quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Origem [2010]


(de Christopher Nolan. Inception, EUA, 2010) Com Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Tom Hardy, Ken Watanabe, Dileep Rao, Cillian Murphy, Marion Cotillard, Pete Postlethwaite, Michael Caine. Cotação: *****

Sabe aqueles filmes tão, mas tão complexos que qualquer momento de dispersão na história pode fazer com que o entendimento dele seja ameaçado? Pois é, "A Origem" é assim. E avisado sobre essa complexidade toda, assisti preparado para quase 2h30 de duração em meio a conceitos, regras de como lidar com tantas informações em tão pouco tempo e particularidades de um roteiro soberbo. Mas confesso, logo na primeira parte da projeção, todas as peças do jogo foram dadas de maneira satisfatória. O que é exigido a partir daí é dedicação por parte do espectador, e principalmente, para o fã de ficção científica, que é o público que mais vai se deliciar nessa aventura.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) não é um ladrão convencional. Juntamente com seu comparsa Arthur (Joseph Gordon-Levitt), ele põe em prática seu talento para invadir a mente das pessoas e tomar posse de idéias ocultadas no profundo subconsciente de suas vítimas, que para melhor efeito de seu trabalho, se encontram dormindo. Mas a proposta do milionário Saito (Ken Watanabe) garantirá a saída da vida de criminoso e seu retorno para sua casa nos EUA, onde se encontram seus filhos após a perda da mãe, Mal (Marion Cotillard). Essa última tarefa seria, ao invés de roubar, implantar uma idéia (uma "inception", daí vem o título original, traduzido aqui de maneira discutível), fazendo com que o herdeiro Robert Fischer (Cillian Murphy) divida o império de seu pai recém-falecido (Pete Postlethwaite) e deixe de ser uma ameaça corporativa para Saito.

Mas para conseguir êxito nessa tarefa, é preciso uma equipe incrivelmente capacitada para tal. É aí que Cobb vai até Miles (Michael Caine), que indica a estudante de arquitetura Ariadne (Ellen Page) para projetar toda a parte física dos sonhos fac-similados (os sonhos do invadido e dos invasores são compartilhados). A equipe ainda conta com o solícito Eames (Tom Hardy), que também hospedará os comparsas em seu sonho, e o químico Yusuf (Dileep Rao), responsável pela sedação de todos.

Maiores particularidades da história devem ser contadas no próprio filme para que se mantenha a mágica da descoberta de que Christopher Nolan é uma mente brilhante. Como eu disse, todos os ingredientes são dados, basicamente na conversa inicial entre Cobb e Ariadne (é ela quem representa a curiosidade de quem assiste, então, atente-se nisso!). Nolan, por sinal, não satisfeito em escrever um roteiro que por si só já é uma grande sacada, dirige seu longa de forma impecável, fazendo com que toda a sua equipe técnica tenha sua fatia de importância igualmente exemplar.

A trilha sonora bem encabeçada pelo experiente Hans Zimmer (geniais as inserções de "Non, Je Ne Regrette Rien", de Edith Piaf e transformá-la como parte de um processo onírico), a fotografia que consegue impressionar mesmo não sendo um filme que tenha uma premissa intencionalmente artística (no sentido de arte fotográfica), e a mais competente dessa parte técnica, a edição. Incrivelmente bem trabalhada pelo montador Lee Smith (com quem Nolan veio trabalhando na franquia de "Batman"), ele foi capaz de exercer a parte mais difícil da obra: dar visão de conjunto em um processo onde os personagens se encontram em quatro níveis de sonho – mais a realidade – e respeitar de forma coerente o “despertar dos sonhos” no tempo estabelecido de cada um deles. Trabalho de gênio.

Isso sem falar, é claro, no trabalho de efeitos visuais, que nos trouxe euforia com os cenários oníricos desintegrando-se e as lutas com ausência de campo gravitacional!!! Só conferindo para entender a magnitude do que estou falando.

Quanto ao polêmico final, vos falo sem querer entregar nada de revelador. Em dado momento, o discurso que a personagem Mal, onde ela diz que a realidade em que se encontra com o marido não passa de imagens fac-símiles, que nem eles nem o mundo físico são reais, e que sua morte seria capaz de elevá-los para a realidade ideal, soa como um verdadeiro discurso platônico, onde o filósofo é aquele único capaz de ver e entender o mundo das idéias, que para eles, formam a realidade primeira. Some isso ao totem (objeto guardado por aquele que sonha para garantir se está sonhando ou não) e terás uma leitura paralela. Bem, se as suspeitas de que Nolan implanta em nós essa idéia forem certas ou não, ao menos não deixa de ser uma conclusão possível.

"A Origem" é um filme inteligente para pessoas que querem pensar ao mesmo tempo em que se divertem.

2 comentários:

  1. Um filme sensacional feito para pessoas inteligentes que gostam de pensar. Para o resto é um chatisse, tanto que não fez tanto sucesso entre o público brasileiro, mais acostumado com BBB.

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  2. Uma aula de montagem, roteiro e direção. Simples assim!

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