quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A Partida [2008]


(de Yôjirô Takita. Okuribito, Japão, 2008) Com Masahiro Motoki, Tsutomu Yamazaki, Ryôko Hirosue, Kazuko Yoshiyuki, Kimiko Yo. Cotação: ***

Foi este filme japonês que desbancou o favoritismo do francês “Entre os Muros da Escola” e o israelense “Valsa Com Bashir” (que chegou a ganhar o Globo de Ouro) na disputa do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009. Uma vitória que me surpreende em partes, pois os outros dois filmes citados são de uma nova geração que prepondera nas últimas escolhas da Academia em categorias mais tradicionais. Porém, muitos ocidentais são profundamente tocados ao se deparar com a sensibilidade do cinema oriental. “A Partida” é um exemplo claro para confirmar isso. Não se trata de uma jóia e praticamente não contém nenhuma novidade, e seu sucesso provém de seu tema que é universal: a morte.

Com o fim de uma orquestra na qual é violoncelista, Daigo Kobayashi (Motoki) fica desnorteado, sem saber como irá arcar com as dívidas. Casado com Mika (Hirosue, cantora de muito sucesso no Japão), ele terá que sair de Tóquio, onde eles vivem, para voltar à cidade onde cresceu, onde possui uma residência deixada por sua mãe. Ao procurar trabalho, um anúncio de uma agência “que cuida de jornadas” lhe chama a atenção. Imagina se tratar de uma agência de turismo, mas ao chegar ao local, descobre que o chefe, o ancião Ikuei Sasaki (Yamazaki), é responsável por um ritual de passagem dos mortos, antes de serem acomodados no caixão para serem velados. A proposta de trabalho, que parece ser irrecusável financeiramente, poderá ser muito mal vista pelos amigos e pela própria esposa de Daigo.

Tratar de morte, no Japão mostrado no filme, ainda é um tabu. O rito de passagem no qual mencionei no texto se destina a purificar o velado, num processo de “acondicionamento”, ao que eles denominam o ritual “nokanshi”. Tudo sendo assistido pela família do ente perdido. Mas por que esse é um trabalho tão passível de preconceitos? Em certo momento, Daigo chega a ser apontado como exemplo de um homem que faz um trabalho indecente. Certamente por ser uma tarefa na qual há relação direta com o morto. Algo considerado sujo. Daigo sofre imensamente no começo, já que nunca tinha visto um cadáver na vida. E sua primeira experiência, por sinal, é traumática.

Como Daigo irá se conformar com a situação e aceitar que esse trabalho é tão nobre quanto qualquer outra é a grande aposta do filme. Além de construir, de maneira bem conduzida, laços com personagens que se mostrarão passíveis à morte de uma maneira abaladora. Daigo, no processo de enxergar a importância de seu trabalho, passará por estágios interessantes, como a análise de sua vida atual e passada (ele foi abandona pelo pai, que deixou sua casa quando ele ainda era uma criança), além de deturpar sua visão da “carne morta” e a “carne viva” (como é mostrado na cena onde ele quer abraçar sua esposa e sentir simplesmente o calor e a pulsação do corpo dela). Ainda há espaço para a óbvia metáfora dos salmões, que se debatendo na água até a morte por opção, fazem isso para “querer saber de onde vieram”.

É possível tirar explicações da morte, assim como concluímos ao assistir “Six Feet Under”. Aliás, “A Partida” serve de rodapé para a série da HBO. Pelo que vi, na interpretação mais concentitual sobre a morte, é que ela é tratada como uma porta, uma passagem de fato, como o título já sugere. Mas não basta o título de uma obra. É preciso dar a oportunidade para os personagens lidarem com essa questão. Nesse ponto, “A Partida”, de forma quase inexplicável, conseguia me emocionar. Não exatamente nas cenas que tinham essa intenção, mas aconteciam. Em contrapartida, cenas áreas mostrando Daigo tocando um violoncelo infantil num lugar alto e verde eram lindas, mas que davam ao filme um tratamento mais fantasioso, difícil de unir com as outras que rendiam mais valores.

O que importa é que “A Partida” agrada a grande maioria, sinal que a intenção do filme é alcançada com êxito. Eu ainda fico com os bons momentos, onde a morte é tratada com maior sinceridade.

5 comentários:

  1. A morte deveria
    ser, sempre,
    tratada
    com honestidade.

    "A Partida" se não flui totalmente
    seus bons momentos é o que valerão no final.

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  2. Já tem um tempinho que eu assisti esse filme. Gostei bastante, trata do tema de forma singular. Porém, não foi um filme que me marcou ou me emocionou, foi um bom filme. Só isso.

    Abs =)

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  3. Coloquei esse filme no dvd sem esperar absolutamente nada, passou uma hora de filme e eu estava ENCANTADO, apaixonado, maravilhado! Achei um filmaço, realmente digno daquele OSCAR.

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  4. Foi um filme pensado para sensibilizar os ocidentais, isso pode soar um tanto pretencioso. Mesmo assim, "A partida" tem mais pontos positivos do que negativos. Me emocionei em muitas cenas do filme.

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  5. Parece ser sim um bom filme, mas não sei, não me animou muito. Seu texto parece ser melhor do que o filme em si.

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