terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Reencontrando a Felicidade [2010]


(de John Cameron Mitchell. Rabbit Hole, EUA, 2010) Com Nicole Kidman, Aaron Eckhart, Dianne Wiest, Miles Teller, Tammy Blanchard, Sandra Oh, Giancarlo Esposito. Cotação: ***

Mesmo com o nome de John Cameron Mitchell, idealizador do cultuado entre os alternativos "Hedwig – Rock, Amor e Traição", o que mais chamou atenção ao filme certamente foi o retorno de Nicole Kidman à boa forma. É quase impossível imaginar que uma atriz tão talentosa seja ao mesmo tempo tão mal aproveitada por conta de tantas escolhas ruins. E não digo somente profissionais. Ela fez tantos procedimentos estéticos – santo botox – que sua expressão ficou quase que inteiramente comprometida e a tornando uma versão penosa de boneca de cera. Deixando os comentários sobre o rosto de Nicole um pouco de lado, é crível que "Rabbit Hole" tem o desejo de ser mais que “o filme com o retorno de Nicole Kidman”. É uma tentativa, pelo menos.

Becca (Nicole Kidman) e Howie (Aaron Eckhart) formam um casal que passou por uma das piores dores que pais poderiam passar. Eles perderam o filho de quatro anos, vítima fatal de um atropelamento de carro quando corria atrás do cachorro da família. O filme se passa cerca de oito meses após o acidente, quando aos poucos, os dois tentam restabelecer a vida social. Mas a tristeza profunda herdada da tragédia não é tão fácil de ser remediada. Howie tenta buscar ajuda em um grupo de apoio para pais enlutados e encontra esse apoio com a veterana do grupo, Gaby (Sandra Oh, a Dr. Yang da série "Grey’s Anatomy"). Becca já não consegue ter essa visão de compartilhamento da dor a fim de amenizá-la, sempre se confrontado com discursos religiosos ou tendo atrito com a propria mãe (Diane Wiest), que também perdeu um filho, e por conta disso, sempre acha que pode ajudar a filha.

A diferença primordial entre Howie e Becca é que esta não tem apenas uma dimensão. Ela tenta lidar com a perda à sua maneira, chegando a ser agressiva e tendo atitudes que para alguns podem ser incompreensíveis, até para o próprio marido (coisa que não vou contar, mas tem muito a ver com o título original). Os dois personagens centrais se encontram nesse desnivelamento emocional, um se esforçando mais que o outro para conseguir dar continuidade às suas vidas, mas que no fundo, muita coisa ainda não foi vista e discutida, e isso explode, é claro, em discussões após tentativas de reaproximação amorosa ou quando a idéia de um parece ser incabível pra outro, como a proposta de ter outro filho ou vender a casa que traz tantas lembranças.

É inevitável não continuar falando sobre Nicole Kidman, por uma razão simples: ela leva os filmes nas costas. Como obra de arte, "Rabbit Hole" (insisto em não usar o seu título nacional sofrível) não é uma grande maravilha e talvez passasse batido se não fosse o bom elenco. Kidman se encontra contida nos momentos certos, e apresenta de forma incrível a transição dolorosa de sua personagem. E mesmo que suas plásticas a tenham modificado tanto a ponto de não parecer mais àquela linda mulher de cabelos cacheados que conquistou Tom Cruise em "Um Sonho Distante" ou a cortesã Satine de "Moulin Rouge – Amor em Vermelho", ela utiliza sua transformação facial a seu favor, a tornando tão estranha quanto sua encarnação de Virginia Woolf em "As Horas", papel que lhe rendeu seu Oscar de Melhor Atriz em 2003. Eu inclusive cheguei a me impressionar com sua beleza (sim, beleza!) quando sua personagem resolve ir a seu antigo trabalho. Esguia e de pele alva, percebi que Nicole ainda se destaca em meio à multidão de figurantes que tem na cena em questão.

Tirando Nicole Kidman, o que sobra é um filme regular. Não traz uma grande resposta para o grande problema inicial, e o seu desfecho chega a causar desapontamento. O clima, que de inicio chega a ser harmônico, vai sendo tomado pela dor e. já no segundo ato. é perceptível o tom pesado nas discussões que já citei. É um filme artístico, obviamente, que não deve agradar boa parte do grande público. Acredito que não sirva nem como um discurso teórico de psicologia, de tão vazio que é. "Rabbit Hole" – que é baseado na peça de David Lindsay-Abaire e deve funcionar melhor nos palcos - certamente só não chega a ser um fracasso total por conta do esforço elogiável do pequeno elenco.

É para terminar o filme e sentir que presenciou a depressão através de imagens.

2 comentários:

  1. Claro, minha curiosidade com este segue exclusivamente para ver a atuação de Kidman e ver que ela ainda é boa atriz. Espero que ao menos, o film cegue nas salas de cinema de minha cidade...

    abs.

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  2. Logo depois que eu escrevi meu texto, vim ler o que você escreveu e vi que também citou o Hedwig logo no início.

    Gostei bastante do filme, não é só uma boa atuação da Nicole. Tem um bom roteiro, é sutil e sensível.

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