sábado, 19 de março de 2011

Não Me Abandone Jamais [2010]


(de Mark Romanek. Never Let Me Go, Reino Unido, 2010) Com Carey Mulligan, Andrew Garfield, Izzy Meikle-Small, Charlie Rowe, Ella Purnell, Charlotte Rampling, Keira Knightley. Cotação: ***

Ao procurar informações sobre "Não Me Abandone Jamais" antes de assisti-lo, eu percebi que descobria pouca coisa sobre o enredo. Os motes eram rasos e poucas informações eram dadas. Fui assisti-lo quase às cegas e nem imaginava que saber pouco sobre a história foi muito benéfico, tanto para as surpresas que tive nas revelações, quanto no surpreendente lirismo da obra que é talvez uma das coisas mais bonitas de se ver quando estamos fartos de filmes pretensiosos que dão mais valor à forma do que conteúdo. E caso queiram ir ao cinema para ver algo mastigado e leve, "Não Me Abandone Jamais" deve ser sua última opção.

Justamente por também não querer revelar muita coisa sobre a história, devo ser o mais superficial possível ao falar sobre a sinopse. Basicamente fala a história de Kathy (Carey Mulligan), uma mulher que nos conta sua infância num colégio interno misterioso. Sem saber do que se trata aquele lugar que guarda tantos segredos e impõe à saúde das crianças em primeiro lugar, ela se mantém sem se questionar, assim como todos os seus colegas. Ela se apaixona por Tommy, um novo garoto que possui constantes acessos de raiva (Andrew Garfield, na fase adulta), mas ele acaba se envolvendo com a melhor amiga de Cathy, Ruth (Keira Knightley, na fase adulta). Ao longo dos anos, acompanhamos a amizade dos três, que possuem uma causa nobre e imposta em comum, que contempla, acima de tudo, o valor da vida num contexto sobre avanços científicos.

É importante também saber que "Não Me Abandone Jamais" não é um drama vazio. Ele apresenta inúmeras questões filosóficas que poderia muito bem servir de base para um bom estudo teórico, e para quem quiser se aprofundar, o filme é baseado na obra homônima de Kazuo Ishiguro, que já se encontra na minha listinha de livros a serem lidos muito em breve. No começo, eu julgava se tratar de um romance meloso, drástico e de um final extremamente previsível. Engano meu. Desde o começo, o mistério em torno do conceito de “Original”. “missão” e “Possíveis” já demonstram que se trata de um drama calcado em uma ficção científica. Se visto como um drama, o filme é pesado. Tão denso que leva à exaustão. Como ficção científica, a coisa já é mais satisfatória, nos deixando maravilhados com a inteligência do roteiro.

E por conta desse duplo tratamento, o lado dramático é o que mais pesa sobre as revelações que serão feitas. O filme, caso eu conhecesse os detalhes do conteúdo, certamente me cansaria bem mais do que me cansou. É contemplativo em alguns momentos e exige do espectador uma boa vontade especial para assisti-lo. Os atores estão ótimos. Keira está surpreendente ao ponto de considerá-la uma atriz disciplinada, e está diferente, dando mais valor à caracterização do que a sua beleza indiscutível. Carey Mulligan ("Educação") e Andrew Garfield ("A Rede Social"), dois dos novos rostos que se deve prestar atenção, estão devotos e impressionantes, mesmo que em alguns momentos pareçam over demais (numa obra como essa, a linha é tênue). A fotografia de Adan Kimmel ("Capote") é belíssima, capaz de ser um dos grandes responsáveis pelo clima ultra depressivo do filme.

Não se trata de um programa para a família. "Não Me Abandone Jamais" deve ser, acima de tudo, um filme feito para pensar e lastimar.

5 comentários:

  1. Olha, resolvi ler pouco do teu texto já que estou muuuito afim de conferir este filme. Tudo nele me chama a atenção, desde o elenco ao saber que é uma mistura de ficção-científica com romance, rs [é. isso eu sei!].

    Estou torcendo para que chegue nos cinemas de minha cidade! abs.

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  2. Então, gostei! A mistura de gêneros é muito interessante MESMO. Saí do filme emocionado e pensando muito sobre.

    Achei a Carey Mulligan muito bem e a Keira também. Só o Andrew que começa estranho mas nas cenas finais surpreende.

    No terço final ele apela um pouco pro dramalhão, mas ainda assim, a história como um todo compensa.

    Escrvi um texto bem curto só pra não dar spoilers. Mas com certeza é um filme bom de se discutir.

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  3. Ola Adecio!

    Parabens pelo blog, gostei mto desse se texto.

    Não me abandone jamais é pra se matar com faquinha de rocambole depois de assistir, rs. É denso e melancólico e qdo acaba vc fica refletindo sobre questoes da evolução e a humanidade.

    E a cena de Tommy saindo do carro? (chorei mtoo nessa parte, rs).

    Posso linkar seu blog lá no meu?

    Grd abraço!

    Natalia Xavier

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  4. Este filme é ótimo. Como você, fui assistir sabendo bem pouca coisa a respeito, o que COM CERTEZA colaborou para minha apreciação.

    A atuação dos três é fantástica, mas eu não acho que houve um over acting não.

    A fotografia realmente colabora para o clima melancólico e é uma prova do belo trabalho técnico aqui.

    No geral gostei do filme um pouco mais do que você.

    Abraços.

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  5. Um filme avassalador.Me deixou sem fôlego. Não esperava nada e saí do cinema quase sem acreditar que por pouco deixo escapar essa obra prima.O filme me deixou na tensão de uma corda de violino o tempo todo, pelo enredo, pela fotografia, pela direção impecável que fez todos atuarem magistralmente. Amplo e profundo estudo da sociedade e da alma humana.

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