terça-feira, 22 de novembro de 2011

A Pele que Habito [2011]


(de Pedro Almodóvar. La Piel Que Habit, Espanha, 2011) Com Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo, Eduard Fernández, Blanca Suárez. Cotação: *****

Foi com grande alegria que fui conferir este novo filme de Pedro Almodóvar, quem - segundo muitos - estava se redimindo por “Abraços Partidos”, que chegou a ser considerado decepcionante (mas que eu particularmente gostei bastante). Surpresa maior foi ver a fila quilométrica no cinema. O filme nem estava em sua semana de estréia, mas mesmo assim, todos estavam cientes de que se tratava de mais uma possível bizarrice do diretor espanhol. Isso me encheu de orgulho, afinal, Almodóvar estava enchendo uma sala de cinema, em pleno shopping center, com gente de tudo o que é faixa etária (acima de 16 anos, é claro).

“A Pele que Habito” contou com presença no Festival de Cannes de 2011, tendo concorrido a Palma de Outro (perdeu para “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick), e vem, mais uma vez, trazendo discussões que Almodóvar incita de uma forma única.

A trama é daquelas que, quanto menos você sabe, melhor. O filme precisa ser redescoberto, explorado às cegas. Mas farei uma breve introdução, apenas para apontar um mote. Antonio Banderas (após anos sem trabalhar com Almodóvar por causa de uma briga interna) interpreta Robert Ledgard, um renomado cirurgião plástico que perdeu a esposa em um acidente de carro. Solitário, só tem a companhia de Marília (Marisa Paredes), que cuida de sua casa, e mantém em cárcere uma misteriosa mulher, Vera (Elena Anaya), que serve como cobaia para Robert testar uma pele sintética (intitulada Gal), que poderia ter salvado sua esposa.

Antes que qualquer coisa, “A Pele que Habito” é um grande mosaico de situações. Em primeiro plano, é preciso descobrir o que une as intenções de Robert – um Frankenstein moderno – e o mistério em torno de Vera. Afinal, quem seria essa mulher? E qual sua relação com a esposa morta de Robert? Ou com sua filha? Ou até mesmo com Marília? Estas e outras questões vão condensando praticamente todo o primeiro ato do filme, e repito, quanto menos você souber as respostas destas perguntas, mais proveitoso será o restante da obra.

Antônio Banderas, que sempre considerei um dos atores mais canastrões da atualidade, usa seu ar de sedutor de uma maneira mais maquiavélica. O seu personagem, de tão improvável, acaba ganhando um contorno elogiável. E quanto mais o personagem envereda para o antiético, mais ficamos interessados por ele. Já Marisa Paredes, recorrente colaboradora de Almodóvar, infelizmente não está com toda aquela presença que já vimos em filmes como “Tudo Sobre Minha Mãe” e “A Flor do Meu Segredo”, mas é reservada a ela uma cena fantástica, na qual ela diz que a loucura só pode estar entre suas entranhas.

Almodóvar ainda brinca com algumas referências visuais no próprio filme, como quando uma personagem assiste de relance um tigre capturando um veado na televisão (essa cena também se mostrará numa parte trágica da história, mas em outro contexto), e ao ver Robert manuseando seu bonsai. Uma interpretação direta a esta cena seria a forma como ele brinca de transfigurar a natureza, não esquecendo também de sua profissão e suas finalidades na história.

Enfim, trata-se de mais uma grande obra de um dos diretores mais talentosos ainda vivo. Mesmo que o filme não seja um roteiro inteiramente seu – é baseado na novela "Tarântula", do escritor francês Thierry Jonquet (1959-2009) – e seja bem menos colorido, chegando a ser um tanto quanto dark. Almodóvar vai costurando fatos com primazia, e ao final, acaba tornando seu filme em outro ainda mais surpreendente. A grande conclusão disso tudo não poderia deixar de ser outra senão dizer que o cara sabe como contar uma história.

5 comentários:

  1. Estou doido pra ver, mas o filme ainda não chegou em terras araraquarenses.

    É.

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  2. Já estou pra ver esse filme há 2 semanas, vou ver hoje, finalmente. Até já comprei o ingresso. E estou ansioso pra ver, e acho que nem preciso dizer que seu texto me deixou mais ansioso ainda.
    Abração!

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  3. Gostei muito e nem tinha reparado nessas referências que você citou.

    O que eu mais gosto é o fato da maioria dos personagens estarem de alguma forma aprisionados a alguma coisa. Filmaço.

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  4. Adorei esse filme. Que história surpreendente!
    Mesmo não gostando do Banderas, acho que ele fez bem a sua parte.

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  5. MUITO BOM, não é? Até o momento o melhor filme do ano. O filme mostra os caminhos que toma, mas ainda assim a suspresa é deliciosa. Um filme acima de tudo estiloso, muito Almodóvar!

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