renton (Ewan McGregor) relata sua amizade com Spud, Sick Boy, Tommy e o alcoólatra Begbie. A relação do grupo se faz com muita festa e o uso excessivo de heroína, uma droga que acarreta num nefasto efeito na vida de cada um. Apesar das várias tentativas de abandonar a droga, Renton sempre acaba voltando ao círculo autodestrutivo. Nessa busca desenfreada por prazer, os amigos convivem com furtos, tráfico, prostituição e violência. E o provável final deles pode não ser tão agradável quanto planejam ter.

Logo no início, o prólogo narrado pelo personagem de Ewan McGregor diz que somos livres para fazermos as mais variadas escolhas, porém, qual seria a razão de ter uma vida aparentemente subjugada numa sociedade moderna com todos os seus padrões e suas incalculáveis formas de sobreviver normalmente se existe um artifício que pode produzir em nós o verdadeiro sentido da felicidade: a heroína. A partir dessa introdução, poderíamos até acusar "Trainspotting" de uma glamorização da droga, mesmo sem projetar que o que viria a seguir seria o lado abusivo de um grupo de jovens que serve como um retrato da geração que o filme tenta atingir.

Mas tentando se despir ao máximo de moralismos, Boyle - auxiliado pela obra fenomenal de Hodge - consegue mostrar o lado obscuro disso tudo. Como se não fosse suficiente, o diretor ainda quer jogar em nossa cara o perverso caminho que um vício pode nos puxar, sempre nos fazendo crer que, para cada escolha que façamos, o resultado delas pode vir de maneira extremamente pesada. No decorrer de "Trainspotting", a gama de sentimentos que chega até nós é variada. Do nojento para o prazeroso, do repulsivo para o manifesto. Boyle não quer brincar com entrelinhas, tudo é atirado – e com força – para toda uma sociedade julgar. Sobra até para os escoceses em um monólogo de Renton.

A trilha sonora milimetricamente bem casada com o desenrolar dos acontecimentos dessa montanha russa de apreensões funciona perfeitamente para a vibração que o filme sustenta, assim como a montagem tão frenética, todas as referência cults e a nova linguagem de videoclipe que tomou a década de 90. É um filme necessário em bons debates sobre o tema, se tornando obrigatório quando a discussão perpassa o levantamento de questões onde a moralidade toma forma.

Boyle prova que ela (a moralidade) não julga tão bem quanto nos foi ensinado.