sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

127 Horas [2010]


(de Danny Boyle. 127 Hours, EUA, 2010) Com James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Sean Bott. Cotação: *****

Para quem ainda não sabe de quem se trata Aron Ralston, tentarei resumir em breve introdução. Aron é um destacável alpinista americano que ganhou fama internacional em maio de 2003, ao se apresentar a público como sobrevivente de uma situação desesperadora. Ao fazer sua habitual exploração entre as grandes rochas do deserto de Utah, ele ficou com o antebraço direito preso a uma rocha. Passadas 127 horas de desespero e sem ter mais outra saída em mente, ele toma a corajosa atitude de amputar seu braço e ainda enfrentar o deserto em busca de socorro.

Tudo o que contei nesse primeiro parágrafo pode não ser novidade para alguns. Eu mesmo já conhecia a história desse rapaz ao assistir uma reportagem especial sobre ele no Fantástico naquele mesmo ano, e a coragem desse desbravador foi tamanha que não me esqueci de seus relatos e até hoje lembro perfeitamente da matéria. É quase impossível não se questionar sobre o que faríamos numa situação semelhante. Pode parecer loucura se imaginar fazendo uma auto-amputação, mas talvez loucura maior seria ter que esperar a morte chegar numa situação como aquela. Só frisando que, para quem ainda não conhecia a história, desconhecer esses fatos pouco irá mudar a narrativa. Até mesmo porque o filme parece às vezes partir do pressuposto que saibamos o que houve com o tal Aron Ralston, que relatou tudo em seu livro "Between a Rock and a Hard Place", de 2005, do qual "127 Horas" foi baseado.

Acostumado a praticar canyoneering – esporte que exige conhecimento avançado de rafting, rapel, entre outras atividades – em um Canyon isolado de Utah, o jovem Aron (James Franco) parte para Blue John Canyon num sábado sem avisar ninguém. Sendo um apaixonado por tudo que a natureza é capaz de oferecer e usufruindo da total liberdade em um lugar que parece ser só dele, Aron não se limita frente à imensidão desértica. Ao avistar duas garotas perdidas – Kristi (Kate Mara) e Megan (Amber Tamblyn), ele até as auxilia a encontrar uma caverna que esconde um lindo rio subterrâneo. Mas após esse encontro passageiro, ao que pareciam suas últimas pisadas de curiosidade, ele cai numa fenda e uma rocha cede, prendendo seu antebraço e o deixando imóvel por cerca de cinco dias.

O grande mérito de "127 Horas", que garantiu minha predileção ao considerá-lo um dos grandes filmes do ano, foi por trabalhar uma proposta que parecia manjada, mas sem cair no esperado. Mesmo que o filme se passe quase totalmente num mesmo lugar apertado e um homem imobilizado, se engana quem espera um filme pouco ágil. Danny Boyle ("Quem Quer Ser Um Milionário", "Cova Rasa") encontra um jeito de manter a história segundo os seus moldes, iniciados com a linguagem de vídeo-clipe e cenas bem originais.

O personagem irá passar por todos os estágios possíveis que qualquer pessoa numa situação similar poderia passar. Raiva, ignorância, aceitação, tentativas vãs de se livrar daquilo que impede sua passagem livre. Toda essa situação chega a ser irônica. Boyle vai se utilizar de sua incrível capacidade de formular tomadas ágeis para elevar o personagem numa série de questionamentos sobre a culpa, a vida, a beleza, enfim, devaneios que se misturam às cenas de realidades, memórias, fantasias, ou até mesmo, premonições. É tudo subsequente, tornando "127 Horas" em um filme rico, mesmo que o ambiente seja estipulado por uma fenda e tenha apenas um único ator em primeiro plano em praticamente 90% da projeção.

James Franco, de vilão da franquia "Homem Aranha" para trabalhos mais sérios e com chances maiores de devido respeito, consegue alcançar êxito em um trabalho soberbo. Enfrentar um desafio desses é de uma responsabilidade que nem todos teriam cacife para arcar. O desespero, os momentos mais introspectivos, sua forma de comunicação com a câmera portátil, e em conjunto, toda a tragédia foi transportada com incrível veracidade pelo notável ator, que até pouco tempo atrás não tinha em cima de si o aproveitamento que aqui em "127 Horas" ele pode comprovar. É um filme que definitivamente mostrou do que ele é capaz.

O falatório que vinha sendo feito em relação aos desmaios em exibições do filme, eu acredito que não passa de marketing ultrapassado. Não é indicado e não chega a ser justo que um trabalho tão soberbo de um diretor incrível como Danny Boyle acabe sendo reduzido a um filme de extrema angústia. Não poderia deixar de se atentar que seus momentos angustiantes existem (claro que existem), mas não chegam a tal ponto de fazer pessoas perderem seus sentidos. Um efeito desses só seria perdoável se os desmaios fossem causados pela visão maravilhada frente à qualidade do filme sendo vista (Exagero? Talvez), do contrário, soa como uma perda por não conferir um dos filmes mais agradáveis do ano.

3 comentários:

  1. Pocha, tava desanimado com este filme. Não sei porque, ao menos pra mim, parecia ser um filme de uma cena só. Seu texto mudou minha 'expectativa' em torno do longa!

    Esperando ansiosamente, hehehe

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  2. James Franco é a melhor coisa do filme, se não fosse ele, 127 Horas não teria a força que tem.

    Aliás, 127 Horas teria mais força se não fossem as diversas interrupções do Danny Boyle com medo de fazer um filme monótono de um cenário só.

    Mas 127 Horas tem o mérito de fazer pensar e muito.

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  3. Alguns apontam que essa abordagem frenética que o diretor dá à narrativa tira muito do que o filme poderia ser. Mas eu discordo e também compartilho da sua opinião, com a qual a maioria que gosta da obra concorda. Vejo essa direção enérgica funcionando de duas maneiras, que são até indissociáveis: como uma lógica à personalidade aventureira e agitada do protagonista e como uma estratégia para evitar que a narrativa caia eventualmente no aborrecimento. O filme bem que poderia ser um drama pesadíssimo, arrastado, enfadonho; como está, no entanto, parece-me fazer mais jus à jornada e ao próprio Ralston. 7/10

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