segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Bastardos Inglórios [2009]


(de Quentin Tarantino. Inglourious Basterds, EUA, 2009) Com Brad Pitt, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth, Diane Kruger, Daniel Brühl, Michael Fassbender, Mike Myers. Cotação: *****

Após o estrondoso fracasso de “À Prova de Morte”, lançado como parte do projeto “Grindhouse” em companhia de seu amigo Robert Rodriguez, Quentin Tarantino tratou logo de se redimir, e tirou da gaveta um projeto que ele arquitetava há alguns anos. “Bastardos Inglórios” é mais um exemplo de que o diretor é invencível no termo “cinéfilo inveterado”. Os louros não vieram apenas por conta da crítica e de público (conseguiu ótimo rendimento nas bilheterias, mesmo sendo um filme pouco falado em inglês), mas também com a Academia. Tarantino volta a marcar presença no Oscar, algo que não acontecia desde quando ainda era um novato, com “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, de 1994. 

Não é para tanto, já que estamos falando de um filme onde judeus arrebentam cabeças de nazistas. Isso pra a academia – majoritariamente composta de judeus – já é um deleite.

Durante a 2ª Guerra Mundial, na França ocupada por alemães, Shosanna (Mélanie Laurent), a dona de um cinema parisiense, esconde sua verdadeira identidade. Ela é a única sobrevivente de uma família dizimada pelo Coronel Hans Landa (Christoph Waltz) há alguns anos antes. Por conta da paixão do herói de guerra Fredrick Zoller (Daniel Brühl), ela estuda uma chance de vingar-se pelo massacre de sua família. Enquanto isso, o americano Aldo Raine (Brad Pitt) lidera um grupo de oito judeus resistentes, obcecados por matar e escalpelar oficiais nazistas. A fama do grupo – chamado de “bastardos” – chega até ao afetado Adolf Hitler e aos ingleses, que envia o crítico de cinema Archie Hicox (Michael Fassbender) para auxiliar na matança dos oficiais.

Tarantino explicita aqui o que há de mais característico em suas obras. Além da óbvia estruturação em capítulos na narrativa, e ter o tema “vingança” como principal argumento, o diretor se utiliza de inúmeras referências cinematográficas para abarrotá-las em seu filme. Essa coisa de tomar dos outros para construir o próprio dá um texto à parte para discussão. Particularmente, não acho que isso seja algo pernicioso, desde que as referências sejam feitas com a plasticidade que poucos diretores conseguem. Tarantino é quase um exemplo único nessa arte, com suas alusões até óbvias em alguns momentos (Aldo Raine = Aldo Ray + John Wayne) e outras que só inveterados como ele reconhecerão (como os wilhelm scream que ele utiliza por mais de uma vez).

O que me intrigava – e por um lado até me surpreende vindo de Tarantino – era aquela supremacia do herói americano. Os “bastardos” eram compostos por norte-americanos que faziam a justiça com as próprias mãos pela simples vontade de combater o mal da guerra, representado também pela figura de Hitler, que aqui ganha um tratamento exagerado, caricato mesmo. Por outro lado, Tarantino não deixa de dar uma tirada com os próprios compatriotas, como quando uma personagem alemã questiona indignada: “Sei que parece ser uma pergunta boba, mas vocês americanos não sabem falar outra língua senão o inglês?”. Por conta desse fato, uma das melhoras cenas desse filme está numa situação onde um grupo de americanos tem que se passar por italianos. Ver Brad Pitt pronunciando “arrivederci” é IMPAGÁVEL.

Mas um personagem acaba roubando o filme quase que completamente. Hans Landa, que na história é conhecido como “o caçador de judeus”, é uma das únicas figuras presentes em todos os capítulos da história. O que prova que Tarantino sabia do poder do personagem, montado sem aquela visão maniqueísta que os outros alemães do filme ganharam. Somente Hans Landa para soltar frases como “eu sei de tudo o que um ser humano é capaz quando abandona a dignidade" para ser aquele cara que amamos odiar nos filmes. Landa é interpretado de maneira magistral pelo ator austríaco Christoph Waltz com falas em inglês, francês, alemão e italiano. Waltz acabou, merecidamente, faturando o Oscar de melhor ator coadjuvante em 2010.

“Bastardos Inglórios” é o Tarantino de sempre, ousando um pouco mais. E nós, cinéfilos e fãs do cara, sabemos que apenas ele pode nos proporcionar misé-en-scene sem deixar de ser popularesco e artístico ao mesmo tempo.

5 comentários:

  1. Amo a maneira como ele muda toda a história sem soar inverossímel por isso. Tarantino sabe mesmo como nos pregar uma bela peça cinematográfica. Lindo texto.

    ResponderExcluir
  2. Filme excelente, em cada cena é notável o sarcasmo e o humor negro que se materializam na explosão da violência... é ao mesmo tempo uma homenagem ao cinema clássico e um culto á arte pop, as referências usadas por Tarantino denotam isso desde Cães de Aluguel... Neste quesito Tarantino chega a me lembrar Godard (vale lembrar que ele já prestou várias homenagens ao realizador francês em seus filmes e até deu o nome de um de seus filmes à sua produtora, pois ambos propõem uma desconstrução de tudo que veio antes deles e tal desconstrução representa ao mesmo tempo homenagem e ruptura...

    ResponderExcluir
  3. Excelente filme. Tarantino consegue dar as doses certas de violência e humor negro.

    ResponderExcluir
  4. Preciso rever "Bastardos", pelo simples fato de não ter visto e apreciado direito na época. Lembro-me de ter gostado, mas só isso.

    ResponderExcluir
  5. Oscar merecido para Christoph Waltz, de fato. Ele contrasta no filme, mesmo com outras boas interpretações.

    Essas referencias que Tarantino pega, eu tenho certas objeções. Como em Kill Bill, que tem tanta referencia, mas tanta, que parece que chega a ser um apanhado de edições de outros filmes, para formar um outro...

    No entanto, Bastardos Inglorios é um bom filme, por representar o oposto do que muitos filmes de Guerra faz, ou seja a ficão completa, fugindo da realidade trágica de tudo, com um final que dá um certo gostinho perverso pra mta gnt.

    Abs!

    ResponderExcluir