segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Um Assaltante Bem Trapalhão [1969]


(de Woody Allen. Take the Money and Run, EUA, 1969) Com Woody Allen, Janet Margolin, Marcel Hillaire, Jacquelyn Hyde. Cotação: ****

Apesar do péssimo título que recebeu aqui no Brasil, "Um Assaltante Bem Trapalhão" é um filme que merece ser dada a devida atenção. Não só pela importância na filmografia de Woody Allen, já que é o primeiro inteiramente dirigido pelo cineasta, mas também por ser referência em um tipo de comédia que mais tarde viria a ser utilizada em grandes clássicos do humor nosense, em filmes como "Corra Que A Polícia Vem Aí", "Apertem Os Cintos... O Piloto Sumiu" e nos esquetes da série "Monty Python".

O filme é esquematizado como um falso documentário, sendo narrada, inteiramente em off, a história de Virgil Starkwell (Woody Allen). Desde sua infância sendo perseguido, passando pela juventude em busca de ser alguém talentoso. Com seu complexo de inferioridade herdado pelo fracasso em todas as tentativas de se sobressair em algo, resolve ser assaltante de banco. Mas assim como o título sugere, as trapalhadas de Virgi fazem com que ele acabe sendo preso. Já fora da prisão graças a liberdade condicional, conhece a lavadeira Louise (Janet Margolin), e o amor faz com que ele tente mudar de vida mesmo sendo seduzido a tentar uma carreira criminal de sucesso.

A ironia de Woody Allen se encontra por vezes bem clara em sua forma. A sociedade americana prega os ideais heróicos como forma de promoção do “homem íntegro”. O personagem de Allen tenta buscar - mesmo que às avessas - exatamente isso: o reconhecimento de seu trabalho sujo. Em certo momento do filme, no depoimento da esposa Louise, ela diz que seu marido se encontrava deprimido por nunca ter sido um dos 10 assaltantes mais procurados do FBI.

Assim como o personagem, Woody Allen é considerado até então um profissional trapalhado entre os outros cineastas de sua época, e demonstra originalidade em suas gags e humildade em assumir que sua única intenção é simplesmente divertir seu espectador sem representar, contudo, falta de qualidade em seu roteiro, por mais absurdas que algumas cenas possam parecer. A intenção autobiográfica pode ser intencional, já que a data de nascimento do personagem é a mesma que a do diretor.

A característica cômica vigente no início da carreira de Woody Allen está aqui inteiramente pré-firmada. É o início do retrato do “homem neurótico e complexado” que deu certo e nos é apresentado ano a ano através de seus filmes até hoje. Ainda há poucos momentos de reflexão particular, mas as sequências de boas gags (outra característica sendo apresentada) são freqüentes. A mais famosa delas é a utilização de uma pedra de sabão e graxa de sapato para fabricar uma arma que derreterá na chuva no momento errado. Os depoimentos dos pais de Virgi (mascarados por terem vergonha do filho mafioso) garantem também os melhores momentos das falas de seus familiares, amigos e comparsas.

É rir do absurdo, mas com total inteligência.

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