(de Darren Aronofsky. Requiem for a Dream, EUA, 2000) Com Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans, Christopher McDonald, Louise Lasser. Cotação: *****
Ainda em seu segundo filme, Darren Aronofsky - que já tinha surpreendido a muitos com “Pi” (1998) - conseguiu ser celebrado pela crítica e cinéfilos. As razões são óbvias. É raro um diretor surgir com um talento tão peculiar, a ponto de transpor o que ele arquiteta em sua mente de uma forma absolutamente original. Em “Réquiem Para um Sonho”, ele mergulha não no submundo das drogas, mas no mundo interno do vício, com tudo o que possa ser vinculado a ele de uma forma arrebatadora. Para quem considera o cinema um escapismo para a realidade e que se trata de puro entretenimento, este não é um filme digamos, recomendável.
No Brooklyn, Nova York, a Sra. Sara Goldfarb (Burstyn) está completamente viciada em televisão, principalmente em um game show surreal, que ela adora assistir sentada em sua poltrona e degustando seus doces. Seu filho, Harry (Leto), freqüentemente rouba a televisão da mãe para manter seu vício em heroína, sempre em companhia de seu amigo Tyrone (Wayans), e de sua namorada, a estilista Marion (Connelly), ambos também viciados. Ao receber uma ligação dizendo que participará de um programa de TV, Sara tenta emagrecer a qualquer custo, buscando saídas como inibidores de apetite “receitados” por um médico suspeito. Enquanto isso, Harry tenta de todas as formas manter o seu vício (e o de Marion).
Baseado no livro de Hubert Selby Jr. (1928 – 2004) publicado em 1978 (o escritor também é co-autor do roteiro do filme, ao lado de Aronofsky), o filme tenta adaptar muito mais do que o texto, com seus personagens e situações. De uma maneira visual e atraente, o que é perceptível na loucura instalada na mente de um viciado, seja de drogas ilícitas, ou até mesmo (ainda que de uma forma menos impactante) da compulsão alimentar. Por conta disso, “Réquiem Para um Sonho” não é um filme fácil. É um soco no estômago, com toda a potência milimetricamente calculada por Aronofsky, que agora aproveita a oportunidade de um maior orçamento (embora ainda seja um filme barato) para expandir suas técnicas.
São justamente essas técnicas empregadas pelo diretor que tornam o filme visualmente genial. O número de cortes em um filme normal varia 600 e 700, em “Réquiem Para um Sonho” ultrapassa 2000 cortes. Isso para dar uma idéia da agilidade gráfica, além dos closes angulares, a divisão da cena, a junção de diversas situações unidas por uma trilha sonora espetacular e outras facetas que somente um diretor entusiasmado poderia montar. É delirante.
Ellen Burstyn está incrível. Sua transformação é a mais notória, com seus cabelos desgrenhados e uma velhice imperdoável que obviamente não a poupou. Ela se entrega de uma maneira absurda, e a própria atriz reconhece que é este o seu melhor trabalho, que a garantiu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, que por uma razão ainda torta, naquele ano foi parar nas mãos de Julia Roberts (premiada por seu trabalho em "Erin Brockovich"). Foi possível até nos surpreender com as performances de Jennifer Connelly (que veio a conquistar maior confiança somente após “Uma Mente Brilhante”), Jared Leto (hoje mais conhecido como vocalista da banda 30 Seconds to Mars) e Marlon Wayans (da franquia “Todo Mundo em Pânico”).
“Réquiem Para Um Sonho”, reafirmo, é barra pesada. Mas nem por isso deva ser subjugada no mundinho underground, sendo possível tomá-la como uma boa referência para exibições em escolas ou qualquer outro meio para ser mostrada aos jovens em geral.