segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mildred Pierce [TV - 2011]


(de Todd Haynes. Idem, EUA, 2011) Com Kate Winslet, Brían F. O'Byrne, Melissa Leo, James LeGros, Mare Winningham, Guy Pearce, Evan Rachel Wood, Hope Davis. Cotação: ****

Já não basta ter Oscar, Globo de Ouro, BAFTA, SAG, etc. Kate Winslet, como convicta ambiciosa (no bom sentido) que sempre foi, quer ainda mais. Agora ela se lança na TV a frente de um projeto que confirma a pretensão de nossa Kate. “Mildred Pierce” é, acima de tudo, uma produção feita para ela brilhar, sendo auxiliada por um elenco também promissor. Tudo bem que é uma produção de época, baseada em uma obra literária importante para um contexto amargo aos americanos, e claro, selo HBO de qualidade. Mas a minissérie só me deu uma grande certeza: Kate Winslet é infalível.

Baseado em uma novela homônima do escritor James M. Cain, “Mildred Pierce” narra a saga da mulher que dá nome ao título da minissérie. Abandonada pelo marido em plena Depressão Americana no inicio dos anos 30, com duas filhas pra criar, ela se vê praticamente obrigada a arregaçar as mangas e enfrentar a sociedade para trabalhar e manter sua família, ou o que restou dela. Cozinheira de mão cheia, ela vê que seu talento para a culinária não poderia ser desperdiçada sendo apenas uma garçonete. Então, Mildred, com um forte grau de empreendedorismo, resolve abrir uma franquia de restaurantes especializados em frango e tortas. Sempre ajudada pela amiga Lucy (Melissa Leo), o contador Wally (James LeGros) e até mesmo pelo ex-marido Bert (Brían F. O’Byrne), Mildred tenta triunfar no seu negócio, que possivelmente desagradará a orgulhosa filha mais velha, Veda (Evan Rachel Wood, na fase adulta).

A minissérie, composta por cinco longos capítulos, me chamou a atenção principalmente pela história, imortalizada por Cain e já transportada para o cinema em 1945, num filme intitulado “Almas em Suplícios”, que rendeu à Joan Crawford seu Oscar de Melhor Atriz. Não tenho intimidade com o livro e nem com o filme dirigido por Michael Curtiz, mas pelo que andei pesquisando, a leitura da HBO está mais fiel. O que me surpreende, pois em alguns momentos, considerei que a história estivesse se entregando a uma linguagem mais visual, caricata até. Mas como disse, por não conhecer o livro, é complicado julgar essa parte. E saber que uma série, filme, ou nesse caso, uma minissérie, vai de acordo com sua própria linguagem não é absolutamente algo ruim.

Kate Winslet está esplêndida. Favorecida por cenas nas quais ela pode exacerbar sua visceral interpretação, Winslet em nenhum momento se submete aos atos falhos, a não ser pelo tom exagerado que algumas cenas pediam. Ela esteve à vontade em tudo o que a personagem estava lhe provocando, desde a imponência de uma mulher tendo que enfrentar o sexismo e as dificuldades em vencer numa sociedade economicamente falida, aos momentos de incrível dor maternal, passando, é claro, pelas tórridas cenas de sexo, aqui reservadas principalmente quando Mildred se envolve com o ambíguo galã Monty Beragon (Guy Pearce).

O que mais me incomodou em “Mildred Pearce” foi a virada que a minissérie tomou nos seus dois últimos episódios. Era certo que a relação entre ela e sua filha ainda seria muito explorada, mas a trama co-protagonizada por Veda (que crescida se tornou uma das sopranos mais respeitadas da era do rádio) tomou conta. Não diria que ficou insustentável, até porque contribuiu para um final aceitável, mas diria que fiquei mais envolvido pela luta inicial de Mildred, enfrentando preconceitos de uma sociedade numa fase traumática para os americanos.

Esse tipo de mudança de foco não diminui em quase nada a qualidade de produção de “Mildred Pierce”, que bem poderia ser mais longa. Com a nítida intenção de promover Kate Winslet, agüentar mais episódios de confrontos pessoais e chororô poderia cair num marasmo total. E a boa impressão iria, assim, certamente se esvair.

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