terça-feira, 26 de junho de 2012

Hannah e Suas Irmãs [1986]

poster filme hannah e suas irmãs woody allen 1986

(de Woody Allen. Hannah and Her Sisters, EUA, 1986) Com Mia Farrow, Michael Caine, Barbara Hershey, Dianne Wiest, Carrie Fisher, Max von Sydow, Julia Louis-Dreyfus, Maureen O'Sullivan, Woody Allen. Cotação: *****

Filme de Woody Allen sobre três irmãs inteligentes e com crises familiares. Mesmo parecendo improvável, se você, por algum acaso, pensou em “Interiores”, você merece os parabéns, porque deve ser um fã bem conhecedor da obra de Woody Allen. Mas “Hannah e Suas Irmãs”, apesar de ter justamente esse mote resumido em comum, não tem nada a ver com o pesado filme de 1978. Aqui, o que vemos é um drama cômico (está longe de ser uma comédia) com um dos melhores roteiros de nosso mestre que, segundo o próprio, foi fisgado pelo livro “Anna Karenina”, de Léon Tolstoi (1828-1910). Também foi um dos maiores sucessos de bilheteria de Allen. Marca que só foi desbancada pelos mais recentes “Ponto Final - Match Point” (2005) e “Meia-Noite em Paris” (2011).

Com uma belíssima condução de roteiro, somos apresentados às três irmãs que conduzem a história. Hannah (Mia Farrow, de “Simplesmente Alice”), a mais velha, é uma atriz teatral de sucesso casada com o galanteador Elliot (Michael Caine, “Regras da Vida”). Outra irmã é Lee (Barbara Hershey, de “Cisne Negro”), que está emocionalmente confusa por conta de um inesperado relacionamento com o marido de Hannah, a sua própria irmã. Lee é casada com Frederick (Max Von Sydow, de “O Exorcista”), seu ex-professor. Por último, ainda tem a problemática Holly (Dianne Wiest, de “Edward Mãos de Tesoura”), uma ex-viciada em cocaína que tenta encontrar talento para ser uma atriz da Broadway ou fazer seu restaurante dar certo.

Em meio a isso tudo, Woody Allen interpreta Mickey, ex-marido de Hannah. Ele - como todo hipocondríaco - se desespera pela chance de ter um tumor cerebral após perceber que está perdendo a audição em um dos ouvidos. Woody faz, portanto, um filme para si em meio à conturbada relação de Hannah e suas irmãs, sendo responsável pelo alívio cômico. Tem até piadas que funcionam (graças à Allen, claro), mas de modo geral, às cenas mais complexas, como o término da relação entre Lee e Frederick, são a prova de que “Hannah e Suas Irmãs” tem mais camadas do que podíamos imaginar. Voltando a falar do personagem de Woody, a prova de que ficou com ele os melhores momentos do longa é a sua busca por um sentido na vida, onde ele acredita estar na religião. São visitas a padres e hare krishnas, para desespero de seus pais, judeus de tradição.

Partindo para o lado mais dramático da coisa toda, “Hannah e Suas Irmãs” ressalta os riscos que o amor pode representar, graças às armadilhas do nosso coração. Podemos ser felizes atualmente, mas de forma inesperada, poderemos nos envolver com outra pessoa, ou sermos vítimas de uma traição que poderia até ser chamada de “justificável”, mas o próprio filme deixa transparecer que tudo pode ser uma questão de situações criadas. Nós somos totalmente responsáveis por nossos atos, mas o que nos empurra - ou nos contêm - são os acasos. Esses que nos levam ao imprevisível. E é bem isso que nos é mostrado por “Hannah e Suas Irmãs”, um filme que segue a vida dessas mulheres por dois anos, sempre marcado pelas estações do ano tão vivas de Nova York, e os jantares de Ação de Graças. 

Tudo isso é seguido em um filme sem fluxo contínuo, com direito a flashbacks (a edição do filme é espetacular). Outro elogio que não tem como deixar de fazer diz respeito ao elenco. Até Mia Farrow (que muitos consideram fraquíssima) está bem no filme. Dianne Wiest ganhou até Oscar pelo papel, assim como Michael Caine. Wiest, aliás, ganharia sua segunda estatueta poucos anos mais tarde, por “Tiros Na Broadway”, onde também foi dirigida por Woody Allen. Até Max Von Sydow, que aparece bem menos do que eu desejaria, faz um trabalho esplêndido (como na já citada cena do término). Imagino o nervosismo de Allen ao dirigir um grande ator de Bergman, um dos diretores que ele mais venera.

Para terminar com uma curiosidade, em uma das cenas de Ação de Graças, algumas crianças que aparecem são realmente filhos adotivos de Mia Farrow (no filme ela é mãe de quatro). Uma dessas crianças é a coreana Soon-Yi Previn, que mais tarde se tornaria esposa de Woody Allen, numa polêmica relação que dura até hoje.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Primeira Noite de um Homem [1967]


(de Mike Nichols, EUA, 1967) Com Dustin Hoffman, Anne Bancroft, Katharine Ross, William Daniels, Murray Hamilton. Cotação: ****

Pouca gente sabe, mas “A Primeira Noite de Um Homem” foi o primeiro filme a lidar com os questionamentos dos jovens graduados pela ótica dos próprios, sem uma visão mais “adulta”. Não desconsidero o fato de que o graduado do filme em questão está completamente fora da nossa realidade, onde poucos jovens têm a oportunidade de concluir uma faculdade e pensar em como vão começar sua vida trabalhista a partir de então, mas antes disso, ganha um carro do pai logo de cara. Mas isso pouco importa. O filme casa muito bem com os filhinhos de papai americanos que eram ainda mais estimados na década de 60. 

Baseado no livro de Charles Webb, o filme traduz, de maneira poética, os anseios vividos por Ben Braddock (Dustin Hoffman, de “Tootsie”), rapaz que, prestes a completar 21 anos,  acaba de voltar para a casa dos pais com um diploma universitário debaixo do braço.Numa festa de recepção dada pelos seus pais, é atraído pela madura Mrs. Robinson (Anne Bancroft, de “O Milagre de Anne Sullivan”), mulher do sócio de seu pai. Apesar de sua relutância, ele perde a virgindade com a coroa dias depois, mesmo sentindo-se culpado por isso. A situação fica ainda mais complicada com a chegada de Elaine (Katharine Ross, de “Butch Cassidy”), filha de Miss Robinson, que se mostra interessada por Ben.

O triângulo amoroso formado entre Ben, Mrs. Robinson e sua filha, pode até ser o grande mote central de “A Primeira Noite de Um Homem”, mas até mesmo esse título original já apregoa que as melhores partes do filme dizem respeito às cenas entre o desajeitado garoto, tentando resistir aos encantos da predadora Mrs. Robinson. Imaginem o falatório que a obra deve ter causado na época de seu lançamento, já que existe até uma polêmica (para os moldes da época) cena de nudez de Anne Bancroft (1931–2005), arrasando num papel que quase foi de Jeanne Moreau. Brancoft, diga-se de passagem, nunca esteve tão sensual. 

Sendo um dos filmes mais bem desenvolvidos do sempre interessante Mike Nichols (o meu preferido da filmografia dele continua sendo “Closer – Perto Demais”), “A Primeira Noite de Um Homem” rendeu para ele um digno Oscar de Melhor Diretor, mas o filme acabou perdendo o prêmio principal para "No Calor da Noite". Teve algumas outras indicações, inclusive uma de Atriz Coadjuvante para Katherine Ross, que praticamente sumiria da face da terra anos mais tarde. E não posso deixar de elogiar, acima de qualquer coisa, a trilha sonora regada a Simon & Garfunkel, com canções de rock-folk como Sounds of Silence e Mrs. Robinson, lindos exemplos que marcaram época. E nossa memória também. 

terça-feira, 19 de junho de 2012

Onde os Fracos Não Têm Vez [2007]


(de Ethan e Joel Coen. No Country for Old Men, EUA, 2007) Com Tommy Lee Jones, Javier Bardem, Josh Brolin, Woody Harrelson, Kelly Macdonald. Cotação:*****

Não tem como não assistir “Onde os Fracos Não Têm Vez” sem se dar conta de que os Irmãos Coen formam uma das duplas mais infalíveis do Cinema. Creditados no filme como diretores, produtores e até editores (por detrás do pseudônimo Roderick Jaynes), nem precisei de muito tempo para obter a resposta de uma pergunta bem pertinente: Por que, depois tantos roteiros bacanudos como “Gosto de Sangue” e, principalmente, “Fargo”, os Coen se entregaram a uma adaptação? Simples, a novela homônima de Cormac McCarthy tem muito a ver com o trabalho da dupla de diretores, inclusive nos toques do no sense e diálogos cheios de espirituosidade, que povoam o filme de uma forma bastante sólida. 

No deserto fronteiriço entre EUA e México, o corajoso Llewelyn Moss (Josh Brolin, de “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos”), ao fazer sua caçada típica a coiotes, encontra um cenário sanguinolento. Uma chacina onde vários latinos estavam mortos, provavelmente por um acerto de contas que não acabara bem. Não demora muito e ele encontra uma maleta contendo dois milhões de dólares. Sem pensar duas vezes, ele pega o dinheiro para si, mas ele não contava que o montante tinha um dono, ou, pelo menos, alguém que se dizia dessa maneira. Trata-se do aterrorizante Anton Chigurh (Javier Bardem, de “Mar Adentro”), um assassino de grande perspicácia. Prevendo o iminente cerco de Llewelyn, o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones, de “MIB”), prestes a se aposentar, teme pelas conseqüências desastrosas desse cenário.

É muito bonito de ver o grande simbolismo que é “Onde Os Fracos Não Têm Vez”. De um modo geral, trata-se do discurso de um xerife que não vê mais melhora num mundo cão em que vive (e que, de certo modo, não é muito distante da gente). O personagem, que é interpretado de forma brilhante por Tommy Lee Jones, aos poucos vai tendo a certeza que já não há, de fato, um lugar seguro para um “fraco” (traduzido de forma questionável do “old man” que consta no original). Com as atrocidades e requintes de crueldade dos quais se depara no seu dia-a-dia, ele sabe que fazer o seu papel é praticamente uma tarefa que não colocará fim em nada. 

Se Tommy Lee Jones faz um trabalho tão soberbo, o que dizer então de Javier Bardem? Dando vida a um dos vilões mais emblemáticos do cinema nos últimos dez anos, o ator espanhol consegue transparecer um perigo bárbaro sem se exaltar um minuto sequer, se utilizando somente de sua voz pesadamente grave, seu semblante fixado e um corte de cabelo que, digamos, colabora ainda mais com seu visual amedrontador. E ainda anda em companhia de um cilindro de oxigênio (daqueles utilizados no abate de gados), para arrebentar fechaduras e matar suas vítimas de uma forma rápida e quase limpa. Com um vilão desses, nem seria preciso uma trilha sonora para criar tensão. 

Aliás, “Onde os Fracos Não Têm Vez” é um ótimo exemplo para afirmar que Ethan e Joel Coen são mestres na arte de criar tensão. E isso sem perder a espirituosidade tão presente nos seus outros filmes (como já destaquei no primeiro parágrafo), podemos nos deliciar com diálogos sensacionais, como quando Llewelyn, ao sair de casa para fazer algo que colocará em risco a sua vida, diz para a esposa.

- Se eu não voltar, diga a minha mãe que a amo.
- Sua mãe está morta – a esposa responde.
- Então eu mesmo direi isso a ela. 

Digno dos Coen, mesmo sendo adaptado tão fielmente do livro de McCarthy. Só lembrando que “Onde os Fracos Não Têm Vez” ganhou o Oscar de Melhor Filme no Oscar de 2008, além de ter faturado outras estatuetas nas categorias de Edição, Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante para Javier Bardem. Como perceberam, o filme fez por merecer.

sábado, 16 de junho de 2012

Voltando com algumas novidades...

Eu sei que faz algumas semanas que não apareço por aqui, mas o tempo apertado realmente foi o grande culpado disso tudo. O fato é que, num blog onde eu sempre atualizava com textos sobre filmes vistos, existe um risco enorme de ficar sem atualizações quando o blogueiro que vos escreve não tem tempo para ver os títulos que vão se acumulando, ou, como algumas vezes acontece, quer assistir alguma coisa, mas sem ter a obrigação de escrever sobre ele ao término da sessão. Isso é bem comum, e quem tem blog sobre cinema sabe como é.

Por isso, eu senti um pouco a necessidade de escrever sobre aleatoriedades que estão acontecendo na minha vida. Claro, acontecimentos que tenham algo a ver com o mundo do cinema e cultura pop em geral.  Mas, enfim, todo esse tempo ocioso aqui no Poses ajudou para que esse post venha com algumas novidades acumuladas que são bem bacanas. Vamos à elas:

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Há umas duas semanas, eu recebi o convite para colaborar no site Cenas de Cinema, um dos portais mais tradicionais do mundo da blogosfera cinéfila. Fui muito bem acolhido pela editora-chefe do site, Cecília Barroso, e sua majestosa equipe. Estreei com a crítica do filme “Solteiros com Filhos”, ótima comédia romântica escrita por Jennifer Westfeldt (“Beijando Jessica Stein”). Tanto essa quando as próximas críticas que forem publicadas lá, você vai encontrar link no nosso (cada vez mais cheio) índice de banco de dados, que se encontra aqui na lateral do blog.

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Outro convite inusitado partiu da PlayTV, canal a cabo dedicado ao público jovem que, num ato louvável, vai estrear o Moviola, uma atração dedicada ao cinema! O primeiro programa vai ao ar nesse sábado, dia 16, às 17h. Cada programa, que vai durar apenas 15 minutinhos, terá sempre um tema a ser discutido, contando com a presença de algum convidado ligado à pauta. A apresentação fica por conta de Rodolfo Rodrigues (foto).

E onde eu entro nessa história?

Bem, fui o convidado para o programa dedicado a Woody Allen. Quem me conhece – o pouco que seja – sabe que é o meu cineasta preferido. Tudo para calhar com a estréia do novo filme do mestre. Intitulado “Para Roma, com Amor”, esse novo trabalho (que vem depois do sucesso estrondoso que foi “Meia-Noite em Paris”) chega às nossas telas no próximo dia 29 (veja o trailer aqui). Eu, é claro, estou com boas expectativas, mesmo tendo que engolir Roberto Benigni. Quando o programa estiver disponível, eu postarei aqui no blog.

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Por último e não menos importante, posso dizer que estou trabalhando em um projeto interessantíssimo que envolve justamente Woody Allen! Mas, nesse caso, eu já não posso entrar em muitos detalhes, pelo menos por enquanto, pois estou ainda amadurecendo a ideia. Qualquer coisa, o blog será o primeiro meio que utilizarei para divulgar.

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Logo, logo, solto posts sobre “Onde os Fracos Não Tem Vez” e “A Primeira Noite de Um Homem”, filmes que, apesar de serem totalmente diferentes, são ambos ótimos.

Até mais!