sexta-feira, 11 de março de 2011

O Anticristo [2009]


(de Lars Von Trier. Antichrist, Dinamarca, 2009) Com Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg. Cotação: ***

Filmes do dinamarquês Lars Von Trier incomodam. Isso é de conhecimento de quase todos que já o conhecem. Mas para mim, ao contrário do que a maioria pensa, não incomodam pelo fato da narrativa provocar uma angústia quase insuportável em seus espectadores, mas sim por um desvio do próprio cineasta: seu ego exacerbado. Não permitindo sequer que os nomes dos atores ou de sua equipe sejam creditados (o nome dele é o único que aparece além do título), isso parece pouco ao constatar que toda sua narrativa terá que ser cavada por quem assiste a este filme, pois ele fez à sua maneira para aqueles que gostam de subjetividade.

Estruturado em capítulos, "O Anticristo" se inicia com um belíssimo prólogo, que reserva as melhores cenas do filme. Vemos em câmera lenta o casal de protagonistas entregues em tórridas cenas de sexo enquanto o filho deles se encaminha para uma janela. A tragédia anunciada é embalada pela lamuriante "Lascia Ch'io Pianga", da ópera Rinaldo, que serve de trilha à sempre estonteante fotografia de Antony Dod Mantle. Após a morte da criança, é iniciado um verdadeiro mergulho aos sentimentos que pode muito bem serem contidos na barca “primitiva” do ser humano: dor, desespero e sofrimento.

A mãe, uma intelectual, é a que mais sofre com o sentimento de culpa e mal consegue lidar com a fase do luto, se considerando incapaz, e o pior, uma verdadeira fracassada em relação a sua feminilidade (o que fica evidente em uma cena nada sutil). Seu marido, um terapeuta que acredita poder tratar a Mãe, busca ajudá-la através do confronto de seus medos. Mas lidar com uma natureza tão complexa quanto a de sua esposa, pode culminar num espiral de sentimentos que facilmente pode passar do arraigado para o violentamente exteriorizado.

Ao partirem para um lugar isolado chamado Éden (numa citação óbvia ao lugar primordial da Bíblia), é dada a continuidade a um verdadeiro estudo de simbologia no Cinema. São inúmeros deles, e cada pessoa pode refletir sobre seus significados. Os mais racionais pode ver os tais três mendigos ou nos três animais (o cervo, o corvo e a loba), uma alusão às estruturas do aparelho psíquico criada pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud. Os mais religiosos podem se atentar à Trindade. E os humanóides (eu, por exemplo) preferem ver como analogia da tripartição da alma feita por Platão, onde a alma é dividida entre racional, emocional e o concupiscível.

Essa (minha) visão é fundamentada nas atitudes emblemáticas da Mãe (o nome dela, assim como o do Pai, não chega a ser revelado). Ao dizer que “a Natureza é a Igreja de satã”, ela pode muito bem remeter aos enganos que o mundo sensível pode causar, e consequentemente, que exista um nível que pode curá-la (o mundo das Idéias, talvez). A concupiscência, ou seja, a libido sexual dela pode ser uma busca levada às últimas consequências para amenizar sua dor, como se o prazer sexual substituísse a dor de uma mãe que perde seu filho.

Não saberia dizer qual visão estaria certa ou errada., quem diria poder afirmar se a minha interpretação seria a mais “correta”. Cada um faz a sua leitura da forma como achar conveniente, e abrir mão disso assistindo ao filme com uma visão objetiva demais pode fazer dele uma obra barata e sádica.

Talvez até seja. Não é certo afirmar que a única maneira de um filme artístico produzir uma reflexão tenha que mostrar um animal em vísceras, uma mulher se auto-mutilando e um orgasmo sanguinolento. Somente a genialidade de Lars Von Trier ao se utilizar de tomadas sintomáticas para ilustrar a ansiedade da Mãe (tontura, boca seca, audição distorcida, tremores, pulso rápido, náuseas). Somente essa idéia já o torna genial. Mas nem toda genialidade deve ser exposta de maneira comum aos olhos do grande público. Embarcar no clima sombrio de "O Anticristo" pode ser uma deliciosa aventura, lógico, para aqueles que gostam do universo egoísta e por vezes misógino do diretor.

Do contrário, podem considerar a obra como uma utilização do gore bizarra e dispensável.

6 comentários:

  1. Adoro "Dançando no Escuro"; Acho "Dogville" irritante. Não tenho paciência com aquele cenário, mímicas e etc. Agora "Anticristo", lembro de só ter gostado da cena do prólogo. A cena em preto e branco é realmente muito bonita... Agora o resto. Não tive paciencia com as simbologias, hehehehe Até porque nem Von Trier coseguiu explicar o filme, ele apenas o fez em um estado de depressa profunda. Enfim, não é uma opinião concreta e tudo mais, mas acho "Anticrito" completamente dispensável...

    abs!

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  2. Não gosto muito de Lars Von Trier, acho seus filmes esquisitos - ou, eu aqui, não sou tocado por ele.

    Esse é um filme interessante, mais pela atuação de Gainsbourg com Dafoe, mas em geral é um filme que incomoda. abs

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  3. Von Trier não me comove. Dele, gosto de "Ondas da Paixão" e nada mais. O seu cinema é pretensioso e enfadonho. Vi o AntiCristo pelos atores - que estão ótimos -, mas terminei por concordar que é uma obra interessante, de uma poesia soturna, embora confusa e agressiva.

    www.ofalcaomaltes.blogspot.com

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  4. Me deu vontade de ver. Gosto dos filmes dele apesar de concordar que o ego dele é exagerado, como assim não creditar os atores? Absurdo rsrsr

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  5. Trier é um gênio, no futuro vão dar o devido reconhecimento que merece, muitos diretores foram criticados em suas devidas épocas por não serem ''compreendidos'', enfim o tempo tratará de dar o devido valor.

    http://cinetoscopio.com/

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  6. Como critico não-culto, vou dizer que fique CHOCADO com a primeira cena, com sexo explicito e tudo mais. Depois o filme até que segue uma linha mais normal, mas ainda assim eu fiquei com a cabeça perturbado por uns dias aeheahoiehoiea

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