quinta-feira, 31 de março de 2011

Cópia Fiel [2010]


(de Abbas Kiarostami. Copie Conforme, Itália/França, 2010) Com Juliette Binoche, William Shimell. Cotação: ****

“Cópia Fiel” é sem dúvida um desses filmes obrigatórios para os fãs do “Cinema-Arte”. Embora o Cinema - enquanto produto - esteja totalmente absorvido na nossa sociedade, é preciso uma obra como essa para comprovar o poder de alcance que esta ou qualquer outra expressão artística possui. É visivelmente perceptível a presença de dois filmes aqui, que somados, funcionam como um jogo performático muito bem representado por um competente diretor – o iraniano Abbas Kiarostami – e um casal de protagonistas que estão esplêndidos em todos os milésimos em cena. São eles os grandiosos Juliette Binoche (uma das minhas atrizes preferidas) e William Shimell, que na verdade é um barítono se aventurando como ator.

O historiador da Arte James Miller (William Shimell) é um inglês que se encontra na Toscana para divulgar seu mais novo livro intitulado Cópia Fiel, que acabara de ter sua tradução lançada na Itália. Durante sua conferência, Elle (Juliette Binoche) tenta ouvir a discurso do escritor. Mais tarde, ela o conhece após ele visitá-la em seu antiquário, e o convida para conhecer a região de Lucignano, no subúrbio de Arezzo. Nesse passeio, eles discutem a principal questão do livro escrito por James: “Afinal, a cópia de uma obra é tão valiosa quanto à original?”. Miller diz que sim, em contrapartida, Elle defende a sua visão mais expandida sobre o assunto, e diz que uma cópia jamais possa deter a valiosidade do seu molde original. Mas o que seria o molde original? Isso existe na nossa vida? É possível apreender algo “original”? São essas e outras discussões que os dois irão travar.

Na primeira parte do filme, o naturalismo de “Cópia Fiel” havia me conquistado nos seus primeiros minutos. Ver um palestrante desajeitado por receber uma ligação na hora do seu discurso ou presenciar a timidez de uma mulher em companhia de um escritor em que ela admira é um prazer despertado. É percebível a liberdade que os atores tem em seu trabalho durante a viagem de carro. Quando Miller tenta contar uma piada, a forma como eles interagem é presumivelmente a boa coisa que o filme apresenta até ali. E esse naturalismo acaba levado às últimas potências na metade do filme em diante, quando ao pararem para um café, a dona do estabelecimento confunde os dois como sendo marido e mulher.

A partir daí, eles iniciam um jogo de convenções, fingindo serem casados há quinze anos. Pressupõe-se até mesmo certa confusão dos espectadores, que poderão ficar perdidos ou intrigados com aquelas situações. Mas a sacada aqui é explorar exatamente a questão do livro de James Miller, que também é o título do filme. É a cópia e sua relevância que toma a narrativa de vez. É a discussão desse tema sendo apresentada da forma mais explícita possível. Infelizmente, essa incisão na história acaba quebrando o encanto do naturalismo adotado no início do filme, com as discussões afloradas sobre Estética e psicologia, mas não a ponto de tornar o filme um desperdício. Nem perto disso.

Juliette arrasa em três línguas. Ela passeia tranquilamente interpretando em italiano, inglês e francês, transparecendo um de seus maiores atrativos: sua inteligência aliada a sua beleza expressiva. É dispensável para ela maquilagem ou iluminações a fim de favorecê-la ainda mais. Juliette nem precisaria disso. Seu companheiro de cena em praticamente todo o filme, William Shimell, a acompanha de maneira infalível, e os dois, que estão longe de serem tidos como um casal padrão que se apaixonam de maneira instantânea em filmes afora, criam uma dinâmica muito interessante.

“Cópia Fiel” não é um filme fácil de ser acompanhado como seu inicio faz com que julguemos ser. É praticamente um exercício intelectual do diretor Abbas Kiarostami, que não pretende esmiuçar a temática do filme e dar para o espectador assim tão facilmente. Mesmo com a devida disposição para conferir esse trabalho, é possível desencanar e acabar sendo levado pelas conversas entre o casal, principalmente no que confere às discussões temáticas e que são fundamentais para pensar sobre o conceito da arte através do aspecto de verossimilhança e originalidade. Trata-se de um belíssimo trabalho.

6 comentários:

  1. Estou muito ancioso pra ver, até agora só ouvi opiniões positivas, e espero não me decepcionar!

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  2. É um filme que deixa o espectador confuso. Foi divertido tentar relembrar as cenas para descobrir qual é o relacionamento entre as personagens... Até agora não tenho certeza! Mas achei cansativo.

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  3. fui assistir ao filme sem saber do que se tratava... depois que o assisti, procurei críticas sobre ele, e no meu entender, nenhuma delas bateu com o que eu interpretei do filme... no início ele é muito chato, mas depois parece que as situações se explicam, mas não como os críticos tentam expor.. não é um filme que pode ser recomendado a todos, mas eu, particularmente, gostei.

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  4. Eu já cheguei ao cinema contrariada, pois senti-me obrigada a ir (por causa do meu trabalho, creiam...).

    Não gostei de nada, absolutamente nada. É um filme lento, chato, que dá voltas e voltas e termina no nada, como era de se esperar!

    Vale para aqueles que amam um papo super cabeça, interpretam a todos e a tudo o tempo inteiro e adoram quando há um ar de interrogação nas expressões das pessoas...

    Bem, adorei ter encontrado esse espaço para dizer o que achei, porque se dissesse metade disso para o meu "chefe", com certeza seria considerada medíocre, infantil, burra...sabe-se lá mais o que...

    Amo Juliette Binoche, ela está linda e interpreta o seu papel com maestria (viram, encontrei algo positivo!!).

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  5. Quando li sobre o lançamento do filme, quis muito ir vê-lo. Gosto muito da Juliette Binoche, pela sua beleza e pelos trabalhos maravilhosos que ela já realizou. Neste filme ela está maravilhosa, cada gesto, cada expresão...de uma naturalidade impressionante! O outro ator também está um primor. Os diálogos sobre cópia e original que ocupam de forma mais deliberada do filme são ótimos...em especial os argumentos bem humorados e cotidianos que o autor usa, de uma forma que somente quem está seguro de suas ideias faz. Mas no todo, o filme torna-se um pouco cansativo. A opção em focar as cenas sempre nos dois atores, por um lado reforça a ideia dos diálogos, por outro contribui para deixar o filme um pouco pesado 'demais'.

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  6. Gosto muito da Juliette Binoche, mas achei o filme muio chato. Pouco profundo na discussão do tema central e muito cheio de floreios... Lento e angustiante, com um final ainda mais chato. Pretensioso.

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