quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ligações Perigosas [1988]


(de Stephen Frears. Dangerous Liaisons, EUA, 1988) Com Glenn Close, John Malkovich, Michelle Pfeiffer, Swoosie Kurtz, Keanu Reeves, Uma Thurman Cotação: *****

“Ligações Perigosas” apresenta um jogo perverso: o da sedução. São raras as vezes que tramas que colocam o cinismo de seus personagens em primeiro lugar não caiam num bizarro jogo de situações forçadas. Mas nesse filme de 1988, o primeiro do inglês Stephen Frears em uma produção americana, serve como exemplo para mostrar como o cinismo pode servir como componente para rasgar elogios a uma obra que apresenta uma boa trama e um elenco formidável. Em especial John Malkovich e Glenn Close, que apresenta um dos seus maiores trabalhos no cinema, encarnando uma personagem única, capaz de vociferar uma única palavra - “war” - e torná-la uma das melhores coisas do filme.

Na França, em meados do séc. XVIII, a Marquesa Isabelle de Merteuil (Close) faz um trato com seu ex-amante, o sedutor Visconde Sébastien de Valmont (Malkovich). A proposta é a conquista de Cécile de Volanges, uma virgem que está prometida a outro ex-amante de Isabelle. Julgando ser uma tarefa fácil para ele, já que é um dos maiores galantes da região conquistando uma garota virgem que será tomada pela curiosidade, Visconde propõe algo ainda maior para sua comparsa: conquistar a bela Madame de Tourvel (Pfeiffer), uma dama casada e devota aos bons costumes. Isabelle aceita a contra-prosposta, mas com uma condição: ele deverá provar o envolvimento com Madame Tourvel por escrito. O que ele não esperava é que se apaixonasse perdidamente, e nesse jogo de sedução, onde é permitido quase tudo, muita coisa poderá acontecer.

O roteiro de Christopher Hampton, baseado na magnífica obra “Les Liaisons Dangereuses”, do francês Choderlos de Laclos (1741-1803) é sem dúvida o principal responsável pelo charme do filme, que é capaz de despertar cada vez mais a atração dos que presenciam as ardilosidades da dupla Marquesa de Merteuil – Visconde de Valmont. O livro causou escândalo quando foi lançado em 1782. Dizem que era o livro de cabeceira de Maria Antonieta. No cinema, foi exaustivamente usado como obra fundamentada, tendo além de “Ligações Perigosas”, o teen movie “Segundas Intenções” (1999) com Sarah Michelle Gellar e Reese Witherspoon, como filme mais conhecido do grande público, mas com uma linguagem incomparavelmente mais atual e livre.

As melhores cenas de “Ligações Perigosas” estão nas confabulações entre os personagens de Glenn Close e Malkovich, sem dúvidas. Ele, liberto de qualquer inibição, foi uma escolha acertadíssima para o papel do irresistível galã. E Close, mais bonita que o convencional, embora com o mesmo rosto capaz de seduzir e assustar ao mesmo tempo, nos traz cenas ótimas, algumas até cômicas, com suas caras e bocas, e falas completamente espirituosas e irônicas (“A vergonha é como a dor. Só se sente uma vez”). Uma personagem que representa como ninguém a ociosidade dos abastados da França do séc. XVIII. Afinal, se havia uma coisa que fez Laclos chocar um país inteiro, certamente não foi por conta de seu teor sexual, mas como ele mostrou um lado calculista de uma integrante da classe burguesa. Close, como se não bastasse, apresenta um final único, num desfecho que não tem outro, SÓ DÁ ela.

“Ligações Perigosas” envelheceu um pouco, é verdade. Possui o estilo inglês completamente aceitável, até porque é uma produção ligada ao tratamento britânico, e isso não está nem perto de ser algum demérito. Mas por ser tecnicamente correto demais, confirma-se assim sua maneira, digamos, mais acadêmica de se fazer cinema. Seria hoje, possivelmente, um candidato à altura para "O Discurso do Rei", tendo em mente que “Ligações Perigosas” foi lançado há pouco mais de vinte anos. Logo, é o filme excelente para o seu tempo.

4 comentários:

  1. Eu até agorasó vi a versão de 99. Filme que tenho muito apreço. O que mais me motiva a conferir logo esta obra é justamente a presença de Close, quem assiste só rasga elogios para a performance dela aqui. Prciso ver urgentemente!

    Abs.

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  2. Grande filme e o melhor momento de Glenn Close no cinema. Até as fraquinhas Pfeiffer e Thurman estão bem.

    O Falcão Maltês

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  3. Já ouvi falar desse filme. E acho até impossível um elenco desses desapontar, vou procurá-lo.
    Abraços.

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  4. Este é um dos poucos filmes que não envelhecem nunca. Sou fã desta que pra mim já se tornou um Clássico. O figurino, o elenco, o roteiro e todo o conjunto desta filme. Acabei de fazer uma postagem em meu blogger deste belo longa. Parabéns pelo blogger. Um excelente conteúdo posso encontrar, aqui. Seguindo...

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