quarta-feira, 30 de março de 2011

O Retrato de Dorian Gray [2009]


(de Oliver Parker. Dorian Gray, Reino Unido, 2009) Com Ben Barnes, Fiona Shaw, Ben Chaplin, Colin Firth, Rachel Hurd-Wood, Rebecca Hall. Cotação: **

Praticamente ignorado fora da Inglaterra, "O Retrato de Dorian Gray" teve uma divulgação irrisória na América, sem quase nenhuma atenção por parte do norte americano, e no Brasil, ficou no atraso de mais de um ano para ser lançado nos cinemas, embora tenha sido visto no Festival do Rio ano passado. Seu lançamento nas salas pode se dever ao fato de Colin Firth ser destaque por conta do seu Oscar de Melhor Ator esse ano. Caso isso faça com que o filme seja visto, é viável informar que Colin é a melhor coisa daqui. Se ele não aguça a curiosidade em conferir a nova adaptação (dentre várias) da obra do incrível Oscar Wilde, saiba que não há nada de excepcional nesta.

Dorian Gray (Ben Barnes) chega a Londres no final do séc. XIX para arrendar a mansão de seu avô recém falecido. Ainda tímido e desajeitado, ele ganha a amizade de dois homens distintos. O cínico aristocrata Henry Wotton (Colin Firth) e o pintor Basil Hallward (Ben Chaplin). Basil, aliás, já demonstra grande interesse em pintar um quadro tendo Dorian como modelo. E Henry leva o jovem ao submundo do sexo na Londres reluzente, o envenenando com seus ensinamentos amorais (“A única forma de se livrar de uma tentação é ceder a ela”). Vislumbrado com sua beleza juvenil capaz de atrair atenções femininas, a vaidade de Dorian vai aumentando cada vez mais. O quadro pintado por Basil alcança uma perfeição tamanha que é capaz de se fazer sobrenatural, no qual retrata o íntimo de Dorian, ficando cada vez mais feio e podre, enquanto sua real figura continua bela e jovem.

Dirigido por Oliver Parker, que mais uma vez fica responsável por uma adaptação da obra de Oliver Wilde (dirigiu também "O Marido Ideal" e "Armadilhas do Coração" - ambas adaptações dos livros de Wilde), mas infelizmente adulterou alguns pontos que poderiam ser aproveitáveis na linguagem do cinema. Apesar de tratar inicialmente de maneira até elegante o hedonismo por parte de Dorian, seu trabalho acaba se esvaindo em um filme arrastado, longo demais para sua premissa. Quando há uma nítida ruptura cronológica, o filme fica chato de vez, apostando em um romance forçado em primeiro plano e tendo a insossa Rebecca Hall fazendo o mesmo de sempre em todos os seus filmes. E é aqui que temos a certeza que Colin Firth está excepcional, pois toma para ele o grande valor do filme.

Pode parecer bajulação pós-Oscar da minha parte, mas se nos atentarmos a maneira como Colin compõe a linguagem ácida do Lord Henry, é possível ver que sua dedicação está além de uma barba e um gestual caracterizado. O discurso de seu personagem e a forma como é transmitida é algo que apenas um bom ator poderia passar com tanta perspicácia. E Colin, mesmo antes de "O Discurso do Rei", já era apontado como um dos atores mais talentosos da atualidade. É um tipo confiável, que sempre garantirá um bom desempenho. Já o intérprete de Dorian, Ben Barnes (o Príncipe Caspian da franquia "As Crônicas de Nárnia") foi uma escolha acertada por ser inexpressivo por natureza. E tendo em vista um papel tão narcisista quanto Dorian, quanto mais “boneco de cera” for o ator, melhor.

Outra infelicidade do "O Retrato de Dorian Gray" é a sua insensibilidade artística. Não exatamente quanto a direção de arte, que está muito bem cuidada até. Mas caso a obra se assumisse mais gótica, mais misteriosa, sem precisar investir tanto na chatice vazia do drama interno de Dorian ou, mais uma vez reclamando, no envolvimento emotivo (apesar de importante), o filme teria oportunidade para ter uma maior aceitação, algo mais definido e estilizado. Mas, infelizmente, o que é visto é um filme que não tem uma grande tona. É válido para tomar contato, mesmo que por meios tortos, com a obra do Oscar Wilde, numa história cheia de sarcasmos e pitadas de ingredientes homoeróticos.

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