sábado, 2 de abril de 2011

Tudo Pode Dar Certo [2009]


(de Woody Allen. Whatever Works, EUA, 2009) Com Larry David, Adam Brooks, Carolyn McCormick, Evan Rachel Wood, Patricia Clarkson, Ed Begley Jr., Christopher Evan Welch. Cotação: ***

Dando continuidade aos seus costumeiros lançamentos de filmes anuais, em 2009 Woody Allen lança “Tudo Pode Dar Certo”, filme que nos remete diretamente aos seus trabalhos de anos anteriores por contar com uma série de críticas enviesadas sobre religião, sexo, intolerância, amor e outras questões que só um cineasta tão genial poderia discutir em apenas uma de suas obras. Dessa vez, seu alter-ego é transportado para a figura de Larry David, conhecido pela série de comédia “Curb Your Enthusiasm” e que se mantém até honesto na abordagem do que Allen propõe. Infelizmente, o roteiro de “Tudo Pode Dar Certo” talvez seja o único ponto valorizado no filme. O que se vê é um Woody Allen desacreditado na beleza que ele acreditava ver em Nova York, e nos faz consentir de que o melhor a ser feito talvez seja ele voltar-se novamente para a Europa.

Boris (Larry David) é um extremo hipocondríaco. Ex-professor de Física na Universidade de Columbia, ele foi capaz de desfazer seu casamento com Jessica (Carolyn McCormick) porque tudo estava acontecendo de forma muito perfeita. Após uma tentativa fracassada de suicídio (que lhe rendeu uma perna manca), ele ganha a vida ensinando xadrez para crianças que ele menospreza. Até que em um dia aparentemente comum, aparece em sua porta a jovem Melody Celestine (Evan Rachel Wood), uma garota que fugiu da casa dos pais em Mississipi e fora tentar a vida em NY. Mesmo contra sua vontade, Boris acomoda a garota em sua casa, e depois de algum tempo convivendo com os ataques de pânico e a natureza ranzinza de Boris, Melody acaba revelando que está apaixonada por ele.

Eu não sei se Allen já se considera velho demais para atuar em seus filmes, mas o fato é que Boris seria tipicamente interpretado por ele. Descobri que o roteiro do filme foi feito ainda nos anos setenta, sendo produzido quase três décadas depois. Isso explica a familiaridade com muitas coisas. Até o jeito de gesticular lembra muito a composição de Allen e muitas vezes as idéias do personagem eram apresentadas quase como um megafone do diretor, que se utiliza até de um diálogo direto com os espectadores para exercer seu discurso clássico que muitos chamam de verborragia. Não, não se trata disso por um simples fato: Allen não busca fazer discursos vazios. Tudo nele, por mais despretensioso que seja, possui um conteúdo a ser instigado, salvo raríssimas exceções.

Como filme, “Tudo Pode Dar Certo” não é nenhuma pérola e se soma aos muitos títulos regulares que Woody Allen lançou na década de 2000 (vale lembrar que nessa mesma década teve o genial “Match Point” e o ótimo “Vicky Cristina Barcelona”). São poucos os atributos que o torne algo incrível, a não ser, é claro, o roteiro que muitas vezes ameaça ser algo bem inspirado, mas forçado a ser um filme ambivalente, as boas tiradas allenianas ficam reduzidas a poucos momentos. Ali, pulverizadas.

O filme melhora bastante quando entra em cena Marietta (Patricia Clarckson) e mais ainda com a entrada de John (Ed Begley Jr), ambos os atores são incríveis e serão inevitáveis para o exercício da principal questão que Woody quer apresentar, ou seja, em como as amarras da convenção pode limitar as pessoas. Nesse caso, Marietta é uma mulher que se acha o centro de discussões das mulheres em clubes de livros. No seu modo de vestir, na surpresa ao ver que a filha se casou com um homem mais velho e na antipatia por Boris. Pouco tempo depois, ela percebe que o tempo em que viveu casada a impossibilitou de produzir seu talento fotográfico e dar vazão à sua liberdade sexual.

E John, com toda sua visão religiosa ultrapassada e desajeitada, chega a pedir perdão por tudo o que cometeu. Sua pequenez mental ao se deparar com um homossexual convicto reserva talvez a melhor surpresa do filme, que quer passar justamente essa mensagem para o público, de que muitas experiências tão gratificantes da vida acabam sendo evitadas por conta de convenções sociais, e isso acaba se tornando uma perda drástica.

Mas Woody Allen já não tem mais a disposição de pegar suas boas idéias e torná-las ingredientes de um trabalho memorável. Sua despretensão é elogiável e é isso que o torna o meu cineasta preferido. Seus filmes atuais não precisam ter a excelência de “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, ou pra citar um exemplo mais recente, as nuances de “Match Point”. Allen hoje faz filmes para se (e nos) divertir, e isso eu sempre digo. Não importa se o resultado foi bom ou ruim (as cotações são apenas ilustrativas). Quando se trata de Woody Allen, pelo menos uma idéia bem sacada é possível encontrar em seus filmes.

2 comentários:

  1. Gosto bastante deste filme. Chego a dizer que é um dos meus favoritos da filmografia do diretor. Claro, vi poucos filmes do diretor. Enfim, me divertiu bastante. Acho isso válido.

    abs.

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  2. Eu assisti esse filme há algum tempo, e realmente não é dos melhores. Porém, eu acho que Whatever Works tem uma genialidade discreta, que poucos conseguem captar, e talvez por isso seja tão desvalorizado. Acho que a sua simplicidade deve ser aplaudida, assim como sua despretensão. Este é um daqueles filmes, que ao meu ponto de vista, não foi feito com a intenção de estourar bilheterias, mas sim para passar uma mensagem de forma dinâmica - e isso é admirável.

    A Macho Alfa

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