quarta-feira, 13 de abril de 2011

Contra Corrente [2009]


(de Javier Fuentes-León. Contracorriente, Peru, 2009) Com Tatiana Astengo, Manolo Cardona, Cristian Mercado. Cotação: ****

Ver um filme como esse “Contra Corrente” estrear em salas brasileiras já é uma grata surpresa. Além de uma ótima (e infelizmente rara) oportunidade de assistir uma produção peruana sendo exibida por aqui (apesar do surpreendente crescimento de qualidade), o filme contém uma história desafiadora que irá contrastar a sutileza de um amor homossexual com traços de um romance espiritualista. E mostra de uma maneira serena, como um meio social é capaz de definir os rumos de um amor como esse. Não é militante, nem exageradamente meloso. Muito menos apelativo. É um bom filme que agradará não só seu público alvo, caso não sofra a antipatia dos mais puritanos.

Numa humilde vila de pescadores no Peru, Miguel (Cristian Mercado) está prestes a ser pai. Sua esposa Mariela (Tatiana Astengo) espera o primeiro filho deles, mas Miguel mantém um romance às escondidas com o pintor Santiago (Manolo Cardona), um homem misterioso e mal visto na vila. O amor é nítido e apesar de Santiago querer levar adiante essa história, Miguel está acomodado com o verniz social, preferindo se esconder atrás de sua família em formação. Após a morte por afogamento de Santiago, Miguel passa a receber constantes visitas de alma do amado, que só descansará quando seu corpo for encontrado e ofertado (apresenta-se aí um aspecto cultural). Mas as constantes desconfianças dos hostis moradores daquela região poderão culminar em sérias conseqüências.

Agraciado pela crítica e muito bem recebido em festivais internacionais (foi ganhador do prêmio popular em Sundance), “Contra Corrente” nos pega de surpresa pela simplicidade apresentada, mesmo contendo uma abordagem subversiva. Pela primeira vez a frente de um longa metragem, o diretor Javier Fuentes-León consegue engrenar uma boa história, muito bem ambientada no lugar onde se passa a história, respeitando as premissas e surpreendendo na narrativa, afinal, aceitar uma história onde um fantasma acompanha uma pessoa sem evidenciar a impossibilidade disso acontecer, e mais, nos fazer aventurar-se nessa proposta, não é um feito fácil de ser conquistado. Quando se trata de um filme simples (mesmo sendo financiado por países como França e Alemanha), isso pode acarretar numa singularidade tamanha que só poderia cair nas graças de um público mais restrito.

Uma recepção maior por parte do público geral só aconteceria caso houvesse um respeito por parte das distribuidoras e pelos próprios produtores, que acabaram por vender o filme ao mercado mais underground do público gls. Isso é válido, pois está absolutamente no contexto homossexual, mas como disse, isso acaba o tornando uma fita movida pelo seu próprio público alvo e muitas vezes ignorada pelo público em geral. Fica a cargo dos cinéfilos, críticos ou recomendações boca-a-boca, a possibilidade de ajudar na divulgação de um filme que é agradável, sem grandiosidade, mas nem por isso descartável.

É um belo exemplar apresentado por um país que vem crescendo gradativamente no ramo e que alça vôos cada vez mais audaciosos. Merece palmas.

6 comentários:

  1. Acabo de vê-lo. Foi uma ótima surpresa: honesto, delicado e talentoso. Bela fotografia, roteiro firme e boas interpretações. Um filme cult.

    www.ofalcaomaltes.blogspot.com

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  2. Vi hoje e gostei também. Boas atuações e mais profundo do que muito filminho gls planfetário que vemos por aí.

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  3. Acho que não chegará nos cinemas de minha cidade, mas este é um filme que estou muito ansioso. A temática e principalmente por ser "peruano" me deixa na expectativa.

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  4. Muito instigante, me parece um bom trabalho, a abordagem me atrai. Em breve confiro! Espero ter boas impressões, ainda mais que a temática se enquadra em meu blog, né?

    abs

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  5. Belo filme. Lá pelos 2/3 do filme, pensei que o roteiro se acomodaria, deixando o protagonista retornar à sua rotina. Entretanto, ele foi firme e sutil, mostrando o caminho sem volta da descoberta e auto-aceitação. O filme me pareceu corajoso, romântico e questionador nas doses certas.

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  6. O cinema latino-americano tem crescido muito e sua linguagem particular de abordar diferentes temáticas tem muito a acrescentar. Acabei de assistir a Contracorrente. Sem dúvida, um belo filme, repleto de densidade, sem ser panfletário ou um folhetim. Sutil, a figura do fantasma de Santiago e sua relação com Mico/Carlos têm muito a questionar sobre nossa forma de encarar a sociedade! Belo filme!

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