segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Toy Story 3 [2010]


(de Lee Unkrich. Idem, EUA, 2010) Com vozes de Tom Hanks, Tim Allen, Joan Cusack, Ned Beatty, Don Rickles, Michael Keaton. Cotação: *****

Uma animação eficaz é aquela que, além de comportar a premissa que a indústria espera (que é divertir o público infantil, e por tabela, também o adulto), consegue transpor uma história e se tornar um filme envolvente em todos os aspectos, seja numa gama de utilidades gráficas e brincar com a arte do Cinema, como também fazer com que os espectadores embarquem numa verdadeira experiência sentimental que envolve a nostalgia, e resgata, com sucesso, a nossa alma aventureira e pueril. Isso é "Toy Story 3".

15 anos após o estrondoso sucesso "Toy Story", que dividiu o trato da Pixar, o boneco Woody agora vive com seus amigos num baú. Andy, a criança dona dos brinquedos agora está com 17 anos e prestes a ir pra faculdade. De acordo com o costume americano, ele tem que desmontar o seu quarto e decidir o que vai acompanhá-lo para a vida universitária, o que vai para o sótão, o que vai ser doado, ou na pior das hipóteses, vai para o lixo. Com a tarefa difícil de desvencilhar-se de sua infância, ele escolhe Woody para ir junto com ele para a faculdade, enquanto os outros (a vaqueira Jessie e seu cavalo, o Sr. E Sra. Cabeça de Batata, o cofre-porquinho Hamm, o tiranossauro Rex, o cachorro Slinky, os pequenos alienígenas e até o corajoso Buzz Lightyear) são escolhidos para ficar no sótão. Mas por engano, eles vão parar no lixo, e numa tentativa de fuga, vão parar numa caixa de doações para a creche Sunnyside. Mas Woody tenta a todo custo fazer com que seus amigos voltem para Andy.

Sunnyside, a priori o lugar ideal para os brinquedos, já que são utilizados por crianças gerações após gerações, é um interessante ambiente a ser discutido. Apresentado pelo Urso Lotso, o lugar é, segundo ele mesmo diz, um paraíso, pois “não ter dono, significa não sofrer mais”. Porém, o lugar claro, calmo, espaçoso e apaixonante, num segundo momento, se torna assombroso. E essa mudança é incrivelmente bem trabalhada pelo diretor e toda sua equipe técnica.

O urso Lotso, antes um anfitrião tão cativante, dá lugar a figura de um ditador tirano, capaz de torturar aqueles que perturbam a ordem do lugar, corrompem a massa e tentam escapar de seu regime político. Claro, isso para crianças não passa de um processo de apresentação de um vilão. Mas olhando com visão mais "adulta", a situação é uma verdadeira crítica mordaz a esse sistema, tudo isso com uma tranqüilidade soberba e não esquecendo o tratamento lúdico da coisa toda. Fazer isso trabalhando em cima de critérios tão bem respeitados é um feito em tanto.

Sem se entregar ás novas tecnologias como o 3D (ultimamente, isso tem se tornado referência de qualidade, mas sabemos que ver um filme em terceira dimensão não é garantia de coisa alguma), John Lasseter e sua turma não poderia decepcionar, nem mesmo no terceiro filme de uma franquia tão consistente (os outros dois filmes são fantásticos). O fantasma do terceiro episódio não chegou até aqui. Lasseter, que dirigiu os outros dois filmes – aqui ele encabeça o roteiro – passa a direção para Lee Unkrich, responsável por outras maravilhas de animação como "Procurando Nemo" e "Monstros S.A.", além de também ter contribuído com o segundo "Toy Story".

O xerife Woody e seu grande amigo astronauta Buzz Lightyear continuam demonstrando coragem e extrema lealdade. São ainda capazes de protagonizar aventuras com incríveis ares de renovação, mas sempre mantendo aquela sensação de “matar saudade dos velhos amigos”. Mas sua exposição só poderia ser ameaçada por uma dupla de destaque. Barbie e Ken, o casal de brinquedos mais rico da indústria, dono de um verdadeiro império com mansões, academias, múltilplos talentos e detentores de um guarda roupa invejável. São deles as melhores cenas (depois das que tratarei a seguir) e boas tiradas, ironizando a figura do metrossexual e da mulher linda, porém pouco inteligente, capaz de soltar pérolas humanistas como “A força do direito deve superar o direito da força”. Impagável.

Ademais, o grande triunfo de "Toy Story 3" vem com o resgate da infância. Fazem isso sem parecer um processo infeliz de retardamento. A Pixar é mestre em nos fazer emocionar de forma orgânica, mesmo trabalhando com um visual digitalizado. Todos sabem que se despedir da nossa infância não é algo fácil de ser feito. Temos em Andy, cujo crescimento é visto através de arquivo pessoal, um exemplo de como nos fazer essa ligação de correspondência. Identificamos-nos pelo elo dessa despedida de uma época onde nossos brinquedos era nossa comunicação com a nossa fantasiosa imaginação.

Não saberia dizer ao certo se, no atual processo de mecanização dos brinquedos atuais, a carga emocional do filme não funcionaria com as crianças de hoje. Eu diria que não. É presente a crítica que "Toy Story 3" faz de que, embora os brinquedos de hoje não sejam assim tão artesanais, o futuro de todos eles serão certamente no fundo de alguma caixa, doados para quem vai aproveitá-los melhor, ou até mesmo no lixo. Mas para quem estiveram ligados a eles, não se trata de desapego material, e sim de lidar com o fato de que uma nova etapa da vida está por vir.

"Toy Story 3", sem dúvida o melhor da trilogia, é feliz em tudo aquilo que um bom filme familiar poderia proporcionar.

2 comentários:

  1. Não consigo definir o que é "Toy Story" pra mim. A terceira continuação foi mesmo uma surpresa. Impressionante como os três filmes foram bons, conseguindo prender o público.

    Muito bom isso!

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  2. Levando em conta somente o fator emocional, esse é pra mim o melhor filme de 2010. Vi 3 vezes no Cinema, e saí diferente das 3.

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