sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Viagem à Lua [1902]


(de Georges Méliès. Le Voyage Dans la Lune, França, 1902) Com Victor André, Bleuette Bernon, Jeanne d'Alcy, Georges Méliès. Cotação: *****

Por que não escrever sobre um filme que tem como principal característica ser a primeira ficção da história do cinema? Sim, “Viagem à Lua”, filme do comecinho do século passado, é importantíssimo por contar, pela primeira vez, uma história feita para o cinema, uma arte midiática que ainda causava espanto na sociedade francesa. Diferentemente dos filmes dos irmãos Lumiére, que retratavam o cotidiano dos franceses, filmando a chegada de um trem ou simplesmente transeuntes nas ruas, “Viagem à Lua”, cuja duração ultrapassava uma nova fronteira da arte (os curtas-metragens da época tinham cerca de dois minutos apenas), se tornou obrigatório logo de imediato, já que todo o gênero de ficção científica deve alguma coisa a ele.

Georges Méliès (1861-1938), diretor de “Viagem à Lua”, foi um grande ator de teatro e ilusionista francês, e exatamente por conter esse interesse por impressionar visualmente, bolou uma história trazida através dos livros "Da Terra à Lua", de Julio Verne (1828-1905) e "Os Primeiros Homens da Lua" de H. G. Wells (1866-1946), e filmou de uma maneira misteriosa para seus contemporâneos, utilizando técnicas inovadoras como sobreposição, fusão e exposição de imagens, hoje em dia algo até corriqueiro para tudo o que é relativo à fundamentação de cenas. Seria ignorância atentar-se somente às “imperfeições” ou “conceitos datados” deste filme, se comparados às tecnologias de hoje. É preciso transportar a obra ao seu contexto histórico.

(Nem preciso dizer que me sinto um imbecil dizendo isso, mas é a única maneira de parecer didático, e também é uma forma de me proteger de comentários idiotas feitos por pessoas que não consideram Méliès um “cineasta”)

A história é bem simples. Num turbulento congresso, fica decidido que cinco astrônomos irão para a lua. Vemos então, em rápidas passagens, a construção e o lançamento de uma cápsula, que levará os terráqueos para este misterioso lugar. Aterrissando no olho direito da lua, um ser antropomórfico, eles saem do veículo e começam a explorar o local, cheio de plantas estranhas e criaturas que logo capturam os homens da terra. Até que os astrônomos descobrem que os acrobáticos selenitas (os hostis da lua) desaparecem com um único toque de guarda-chuva, e assim, eles conseguem escapar e cair de volta em mares da terra. Logo eles são salvos e voltam para a França para serem recebidos como heróis.

Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua em 1969 (na missão Apollo 11) falou a conhecidíssima frase “Um pequeno passo para um homem, um salto gigante para a humanidade”. Isso resume bem tanto o seu feito histórico, como também ao trabalho de Méliès. Obviamente que, como “pequeno passo” entende-se o pequeno filme, onde ele faz papel de diretor, ator, figurinista, produtor, e tudo o que estivesse ao seu alcance, para assim tornar realidade uma história que estava toda montada em sua criativa imaginação. E é aqui que mora a principal colaboração de Méliès para toda a história. Pela primeira vez, um filme foi pensado, e logo depois foi produzido, até virar um produto. Isso pode parecer automático, mas acabou sendo uma descoberta que possibilitou a metodologia básica do cinema.

“Viagem à Lua”, hoje em dia, é de domínio público. Isso quer dizer que qualquer pessoa pode assisti-lo, bastando abrir um link para o youtube. Separe dez minutinhos de seu dia para conhecer o marco zero da história do cinema sendo contada através do imaginário. Sem querer tirar os méritos dos irmãos Lumiére, mas Méliès foi o cara que determinou o que é fazer cinema em sua totalidade, desde seu roteiro, até aos seus efeitos visuais, para depois virar um produto de mercado. Infelizmente, Méliès não conseguiu sucesso nessa sua última meta, já que foi “pirateado” pelos técnicos do filme, que foi distribuído por todo o país, e Méliès acabou morrendo na falência.

De todo modo, vale a espiada!

5 comentários:

  1. Estou curioso pra vê isso. Um abraço Adécio.

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  2. Nada melhor que ver o cinema contemporâneo homenagear esse gênio chamado Méliès. Viagem à lua é essencial ao cinema. Não me canso de ver análises e estudos sobre essa obra. Parabéns por também se interessar.

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  3. Méliès é responsável pelo cinema como conhecemos hoje. Cinema sonho, mágico, de ficção, não só um experimento, mas uma arte. Viagem à Lua é meu segundo curta favorito, atrás de Um Cão Andaluz apenas. É realmente de suma importância à história do cinema. E, junto dele, se encontra 2001, como a ficção mais importante do cinema!

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