quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Amadeus [1984]


(de Miloš Forman. Idem, EUA, 1984) Com F. Murray Abraham, Tom Hulce, Elizabeth Berridge, Simon Callow, Christine Ebersole, Jeffrey Jones, Cynthia Nixon. Cotação: *****

Pra muita gente, se dispor em ver um filme de três horas de duração (na versão do diretor, que possui um acréscimo de vinte minutos em relação ao original), e ter música clássica como base, pode ser algo extremamente chato. Mas, devo alertar, no caso de “Amadeus”, essa falsa impressão vai embora logo aos primeiros minutos da obra, porque o filme tem algo quase indescritível, que nos faz ficar cada vez mais interessado na história. Trata-se, também, de um filme que conquistou a histórica marca de oito (!) estatuetas no Oscar de 85, incluindo o de melhor filme e diretor.

Com uma visão livre de Peter Shaffer – baseado em sua própria peça - “Amadeus” inicia com a tentativa fracassada de suicídio do músico Antonio Salieri (F. Murray Abraham). Logo depois, ele recebe a visita de um padre, a quem ele vai contar os motivos de sua desilusão: a crença de que foi um dos responsáveis pela morte de Wolfgang Amadeus Mozart (Tom Hulce), uma das mentes mais brilhantes do séc. XVIII. Em forma de confissão, Salieri relata suas memórias, desde quando era criança, o início de sua carreira musical, até se tornar um maestro da corte de Viena. Mesmo sendo devoto, possuía um sentimento de inveja em relação à Mozart, o que o levou a tomar medidas que fizessem cruzar suas vidas, de uma maneira intensa e fatal.

Apesar de o filme carregar em seu título o segundo nome de Mozart, toda a história é construída sob a visão do seu antagonista - Salieri - com uma narração em primeira pessoa fenomenal. Ainda sobre a construção da obra, não tem como deixar de tecer elogios à direção impecável de Miloš Forman, com a grande opulência em que trabalha às belíssimas cenas de ópera, quanto ao cuidado que parece simples, ao mostrar os pequenos sustos que alguns personagens tomam na tela, quando Mozart dá alguma de suas desengonçadas gargalhadas. Se ele era, de fato, daquela forma, tão controverso e peculiar, isso não importa. Aliás, ficar procurando se tudo o que acontece no filme realmente aconteceu é tarefa de gente pedante. Como já disse, trata-se de uma visão livre.

As melhores partes de “Amadeus” estão nas narrações feitas por Salieri. Já velho e castigado pelo tempo, são nesses momentos em que F. Murray Abraham (também ganhador do Oscar por este trabalho) dá uma verdadeira amostra do que é um “papel para a vida inteira”. Não só ele, como Tom Hulce, o intérprete de Mozart, jamais voltariam ao prestígio da Academia (muitos até os esqueceriam anos mais tarde), o que não muda o fato de que ambos estão fantásticos neste filme. Os pólos de Mozart e Salieri também são lindamente colocados aqui. Mozart era prodígio, tinha um talento quase natural diante de sua arte, e Salieri, por sua vez, sentia-se privado por Deus por rejeitar a ele um talento que ele tanto venerava.

A ambientação de “Amadeus” também conseguiu feitos incríveis, com cenas sendo rodadas em lugares com luzes naturais e a impressionante direção de arte da americana Patrizia Von Brandenstein e a tcheca Karel Cerný (também vencedoras do Oscar). E é justamente nesse dado técnico que se encontra a cereja do bolo. “Amadeus” é um dos filmes mais belos do ano de seu lançamento, e se faz inesquecível pelo fato de ser lírico, ao mesmo tempo em que retrata um dos desvios humanos – a inveja – de uma maneira magistral.

5 comentários:

  1. posso dizer que é um dos melhores filmes feitos em todos os tempos?!

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  2. Revi AMADEUS faz pouco tempo. Fiquei impressionado com seu ritmo ágil e força dramática, beirando o operístico. Forman é fenomenal.

    O Falcão Maltês

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  3. Sou um fã inconteste de Forman. Adoro praticamente tudo o que ele fez e, com "Amadeus", não é diferente. Ainda me lembro de alugar aquele velho VHS e ficar mais de duas horas e meia vendo aquele espetáculo sonoro e visual. Uma experiência muito grandiosa.

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  4. Ótimo texto sobre essa grande obra-prima. Talvez seja meu favorito do Milos Forman. Amo. O embate dos dois gênios é absolutamente fantástico, um arco dramático brilhante e muito bem desenvolvido. Ainda conta com um elenco maravilhoso! Valeu todas as indicações ao Oscar!

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  5. Como não lembrar daquela gargalhada escandalosa de Tom Hulce?

    Sempre qdo ele voltar a passar na TV eu revejo, apesar dos longos minutos de duração. É um dos meus filmes favoritos. Acho incrível a forma em que o diretor navega entre o ápice e o lodo de uma vida de um genio como Mozart. Mto belo.

    Quero aproveitar e pedir desculpas pela ausencia. Na verdade, vou entrar de férias e ficar mais ausente ainda, ahahahaha Mas em Abril eu volto =)

    O La Matinée! vai ficar sob os cuidados da Baby Sitter automática do Wordpress =) Então ainda vai ter posts novos...

    Abs!

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