sexta-feira, 13 de maio de 2011

Último Tango em Paris [1972]


(de Bernardo Bertolucci. Ultimo tango a Parigi, França/Itália, 1972) Com Marlon Brando, Maria Schneider, Maria Michi, Giovanna Galletti, Catherine Breillat, Massimo Girotti. Cotação: ****

Quem considera Marlon Brando um dos maiores atores que já existiu, sabe que esse mérito não provém apenas da franquia “O Poderoso Chefão”. Brando, no mesmo ano em que encarna Don Vito Corleone, surpreende a todos num dos trabalhos mais entregues de sua filmografia. Aliada a uma direção interessante de Bernardo Bertolucci, “Último Tango em Paris” conseguiu um domínio próprio pra se estabelecer como um dos filmes mais polêmicos dos anos setenta, e por que não dizer, da história do cinema contemporâneo. A razão, como quase sempre, seria o nível do teor sexual do filme. Eu diria que a provocação da obra não estaria no sexo em si, mas em como isso foi trazido nas lentes de Bertolucci através de conceitos que envolvem a misoginia, a sodomia ou até mesmo a zoofilia.

Jeanne (Maria Schneider) é uma parisiense de vinte anos que resolve alugar um apartamento. Após subornar a recepcionista de um prédio obscuro e visitar os cômodos espaçosos do apartamento ela vê que um homem já estava está ali e alugara o imóvel antes dela. Sem nem ela mesmo saber, eles acabam se envolvendo de tal maneira que passam a conviver juntos. A proposta dele é nunca revelarem seus nomes, aproveitando apenas o que o sexo poderia oferecer. Mas ao longo da projeção, sabemos que ela é uma jovem que procura uma base na vida, namorada de um aspirante a cineasta fútil, que almeja fazer um filme sobre ela, fazendo com que ela questione se o amor que ele demonstra é real ou apenas produção de cena para o tal filme. O homem misterioso é Paul (Marlon Brando), americano que vive na França, onde é dono de um hotel e recentemente perdeu sua esposa, que se suicidou na banheira de sua residência.

Ao não revelarem seus nomes, a relação que eles possuem passa a ser de uma cumplicidade mútua, e é exatamente isso que ambos estão precisando. Jeanne é uma ninfeta. Sabe que sua beleza atrevida é algo que a ajuda da mesma forma em que atrapalha para encontrar um homem ideal para a vida. Ao conhecer Paul, ela se sente até mais que atraída sexualmente. O poder de tensão é tamanho, que nem ela mesma sabe o porquê de continuar voltando no apartamento para novas aventuras. Já Paul, a morte ainda não compreendida de sua esposa faz com que ele crie certo desprezo pela figura feminina. Violento a ponto de causar medo em sua sogra, ele não se interessa mais em depositar confiança em nenhuma mulher, ainda mais quando descobre que seu casamento não era assim tão honesto quanto ele julgava ser.

Desse relacionamento, o que se pode esperar é uma crescente aproximação sentimental. Não importando se a linguagem que eles encontram inicialmente seja o sexo, os dois estão ali despidos de qualquer forma de julgamento social, pois não estão apenas entre paredes, mas também ocultando suas reais identidades, não só no nome, mas em tudo o que envolve o exterior daquele apartamento. É interessante notar a natureza violenta de Paul contrastando com o romantismo de Jeanne, que produz cenas fortes, embora boa parte das tórridas cenas de sexo serviu principalmente para causar polêmica, alvoroço. Como resultado, “Último Tango em Paris” foi capaz de formar protestos no mundo inteiro e ter suas cópias destruídas na Itália, que inclusive condenou Bertolucci por obscenidade. No Brasil, por conta da ditadura militar, os brasileiros só puderam conferir a obra quase dez anos mais tarde.

Não se trata de algo surpreendente se vermos com um olhar mais “séc. XXI”. Mas se pensar bem, cenas que envolvem sexo anal forçado contendo manteiga como lubrificante, ou a ideia nojenta de imaginar uma mulher transando com um porco, ainda podem ser espantosas. Mas é como eu havia dito, tudo isso se mostra possível na história, porém sabemos que a real intenção de Bertolucci não estava em explicitar uma natureza perturbada, principalmente da parte de Paul. Cenas como essas servem principalmente para levantar alguma polêmica, seja de cunho econômico (a fim de gerar maiores ganhos em bilheterias), ganhar fama pela ousadia ou protesto artístico. Eu, conhecendo o cinema de Bertolucci, sei que a última opção é a mais provável.

Embora tenha todo esse reconhecimento de uma obra polêmica, “Último Tango em Paris” parece envelhecido artisticamente e com um desfecho onde Jeanne age de forma contestável (e o título passe a ter sentido). Mesmo que apresente bons momentos do ponto de vista narrativo, a direção do mestre Bertolucci alcançou uma evolução magnífica depois da obra, o que deixa esta mais lembrada pela trilha sonora inesquecível do saxofonista Gato Barbieri e na apreciação que abriu esse texto: que é o talento de Marlon Brando. Apenas na cena em que ele conversa com sua esposa já no caixão já é suficiente para ter a certeza de que o cara foi um dos maiores atores de sua época. E isso se faz incontestável.

6 comentários:

  1. Acredita que nunca vi? E não imaginava que continha tudo isso, alguns textos que li tentaram reduzir todo esse peso sexual trazido por Bertolucci, que você explorou bem em seu texto.
    Abraços.

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  2. Sempre revejo "Último Tango em Paris", é um dos únicos filmes que realmente consigo ver sem me cansar. Creio que é pelo fato de sempre perceber algo a mais a cada nova revisão. Ainda penso muito no desfecho final, aida hoje acho bacana, mas não nego que eu ache um tanto desconexo. Se terminasse com os dois durante o Tango seria mais bacana. Se bem que, perderia um pouco da graça não é mesmo? rs

    Concordo contigo: Marlon Brando é um dos melhores atores desde sempre. Excelente em todos os sentidos!

    []s

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  3. Cara, amo esse filme. Super momento de Bertolucci e a Schneider era muito interessante.
    Abração e apareça,

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  4. É um bom filme, sim, ainda mais pela atuação de Brando. Mas, também acho que o filme tenha envelhecido e que da metade pro final ele caia um pouco. Mas, ainda assim, a boa abordagem sexual prevalece e é instigante. Mas, hoje em dia há mais filmes por aí bem mais ousados e mais fortes, até mais excitantes que este. Fazem da tal cena da manteiga nada que um mero atrativo...coisa boba.

    abraço

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  5. No final da contas, o filme envelheceu... Aquilo que chocou o mundo em 1972, não tem o mesmo impacto hoje.
    Mas o monólogo de Brando no caixão da esposa suicida vale todo o filme.
    Portanto, continua indispensável.

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  6. Acho teu comentario interessante, porém, no parágrafo final você amostra ser escravo de seu tempo, valorizando mais outras obras do Bertolucci, e criticando o final...Ser que você entendeu o films, out só ficou fascinado, e nem save porque? De to as maneras é válido, espero, no futuro, você assista outras vezes o films, irá descobrendo que retrata muito mais do que pens hoje, e, sobretudo, é um exercício artístico sucedido como poucos tem o cinema desde que foi inventado. Gerardo Millone, desde Rio de Janeiro. 8 de abril de 2012

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