segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Igualdade é Branca [1994]


(de Krzysztof Kieślowski. Trzy kolory: Bialy, Polônia / França, 1994) Com Zbigniew Zamachowski, Julie Delpy, Janusz Gajos, Jerzy Stuhr. Cotação: ****

Segunda parte da Trilogia das Cores, de Krzysztof Kieślowski, na qual ele faz uma belíssima homenagem às cores da bandeira e dos ideais da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade), "A Igualdade é Branca" tem o ingrato reconhecimento de ser o mais fraco segundo os críticos e os fãs da trilogia. Isso não é necessariamente um demérito. Afinal, Kieślowski, mesmo lançando algo abaixo da obra anterior ("A Liberdade é Azul") e posterior ("A Fraternidade é Vermelha"), ainda está bem acima de muitas outras grandes obras do cinema lírico. E por uma razão simples: saber transpor por meio de imagens uma gama de sentimentos não verbalizados.

O filme narra o declínio e ascensão de Karol Karol (Zbigniew Zamachowski), um polonês que passa por um doloroso divórcio com a parisiense Dominique (Julie Delpy), que alega não consumação do casamento. Por conta disso, ele fica sem teto e dinheiro, sendo obrigado a viver no metrô de Paris. Até que conhece seu conterrâneo Mikolaj (Jerzy Stuhr) que o ajuda a voltar para sua terra natal. Em Varsóvia, ele aproveita o mercado vulnerável da Polônia pós-comunista para ganhar seu dinheiro e assim planejar sua vingança contra Dominique.

Assim como nos outros dois filmes, o diretor propõe a tarefa de fazer algo que para muitos é algo inimaginável: dar consistência a um conceito abstrato. A nossa parte é decifrar como o tema é trabalhado no filme estética e tematicamente. Permeando todo o filme, a tonalidade branca nos assalta continuamente. No busto que o protagonista rouba de uma vitrine, num vestido de noiva, no céu sempre branco da Polônia coberta de neve, ou até mesmo em clarões mais evidentes. E a Igualdade é outro conceito muito difuso e igualmente muito bem tematizado pelo filme. O que Karol busca é o nível de igualdade em relação à sua ex-esposa, mesmo que para tal, a vida o cobre os mais profundos recursos sentimentais.

Outro embarque que pode ser muito prazeroso é conseguir buscar em cenas os pontos que ligam o filme aos outros da trilogia. É possível ver Juliette Binoche entrar no fórum da mesma forma que a vimos em "A Liberdade é Azul", assim como a velhinha que sempre tenta jogar uma garrafa no tonel de lixo. As metáforas, é claro, estão aqui. E assim como nos "Decálogos", as metáforas se torna uma presença marcante, dada a importância de suas interpretações. A presença dos pombos tem as funções de representar a liberdade e apontar a presença de Karol num ponto abaixo da humanidade quando uma das aves defeca nele. E sua impotência sexual quando reside em Paris demonstra o contexto econômico e a visibilidade da França perante a Europa.

As falhas poderiam estar nas nuances da história. Ao optar por mostrar a personagem de Domique apenas na introdução e no desfecho do filme, Kieślowski lança uma áurea misógina que se mantém, e descarta a possibilidade de trabalhar com uma personagem até interessante. A escolha de trabalhar um protagonista masculino também se mostra desafiadora, pois sentimentos são menos esboçados em relação às mulheres, mas o ator Zbigniew Zamachowski não foi poupado e mostrou um belíssimo trabalho ao apresentar a gradação emotiva de Karol. E emotividade é justamente o que tem de melhor lapidado em um trabalho que cabe um verdadeiro estudo sobre a dinâmica entre o homem e sua alma.

Um comentário:

  1. Kieslowski baseou o personagem de Karol Karol em Charlie Chaplin, a quem Irene Jacob de Três Cores Red amado como uma menina.

    ResponderExcluir