segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos [1988]


(de Pedro Almodóvar. Mujeres Al Borde de un Ataque de Nervios, Espanha, 1988) Com Carmen Maura, Antonio Banderas, Julieta Serrano, María Barranco, Rossy de Palma, Fernando Guillén. Cotação: *****

Ao final dos anos 80, Pedro Almodóvar era conhecido como um diretor que subvertia as tendências do cinema com filmes que seguiam uma linha mais underground, e agradava, principalmente, a vanguarda ou o público efeminado que o venerava. Até que em 1988, ao lançar “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, Almodóvar carimbou o seu passaporte para os EUA, caindo nas graças de críticos americanos, levando até indicação ao Oscar de filme estrangeiro do ano seguinte (perdeu para o dinamarquês "Pelle, o Conquistador"), e dando início ao seu reconhecimento mundial.

O filme segue uma linha mais teatral, ao contar a história de Pepa (Carmen Maura), uma atriz de televisão e dubladora, que é abandonada pelo seu amante Iván (Fernando Guillén), através de um recado na secretária eletrônica. Iván manteve um relacionamento com ela por anos, mesmo sendo casado com uma mulher desequilibrada que acabou de sair de um sanatório. Sem saber como lidar com o abandono, viciada em remédios para dormir e querendo encontrar o ex-amante para cobrar melhores satisfações, Pepa resolve vender seu apartamento. Até que recebe a visita do filho de Iván, Carlos (Antonio Banderas) e sua noiva, a amiga Candella (María Barranco), que está em apuros por ter se envolvido com terroristas xiitas, e da ex-rival.

Com toda essa confusão de situações – que Almodóvar cria com uma maneira muito bem conduzida – acaba resultando em um filme híbrido, com o melodrama e o bom humor que funciona em todos os momentos que resolve aparecer. As inquietudes femininas, mostradas através de todas as personagens mulheres da trama, são traduzidas com uma mão que sabe o que faz. Almodóvar viria a comprovar por anos a fio, essa sua sutileza com a alma das mulheres, e isso sem perder a veia cômica. Em cenas onde é mostrada um comercial ficcional de um sabão em pó estrelado por Pepa e muitas confusões com gaspacho batizado com sonífero, estão ali inserções do lado mais sagaz do diretor espanhol, que faz com que tudo seja muito bem dosado.

Outra característica sua que enriquece “Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos” e que ele também nunca deixou de lado, é aquele clima de mundo pequeno, onde as circunstâncias acabam encontrando uma forma de unir todos os personagens, sem que isso pareça algo descabido. Além do que o título já evidencia, filmes de Almodóvar tem que conter aquela dose de desespero feminino, que se encontra em separado do melodrama teatral. Falando em teatro, o título acabou sendo adaptado por Jeffrey Lane e Yazbek David para um musical da Broadway em 2010, com temporada prevista até janeiro de 2011, mas o fracasso foi tão grande, que rolou até antecipação do fim das encenações.

Querer adaptar Almodóvar para o teatro pode até não ser uma idéia fora do comum, já que seus filmes possuem um atmosfera pequena, que facilita a transposição para os palcos, mas a sutileza de seu texto é algo bem mais complexo de ser subentendido numa peça. Almodóvar abusa de seus elementos visuais através de sua estética kitsch, suas cores vivas e quentes, e a mistura que é, ao mesmo tempo, ambiciosa e delicada ao tratar simultaneamente o melodrama e a comédia.

Serve como um bom começo para conhecer a filmografia de Almodóvar.

3 comentários:

  1. - sou um dos grandes fãs do diretor. esse é talvez o seu filme mais influente, mas é também o que eu menos gosto, não sei, ele parece um pouco exagerado demais (qual filme do almodóvar, não é?) não consigo explicar, parece excessivo demais.

    ResponderExcluir
  2. Cléber

    É, exagerado ele é sempre, né? Por isso é tão bom. Rs.

    ResponderExcluir
  3. Bastante divertido, mas Almodóvar realizou obras melhores antes e depois dessa comédia amalucada.

    O Falcão Maltês

    ResponderExcluir