quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O Artista [2011]


(de Michel Hazanavicius. The Artist, França, 2011) Com Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller, Missi Pyle, Beth Grant, Ed Lauter, Malcolm McDowell, Joel Murray. Cotação: *****

“O Artista” é aquele tipo de filme que tinha tudo para ser maçante. Francês, mudo, preto-e-branco, saudosista e acadêmico. Não que essas características tornem o filme chato automaticamente, mas quando todas elas estão contidas em uma mesma produção, é praticamente certo que a obra seja vista com certa relutância. Mas se engana quem pensa que o filme é impassível. “O Artista” tem claras intenções de se manifestar contra um fato de que cinema, hoje em dia, precisa prover de um orçamento gigantesco e uma série de regras feitas para atender o maior público possível, e assim, render cada vez mais lucro. Numa época onde os blockbusters são os verdadeiros exemplos do que é cinema para uma parte considerável de jovens, surgir um filme como “O Artista” para mostrar o quanto estão errados já vale como prova de que nem tudo está perdido.

Passado no final da década de 20, a história se inicia mostrando o auge do sucesso de George Valentin (Jean Dujardin), uma grande estrela de cinema de um poderoso estúdio hollywoodiano. Apesar de todo o sucesso, a chegada do cinema falado poderá irromper uma nova forma de ver filmes, e com isso, seus filmes poderiam se tornar obsoletos. Indiferente a essa nova realidade e confiante na sua costumeira forma de interpretar filmes mudos, ele continua estrelando os seus projetos, até onde eles possam emplacar. Mesmo casado, George mantém uma proximidade com Peppy Miller (Bérénice Bejo), uma aspirante que inicia sua carreira como figurante, mas que se encaminha para ser uma atriz de grande popularidade dos filmes falados.

Antes de qualquer coisa, “O Artista” é um filme francês, apesar de não parecer. É que por ter se utilizado de locações norte-americanas, o filme conta com as participações de John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller, Missi Pyle, Malcolm McDowell, entre outros nomes gringos. Mas independente do fato de ser um filme europeu ou não, o mais importante é saber que a obra é talvez a grande surpresa do ano, tudo por trazer uma técnica de filmagem que, apesar de ser clássica, não deixa de ser uma novidade, visto as atuais produções de qualquer parte do mundo. É saudosista ao extremo, e está justamente aí a grande sacada, o que torna o filme algo especial. Afinal, é muito mais fácil chamar a atenção pelo diferente. Foi sendo chamado de “o filme francês/mudo/preto-e-branco que possivelmente vai ganhar o Oscar” que muita gente começou a ouvir falar sobre ele. Isso que é campanha.

Quanto ao filme em si, não tem do que reclamar. É uma obra primorosa, que por razões óbvias, vai se sustentar basicamente na trilha sonora caprichadíssima, assim como o trabalho de composição do ótimo elenco, com atores que precisam ter intimidade com a forma mega expressiva do ator do cinema mudo. Astro de renome na França, Jean Dujardin é a grande aposta do filme, que dá a ele a oportunidade de ter um divisor de águas na sua carreira, que já conta com vitória em Cannes, Globo de Ouro, uma penca de prêmios da crítica e até um possível Oscar estando por vir. Outro rosto que está agradando é o da argentina Bérénice Bejo, que já havia trabalhado com Dujardin e Michel Hazanavicius em "Agente 117", filme de 2006 do diretor, que nada mais é do que uma paródia francesa de James Bond (surreal e recomendável).

O que tem de melhor em “O Artista” (e que é ressaltado por não conter falas, trabalhando com os saudosos intertítulos) é a narrativa. Trata-se de uma verdadeira carta de amor ao cinema em sua essência, e, para um adorador convicto da sétima arte, acaba sendo um filme que irá agradar profundamente. É uma aposta certeira. Espero que seja devidamente reconhecido pelo público em geral, embora eu saiba que o alvo está apontado para os fãs do cinema de verdade.

6 comentários:

  1. pré-estreia hoje por aqui.

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  2. Filmaço mesmo, tudo nesse filme francês, mudo e preto e branco que possivelmente vai ganhar o Oscar cheira a perfeição. O Artista foi uma surpresa, e uma das melhores do ano passado.
    Abraços!

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  3. Exatamente, queridao! Uma carta, uma declaracao de amor ao Cinema... Voce resumiu tudo. Perfeitamente. Como sempre!!!!!!!!
    Abracao
    Ricardo

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  4. Achei lindo! Nada memorável, como vc mesmo disse, mas é o meu favorito até agora.

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  5. uma ode ao cinema. muito belo, embora os atores não me convenceram, beiram o caricato.

    O Falcão Maltês

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  6. Precisão perfeita e uma excepcional parceria entre Hazanavicius, DuJardin e Bejo

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