sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Ilha do Medo [2010]


(de Martin Scorsese. Shutter Island, EUA, 2010) Com Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max von Sydow, Michelle Williams, Emily Mortimer, Patricia Clarkson. Cotação: *****

Dentre os filmes de Martin Scorsese, este tem um dos dados mais curiosos ao longo de sua carreira. Por ter sido vendido como um filme de terror - graças à campanha duvidosa do estúdio responsável na época de seu lançamento -, o filme acabou levando muita gente para conferir a obra nos cinemas (inclusive jovens, os maiores interessados no medo). Resultado: grande sucesso nas bilheterias, sendo o maior rendimento da carreira de Marty. Mas, embora tenha sido um enorme sucesso comercial, “Ilha do Medo” não conseguiu agradar votantes em Academia e agremiações de arte, o que, para Scorsese (sendo ele uma pessoa que adora prêmios e congratulações) acabou sendo um grande fracasso.

Passado em 1954, o filme trata da viagem do xerife estadual Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio), que é mandado, juntamente com seu novo parceiro, Chuck Aule (Mark Ruffalo), para Boston Harbor Island, uma ilha que abriga uma prisão para condenados irremediáveis por conta de seus desvios psicológicos. Ted vai investigar o sumiço de uma das prisioneiras (ou pacientes, como corrige o diretor do lugar), Rachel Solando (Emily Mortimer), condenada por ter assassinado seus três filhos. Além disso, Ted tem intenção de inspecionar as denúncias de maus tratos com o novo estratagema nos cuidados que os enfermeiros têm com os condenados, mas a investigação acaba sofrendo a resistência do médico responsável, o pragmático Dr. Cawley (Ben Kingsley).

Martin Scorsese acabou deixando “Ilha do Medo” com contornos bem parecidos aos filmes noir dos anos 50. Além da óbvia ambientação da época, estão ali os abusos do chroma key (aquelas paisagens falsas no momento em que os personagens andam de carro são os principais exemplos), o lugar sombrio com seus pavilhões proibidos, e um monte de personagens que parecem sempre esconder algo do protagonista. Entre teorias de conspiração e um ambiente soturno, o filme serve como uma homenagem a estes filmes que ganharam projeção na década de 40.

O personagem de Leonardo DiCaprio (com esse filme ele completa a quarta parceria junto a Scorsese, seu grande padrinho), apresenta uma interessante jornada durante a história. Iniciando como um homem cínico, sem muitas modulações, o cara vai ganhando um arco excelente quando somos apresentados às inserções de seu passado como ex-combatente americano nas invasões aos campos de concentração da Alemanha nazista, assim como as aparições de sua falecida esposa, que vai começando a desaguar na grande dúvida que paira sobre o filme: o que é a realidade?

Aliás, é essa a grande polêmica em torno de “Ilha do Medo”. Muita gente se sentiu incomodada com a quantidade de jogos e artimanhas no roteiro de Laeta Kalogridis ("Alexandre"), inspirada na novela de Dennis Lehane ("Sobre Meninos e Lobos"). Mesmo que pareçam estranhas as tantas formas de pregar peças em quem assiste a história num filme de Scorsese - um dos diretores que mais zelam por conteúdo –, não tem como não deixar de considerar mais uma verdadeira aula de cinema que o mestre apresenta. Cenas como um paredão de nazistas sendo sumariamente executado num travelling impressionante e uma chocante cena que envolve três crianças e um lago, já bastam para comprovar que “Ilha do Medo” pode ser qualquer coisa, mas NUNCA servirá como prova de desleixo de Scorsese.

7 comentários:

  1. Ótimo filme. Pena que passou em branco em muitas premiações...

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  2. Adoro esse filme e até preciso rever. Uma pena que não foi lembrado nas premiações...

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  3. É um filme que eu preciso pensar bastante para conseguir uma opinião. Eu li o livro antes, e achei fantástico (o livro) até por seu final, quando fui ao cinema conferir, estava tudo muito bem, mas eu perdi o impacto do filme, o impacto de seu final. DiCaprio está excelente, alias, quando DiCaprio não é excelente nas mãos de Scorsese. Um ótimo filme!

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  4. Puta filme bom. Aula de suspense, tensão, angústia e interpretação do Leo (sim, sou íntimo). Esse tema de loucura sempre me fascinou e adoro a forma como o filme o abordou.

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  5. O que eu acho mais engraçado é que mesmo o Scorsese mais comercial ainda é mais essencial e fundamental para a Sétima Arte que qualquer outra coisa pretensiosamente mais sofisticada. Isso sim é que é ser um dos grandes ainda em atividade.

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  6. "sendo ele uma pessoa que adora prêmios e congratulações". Isso foi ironia? Se não, acho que o Scorsese não se importa tanto para premiações, ainda que tenha ficado claramente feliz com o Oscar por Os Infiltrados. Além disso, acho que além de uma homenagem aos filmes noir, é também aos filmes B de terror. Enfim, bom texto o seu! Adoro Ilha do Medo e seu final, para mim, ambíguo. Meu Scorsese favorito dos últimos tempos... www.lumi7.com.br

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  7. Um excelente filme, Scorsese desdobrando sua criatividade e talento. Achei relativamente previsível, pois as pistas são mesmo entregue com bastante grau de desespero, o impacto diminui, mas a sagacidade do diretor ainda nos consegue surpreender com a maneira que a história é revelada. Aliás, o departamento técnico desse filme é um primor, desde a fotografia até os efeitos sonoros brilhantes.

    Uma pena mesmo que passou despercebido das grandes premiações. Agora, só discordo da questão de Scorsese gostar de "premiações e congratulações". Acredito que seja o oposto, mas esse filme não se converteu em sucesso entre os críticos desde cedo. Não acho que Scorsese o considere um fracasso por não ter sido indicado ao Oscar, por exemplo.

    abs

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