quarta-feira, 2 de março de 2011

Bruna Surfistinha [2011]


(de Marcus Baldini. Idem, Brasil, 2011) Com Deborah Secco, Cassio Gabus Mendes, Drica Moraes, Fabíula Nascimento, Cris Lago, Erika Puga. Cotação: ***

Uma das coisas que um cinéfilo que se preze não deveria ter é o tal preconceito que muitos possuem. Muitas vezes surge naturalmente, fazendo com que muitos acabem criticando determinadas obras sem nem ao menos terem as visto. Os alvos são quase sempre os filmes nacionais direcionados ao grande público, e por um motivo (dentre outros) até coerente: o tratamento novelístico. Contudo, "Bruna Surfistinha", além de surpreender por não se render a esse aspecto, ainda conta com um elenco fabuloso, com destaque à estrela Deborah Secco, que já desponta um marco na sua carreira com esse filme.

Baseado livremente no best-seller nacional "O Doce Veneno do Escorpião", "Bruna Surfistinha" retrata a ascensão midiática de Raquel Pacheco (Deborah Secco), antes uma garota da classe média alta paulistana, estudante de um famoso colégio nobre de São Paulo, que decide fugir da casa dos pais para seguir a vida de garota de programa no privê de uma cafetina exploradora (Drica Moraes). Convivendo com outras prostitutas, ela percebe que seu “talento” natural está muito além do pouco cobrado por ela naquele ambiente. Em companhia de boas e más companhias e um empreendedorismo peculiar, ela decide trabalhar por conta e narrar sua vida em um blog que a tornou a garota de programa mais famosa do Brasil.

A vida de uma profissional de sexo por si só já detém a curiosidade de muita gente. Seu sucesso na internet e nas páginas de seu livro demonstra que a vida de Raquel, de maneira geral, não é diferente. Apesar de se tratar de uma prostituta por opção e começar a aflorar sua sexualidade de maneira gradual, sua história se torna um lugar comum quando defende que a vida “fácil” (de fácil não tem quase nada) é um poço que algumas mulheres caem e precisam ser regatadas um dia por um “príncipe” que vai tirá-la dali. E mais, a revolta da jovem Raquel nunca é explicitamente justificada, deixando a entender de maneira superficial que, por ser uma filha adotada e sua família não dialogar muito, é um indício de algo que ela precisa se libertar (?).

Mesmo com uma história tão batida e cheia de armadilhas, "Bruna Surfistinha" é bem empolgante na maior parte do tempo. O mérito? Os profissionais que trabalharam no filme, claro.

O diretor estreante Marcus Baldini demonstra uma incrível capacidade de entusiasmar com ótimas tomadas. Um exemplo é a forma até mesmo divertida que ele mostra o crescimento de Bruna no privê, com inúmeras passagens de clientes no ambiente de trabalho dela - um quarto pequeno e um colchão com lençóis que poucas vezes são trocados entre um programa e outro -. E ao apresentar o crescimento meteórico dela no mundo virtual, o trabalho gráfico é muito bem desempenhado.

O elenco é uma pérola. Além das presenças marcantes de Drica Moraes (sempre ótima) e Fabíula Nascimento (presente nas cenas mais divertidas), "Bruna Surfistinha" é a grande prova de fogo para Deborah Secco. Mais do que estar em plena forma (sua escalação foi discutível, porque convenhamos, a verdadeira Raquel Pacheco de bonita tem BEM pouco), Deborah está completamente liberta de sua canastrice noveleira, sendo capaz de dar veracidade interpretando, em um curto espaço de tempo, uma colegial tímida e revoltada, passando por uma ninfeta sedutora, até se tornar uma mulher realizada para cair no drama das drogas. E suas cenas de nudez e de sexo com os piores tipos masculinos – e é cada tipo! – nunca são forçadas e apelativas, embora tenha um teor sexual bem alto. É MUITO sexo.

Infelizmente, o trabalho destacável dessa equipe vai pelo ralo por conta de um roteiro frágil que vemos desmoronar aos poucos diante de nós. É como um castelo de cartas: ficamos impressionados com o feito no início, mas sabemos que basta uma pisada em falso e tudo vai abaixo. E isso acontece impiedosamente no terceiro ato, quando adentra no drama maior de Bruna, com tomadas de causar vergonha alheia. Fora alguns acontecimentos que se tornaram irrelevantes na tela, como o fato do ex-cliente e atual marido de Raquel ser casado quando a conhece e as peripécias dela em produções pornográficas, além de ignorar quase completamente sua família depois que ela sai de casa.

Mas no geral, "Bruna Surfistinha" diverte, tem bons momentos e não se atém no tratamento Globo de Produção no cinema. No máximo, uma grata surpresa.

9 comentários:

  1. Eu já estava doido pra conferir, após ler comentários tão entusiasmados, minha vontade apenas aumentou O/

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  2. Eu só me questiono o porque os filmes brasileiros só abordam um tema específico.
    Sexo ou violência.
    Parabéns pela sua crítica.

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  3. filme excelente, e vc tem razao muitas pessoas criticam o cinema nacional sem sequer assistir. é lamentavel.

    parabens pelo texto.

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  4. Olá. MUito boa sua crítica. O filme está de fato excelente. Gostei muito da atuação da Debora e a direção está otima..Deiferente do que o colega colocou ai em cima, o filme não fala de sexo. Pelo contrário, o sexo é o pano de fundo para uma his'toria moral muito bem embasada. Com grandes questionamentos e profunda reflexão. Claro, o corpo dela é explorado, mas ao meu ver, algo mais além do que sexo, como uma forma de mostrar e acentuar uma decisão tomada. A Bruna foi uma mulher corajosa, não por ser prostituta, mas por que conseguiu sustentar uma escolha de vida. Quantos de nós conseguimos isto de fato, sem nos enganarmos? fica ai o questionamento.

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  5. Mardem

    Obrigado pela visita!

    Bem, cinema nacional ainda é taxado dessa forma. É violência, seca, favela e muito sexo. Mas isso NÃO É exclusividade brasileira, é claro.

    Nesse filme, o sexo soou como um elemento, e não como uma premissa. Bruna é a figura central, e como se trata de uma garota de programa... o que se pode esperar? Sexo, oras.

    E você colocou muito bem quando diz que se trata de uma história moral (mas não assim tããão bem embasada, rs). Ao todo, a obra deve ser vista SEM esse preconceito que eu até citei no início da crítica.

    ^^

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  6. Paolo: E uma tremenda de uma vagabunda, infeliz, perdedora, que não estudou, por achar que vendendo o corpo traria dinheiro facil. Conseguiu e ainda teve uma ótima sacada em lançar um livro para ganhar mais R$.
    Já o filme, remake de alguns filmes nacionais, com uma atuação de debora secco sempre o aquela cara de confições de adolescente.. Cansada, parece que debora só atua sempre do mesmo jeito, tanto em novelas e filmes. Nota 5 para a ficção científica kkkkkkkk

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  7. Jr, teu blog é sensacional, parabéns mesmo - já te linkei ao meu, te sigo aqui e te sigo, também, no twitter, rs.

    Quanto ao post: Acredita que não pude conferir? Li o livro e confesso ter achado ridiculo, ainda mais que achei sem talento a escrita da tal Bruna. Confesso que meu interesse nessa produção que, felizmente, tem tido boas críticas, é quanto ao desempenho de Deborah Secco - gosto muito dela como atriz.

    Abraço!

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  8. Pôxa, será q assistimos ao mesmo filme?!

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  9. Não vi humanidade na Bruna do filme. Um ser humano sem humanidade, sem qualquer laço afetivo, não quis ter família, nem amigos, quiçá um cônjuge. Ela escolheu não ter ligação afetiva com ninguém em prol de uma suposta liberdade. Que tipo de liberdade ela queria? Liberdade financeira? Não. ela não queria liberdade financeira, ela queria a liberdade de optar em ser um não ser, já que ela tinha condições de viver só sem se prostituir. Ao optar ser Bruna ela quis se matar estando viva, servindo apenas de receptáculo de semem retido por preservativos.
    A Bruna do filme não faz parte da sociedade enquanto um ser social, mas somente como acolhedor peniano e nada mais, pois não integra a sociedade enquanto indíviduo ligado afetivamente ao outro.
    A Bruna do filme é tão repugnante quanto um psicopata assassino, tão asquerosa quanto um pedófilo tão perigosa quanto um terrorista.
    A prostituição deve ser compreendida mas não deve ser aceita e jamais ser trtatada com glamour do filme, assim como o homicídio pode ser compreendido,mas jamais pode ser aceito.
    Enfim... muita gente gostou do filme,mas não gostaria de ser filho da Bruna do filme.

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