quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Discurso do Rei [2010]


(de Tom Hooper. The King's Speech, Reino Unido, 2010) Com Colin Firth, Helena Bonham Carter, Derek Jacobi, Guy Pearce, Geoffrey Rush. Cotação: ***

Eu tenho a clara consciência de que todos os filmes indicados ao Oscar não estão ali por acaso. Sim, todos tiveram a pretensão de estarem lá, até porque se inscreveram para tal. Seja por idealização dos realizadores ou da própria distribuidora, alguns filmes vestem uma campanha muitas vezes incômoda pelo fato de ser descarado. "O Discurso do Rei" é um filme encomendado não só para Oscar, mas para qualquer outra premiação de cinema tão comum nesta época do ano.

Centrado na figura peculiar do rei George VI (Colin Firth), pai da Rainha Elizabeth, "O Discurso do Rei" narra, através de vários anos, o processo de ascensão de um homem aterrorizado pela sua incapacidade de discursar. Em 1925, quando ainda era Duque de York, ele chega a interromper suas falas  simplesmente por sentir-se travado. Sua esposa Elizabeth (Helena Bonham Carter), percebendo o constrangimento do marido e temerosa pela situação de escárnio que ele poderia vir a enfrentar, parte em busca de profissionais que possam auxiliá-lo.

Após algumas tentativas fracassadas, ela chega ao consultório de Lionel Logue (Geoffrey Rush), um ator fracassado que se aproximará de Bertie – George VI, sabendo que essa será a principal maneira de curá-lo. Após a morte de seu pai, seu irmão David sobe ao trono, mas, por querer casar-se com uma americana já divorciada outras duas vezes (ato condenável pela Igreja), ele se vê obrigado a abdicar, deixando assim o trono para George. Durante muitos anos, a amizade entre George e Lionel perdura, mas a ascensão de Adolf Hitler e a aproximação de uma inevitável Segunda Guerra Mundial, farão com que a Inglaterra careça de uma liderança segura, algo ainda mais difícil para um rei tão complexado por conta de seu discurso deficiente.

A história é realmente interessante. Relatar a vida de um homem tão poderoso da família real com tantos receios e dificuldade de discursar, que como se deve saber, é uma habilidade primordial para se obter sucesso na carreira política desde a Antiguidade. George VI sempre foi atormentado pelo fantasma da gagueira. Desde pequeno, se via recebendo gracejos do irmão, sendo instigado pelo próprio pai, achando que dessa maneira ele poderia falar normalmente. Ou seja, uma carga de trabalho emocional que qualquer ator poderia sonhar em interpretar. E esse trabalho ficou a cargo do competente Colin Firth.

Colin, que ano passado fez um trabalho esplendoroso em "Direito de Amar", vem se confirmando como um dos melhores atores britânicos dessa atual safra. Sério, ele compõe seu personagem de maneira exemplar, sem parecer que fora um esforço tão suado - o que certamente deve ter sido. Geoffrey Rush, sem nenhuma surpresa, faz um tipo mais cômico, subvertendo a figura imperial do protagonista e mantendo um ar muitas vezes irônico que ele faz muito bem. Já a exótica Helena Bonham Carter, figura carimbada em filmes excêntricos, como os de seu marido Tim Burton e outro nome presente nas indicações que o filme anda recebendo, se mantém apenas correta, sem grandes cenas de destaque, tampouco momentos inspirados.

A direção do ainda pouco conhecido Tom Hooper, mesmo se saindo bem com suas  tomadas ousadas, se atentando a grandes ambientes (boa parte do filme se passa em lugares fechados) e grandes corredores, se mantém coesa por boa parte da produção. Pode alcançar notoriedade, mas é certo dizer que existe todo um trabalho de equipe técnica para chegar ao tal resultad, principalmente no que diz respeito a trilha sonora bem desenvolvida e a ambientação bem comportada, embora previsível.

Contudo, o grande problema de "O Discurso do Rei" é que ele é redondinho demais. Tudo bem que no ato final as coisas se tornem mais intensas, e o público é sempre levado ao grande momento de torcer pelo rei. Mas isso é resultado de um processo que vai sendo arrastado ao longo de todo o filme, e conseguir isso aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo pode até ser visto como uma virada para muitos, mas para mim, se trata de uma proeza conseguida após várias tentativas vãs.

O filme vale mais pelo trabalho da dupla Colin- Geoffrey e para prestigiar a boa forma do cinema britânico. Certamente será muito agraciado na Academia, pelo simples fato de ser PARA o Oscar.

Um comentário:

  1. O filme em si, não despertar muito o meu interesse, mesmo gostando bastante de cinebiografias. Mas me parece uma boa produção além de ter Colin em mais uma ótima atuação. Mesmo não tendo visto ainda, torço pelo ator! hehehe

    ResponderExcluir