quarta-feira, 14 de março de 2012

O Abrigo [2011]


(de Jeff Nichols. Take Shelter, EUA, 2011) Com Michael Shannon, Jessica Chastain, Tova Stewart, Shea Whigham, Katy Mixon, Natasha Randall. Cotação: ****

Foi este filme modesto que conseguiu o êxito de, sorrateiramente, alçar categorias importantes no último Independent Spirit Awards. Foi indicado nas categorias de filme, diretor, ator, atriz coadjuvante e prêmio especial para produtores. É surpreendente por um lado, já que não migrou para outras premiações, tendo morrido ainda longe da praia, mas completamente compreensível por outro, já que o filme é altamente performático e competente no que diz respeito à própria narrativa. É bem possível que passe despercebido por muita gente, o que é uma pena, pois o “O Abrigo”, antes de ser uma vitrine para o trabalho fenomenal de Michael Shannon, é uma obra que possui uma tensão estranha, que chega a dificultar a minha parte em tentar resumir isso em palavras.

Em Ohio, Curtis (Michael Shannon) vive de maneira pacata com sua esposa Samantha (Jessica Chastain) e sua filha deficiente auditiva. Trabalhando em manutenção de poços, ele segue no seu cotidiano de maneira tranqüila. Até que uma chuva com uma coloração estranha e aspecto oleoso, que mais tarde é adicionada a uma série de pesadelos e alucinações, faz com que ele se fixe na idéia de que todos estão por enfrentar uma grande catástrofe natural, e por isso, ele deve reformar um abrigo de terremotos no quintal de sua casa. Atormentado pelas visões fatalistas cada vez mais constantes e amedrontadoras, ele não sabe ao certo se tudo o que presencia é real ou um indício de que possa estar caminhando para o mesmo destino de sua mãe, internada em uma clínica psiquiátrica por ter sido diagnosticada com esquizofrenia paranóide aos 30 anos.

Falar de “O Abrigo” sem falar do trabalho do ator Michael Shannon é algo impossível de ser feito. Ele praticamente encarna o seu personagem já na sua própria imagem. Shannon tem o tipo expressivo, estranho, um q de psycho mesmo, que nos deixou estarrecido em “Foi Apenas Um Sonho” (2008). Casou brilhantemente no desenvolvimento do personagem, com sua personificação perfeita, tanto nos momentos de sensatez quanto no ápice do descontrole do protagonista. Jessica Chastain, que interpreta a esposa dúbia de Curtis, encabeça mais um trabalho, complementado nada menos que sete filmes lançados somente em 2011, o que a torna uma das revelações mais promissoras do momento (está indicada ao Oscar de coadjuvante por “Histórias Cruzadas”, mas foi muito mais elogiada pelo seu singelo trabalho em “A Árvore da Vida”). Eu, pra ser bem sincero, só conheci o real potencial de Chastain somente com este filme, pois aqui (ao contrário do que acontece pontualmente em “Histórias Cruzadas”), ela não se resume a uma única função na história, elevando o companheirismo de sua personagem para uma prova real de tudo o que acontece com ele.

Um ponto bem pertinente do bom roteiro do filme, é que o protagonista, ao contrário do que somos levados a acreditar, não é tratado de forma assumidamente desequilibrada. Logo nos primeiros sinais de que algo estranho está acontecendo consigo, ele vai lidando da forma mais racional possível, pesquisando em bibliotecas sobre o que seria o seu problema (se é que tem algum) e procurando profissionais da saúde mental para que, ao menos, descubra se suas visões são premonitórias ou um estágio inicial de uma esquizofrenia relacionada à sua própria genética. Ou seja, Curtis não se entrega a uma única saída, que seria a mais indolente de todas as possíveis: a crença cega. E isso é puramente mérito do texto de Jeff Nichols, também diretor do filme, que já havia trabalhado com Shannon em "Shotgun Stories" (2007) - que possui uma estética bem similar ao próprio “O Abrigo” – e no ainda inédito "Mud", previsto para estrear no ano que vem.

Com um dos finais mais relativos (no melhor sentido da palavra) que vi nos últimos meses, “O Abrigo” deveria ser mais lembrado por aí. E como ainda não estreou por aqui, essa oportunidade ainda pode acontecer.

4 comentários:

  1. Tomara que chegue nos circuitos daqui. A história parece interessante.

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  2. Li pouca coisa do filme (e não sei porque cargas d'água eu estava pensando que era francês!), mas quero muito ver... O elenco chamou bastante a minha atenção ;)

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  3. Ainda não o vi, mas gosto muito da Jessica Chastain. Foi a grande revelação de 2011.

    O Falcão Maltês

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  4. Gostei muito do filme também meu caro e concordo contigo, era um filme que merecia ser "visto" mas, pelo visto (vale a redundância hehe), está passando desapercebido.[

    Ele tem mesmo um clima de suspense e tensão estranha e a atuação de Shannon é excelente. O desfecho então eu simplesmente adorei.

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