sexta-feira, 15 de abril de 2011

Um Lugar Qualquer [2010]


(de Sofia Coppola. Somewhere, EUA, 2010) Com Stephen Dorff, Elle Fanning, Chris Pontius, Erin Wasson, Angela Lindvall. Cotação: *****

Podem falar o que quiserem, mas eu sou um fã confesso de Sofia Coppola. Posso perdoar até mesmo “Maria Antonieta”, que muitos se uniram na grande vaia que recebeu em Cannes em 2006. Dizem até que ela jamais alcançará novamente o reconhecimento que a elevou em “Encontros e Desencontros” (2003), se é que muitos reconheçam a qualidade deste filme. O fato é que em “Em Qualquer Outro Lugar”, Sofia se utiliza de boa parte dos ingredientes temáticos que utilizou nesses seus dois outros filmes, escrevendo e dirigindo uma obra que se compromete a discutir a descoberta de um "eu", feito por um astro inserido numa indústria que ela conhece como ninguém: a de Hollywood.

O ator de filmes de ação Johnny Marco (Stephen Dorff) está em fase de divulgação do seu mais novo filme. Hospedado num luxuoso hotel de Los Angeles, ele convive em meio a bebedeiras, festas e muitas mulheres. Aliás, ofertas por sexo casual é o que não lhe falta. Mas o que ele ainda não percebeu claramente é que uma vida desregrada o envolve de tal maneira que não lhe incomoda o fato de ser alguém que não sai de um ponto dado na vida (a metáfora com o carro na primeira tomada do filme é clara). Até que as visitas de sua filha de onze anos, Cleo (Elle Fanning) e seu crescente envolvimento com ela farão com que ele passe a analisar essas questões inerentes à sua existência. Entre idas à Itália para lançar seu filme e várias outras obrigações profissionais, Johnny começa, aos poucos, a perceber que, apesar de atarefado, sua vida está situada em um imensurável vazio.

O filme teve uma enxurrada de críticas o comparando a “Encontros e Desencontros”. São inegáveis as semelhanças, reconheço. Os dois retratam a apatia dos seus protagonistas, ambos famosos, tendo que lidar com o assédio de fãs e imprensas em países diferentes (um no Japão, outro na Itália), se envolvem emocionalmente por uma jovem que os farão olhar para si mesmos (um por uma desconhecida num hotel, outro pela filha) e estão também ambos situados na ociosidade, vivendo em hotéis cercado por pessoas, mas que dependendo da situação, estarão sozinhos e sem ter com quem contar.

Mas “Em Qualquer Outro Lugar” demonstra diferenças peculiares principalmente na mão profissional de Sofia, que está mais madura e compenetrada na desconstrução de seu personagem principal. As tomadas, embora continuem com seu retrato característico, estão mais capacitadas a levar os espectadores a inferirem o que está acontecendo. Não se trata de um mergulho complexo e psicológico do personagem. A leitura é facilmente alcançada porque Sofia faz com que sua câmera se torne presente nas cenas. Não é preciso muitos diálogos e ações se atropelando. Basta contemplar as posturas e as nuances dos personagens falarão por si só.

O elenco está absolutamente confortável em cena. É nítido. Stephen Dorff tem aqui a sua chance de ouro num papel de suma importância que ele nunca antes fez algo parecido. Por estar extremamente à vontade e não ser, profissionalmente falando, um ator muito empenhado, ele pouco investe ou se dá conta de sua importância nas situações, já que ele está presente em praticamente todo o filme (ao contrário do que acontece com Bill Murray, que dividia a responsabilidade com Scarlett Johansson em “Encontros e Desencontros”). Elle Fanning - irmã quatro anos mais nova de Dakota Fanning - é uma graça. Não chega a surpreender, mas também não compromete em nada, sempre bem entrosada com Dorff.

Abusando do charme do seu cinema, que já lhe é característico (apesar de ser ainda seu quarto longa), Sofia continua em alta comigo. Ela é uma das poucas diretoras americanas de sua geração que namora de forma convincente com o cinema europeu sem parecer ter saído de sua realidade. Por ter vivido sempre nesse nicho, Sofia já sabe como funciona o lado profissional e festeiro de Hollywood. Ironiza as pseudo-celebridades e a imprensa sempre muito previsível (ao mostrar numa coletiva um jornalista lançando a clássica pergunta “Quem é Johnny Marco?” feita para o próprio). Querendo ou não, a pergunta do cidadão colabora bastante para a grande questão do filme, que até termina de forma questionável, mas sem desmerecer esse mais novo e interessante filme de Sofia Coppola, ganhador do Urso de Ouro no Festival de Veneza do ano passado (uma vitória questionável por ter Quentin Tarantino, seu ex-namorado, como presidente do Júri).

Críticas de terceiros à parte, "Em Qualquer Outro Lugar" traz Sofia Coppola firme como uma profissional de talento inconfundível, que jamais se esconde atrás do seu sobrenome privilegiado.

2 comentários:

  1. Adecio, entendi cada mensagem que o filme quis trazer e achei válido as mensagens de Coppola. Mas, tudo pra mim, foi tão chato e monótono, um verdadeiro teste de paciência. Logo na primeira cena, já estava me perguntando se o filme estava acabando rs O filme é bom e tem imensas qualidades, apenas não obteve química comigo. Foi a mesma coisa que ver um idiota fazendo nada, apenas para chegar na solução que ele era mesmo um nada. hahaha

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  2. Também gosto de Coppola, mas acho os filmes dela incrivelmente tediosos. É um paradoxo, é monótono demais mas tenho prazer em ver, estranho não? Estou com Um Lugar Qualquer no computador há uns 4 meses, acho que vou conferí-lo agora.
    Abraços.

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