sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Touro Indomável [1980]


(de Martin Scorsese. Raging Bull, EUA, 1980) Com Robert De Niro, Cathy Moriarty, Joe Pesci, Frank Vincent. Cotação: ****

Corre o boato de que Robert De Niro teria salvado a carreira de Martin Scorsese com esse filme. Ele, praticamente sozinho, idealizou esse projeto após ter lido a autobiografia do polêmico pugilista Jake La Motta, e já se imaginou encarnando o tal lutador. Fazer com que Scorsese aceitasse a empreitada era um grande desafio, afinal, além de não passar pela cabeça do diretor fazer um filme ligado aos esportes, Scorsese passava por uma situação delicada na vida pessoal por conta de sua dependência química. De Niro, ainda assim, juntou forças, e após anos tentando convencer o amigo (com quem já havia trabalhado em “Taxi Driver”), fez de tudo para estrelar um de seus trabalhos mais impressionantes.

Através de uma direção impecável de Martin Scorsese, acompanhamos pouco mais de vinte anos da vida de Jake La Motta (De Niro), grande campeão de peso médio, desde o início de sua carreira, ao lado seu irmão e empresário, Joey (Pesci), com uma fúria nos ringues tão característica, que acabou ganhando o apelido de “touro do Bronx”. Mas essa personalidade forte não ficava somente na hora das lutas. Jake tinha um temperamento difícil, que fazia com que ele tivesse problemas tanto no seu casamento com Vickie (Moriarty), quanto em sua vida profissional, já que era visto como um grande problemático pelos manda-chuvas do boxe.

Jake, por si só, é uma figura interessante. Não a ponto de ter uma autobiografia levada às telas (se não fosse Scorsese, o filme poderia ser passível ao esquecimento), mas sua vida daria um grande trabalho de atuação, e foi justamente isso que De Niro enxergou e quis, assim, tocar o projeto. Machista ao extremo, Jake é daqueles que acreditam que sua masculinidade impõe-se em qualquer lugar. É curioso notar que, graças ao seu comportamento extra violento, o que ele consegue nos ringues com glórias, ele perde em sua vida pessoal em derrotas. Seu irmão e sua esposa convivem com ele a base do medo (longe de ser respeito) Com grandes problemas com o peso e em conseguir lutas importantes (seu orgulho era tão grande que apanhava por minutos, sem nunca cair), ele acaba abrindo um bar nos anos sessenta, onde vira uma espécie de comediante do lugar. Claro, sem dinheiro e com problemas na justiça.

Robert De Niro aproveitou tudo o que o personagem tinha para oferecer. Cheguei a desacreditar quando vi, logo na primeira cena, o ator com quilos a mais, com a face desconfigurada (era uma cena onde Jake dava um testemunho, já 1964). Sua cara de louco era impressionante, mas nada se compara às suas mudanças corporais para o papel. Merecidamente, De Niro ganhou seu segundo Oscar (já havia ganhado a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante por “O Poderoso Chefão II” em 75). Desde então, nunca mais ganhou. Muitos, inclusive, acreditam que depois de “Touro Indomável”, ele nunca mais repetiria uma atuação tão elogiável.

Lindamente fotografado por Michael Chapman, o filme possui a ousada decisão de ser todo em preto-e-branco. Alguns assumem que era para dar uma maior veracidade documental, outros, entretanto, dizem que a intenção era se diferenciar de “Rocky” (1976), até então um clássico recente do gênero, estrelado por Sylvester Stallone. Mas a ideia do filme sem cores (o que é alterado em alguns arquivos pessoais, onde aparecem alguns momentos coloridos), foi uma grande sacada de Scorsese, que aceitou um desafio mais difícil, já que muitas coisas teriam que ser adaptadas, como por exemplo, a incrível quantidade de sangue nos momentos das lutas, terem que ser feitas com chocolate para dar maior vivacidade nas cenas. Lutas, que por sinal, são brilhantemente dirigidas por Marty, que não deixou que “Touro Indomável” se tornasse aborrecível (como boa parte dos filmes sobre esportistas são).

“Touro Indomável” ainda é tido por muitos como um dos melhores filmes biográficos de um esportista. O que não é grande elogio, já que esses filmes tendem a não serem tão bons (salvo algumas raras exceções). Resta para elogios a uma aula magnífica que Scorsese dá, além do trabalho incrível de Robert De Niro e Joe Pesci. Os três irão trabalhar juntos novamente em “Cassino”, de 1995.

6 comentários:

  1. Um dos Scorsese mais fortes. Soberba interpretação de De Niro.
    Adécio, venha participar no meu blog de um despretensioso teste de conhecimentos cinematográficos. Começo com NICHOLAS RAY (Juventude Transviada). O vencedor leva DVDs clássicos.
    Abração,

    O Falcão Maltês

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  2. A atuação de Robert De Niro é impressionante. Gosto muito do filme, mas também não chega a ser um dos meus favoritos. Gosto das atuações e da excelente fotografia.

    []s

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  3. Quando assisti a esse filme entrei em um processo de tristeza tão profunda que simplesmente não conseguia mais sair de casa. Minha identificação com vários traços de Jack, me fizeram ficar em casa por mais que o planejado. Culpa de uma direção irrepreensível de Scorsese e do melhor trabalho interpretativo de DeNiro. Considero este um dos melhores trabalhos de ambos.

    Abs.

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  4. Acho um grandioso filme, muito bom mesmo, uma obra-prima. É de doer ver que esse trabalho primoroso do mestre Scorsese foi preterido por "Gente como a gente" de Robert Redford na época. O Oscar sempre foi injusto, não é de agora. É revoltante, sinceramente. Esse filme é grandioso em todos os aspectos. Merecia muito mais que o Oscar de De Niro (perfeito, melhor atuação de sua carreira) e do outro técnico que levou.

    Pra mim, é o melhor filme de Scorsese. Logo depois vem "Taxi Driver" e "Ilha do Medo". Mas, pra falar a verdade, sou fã incondicional do Marty.

    Abraço, ótimo ver esse filme aqui!

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  5. Meu clássico de cabeceira,
    este me colocou no "mau caminho".

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