sábado, 26 de março de 2011

A Suprema Felicidade [2010]


(de Arnaldo Jabor. Idem, Brasil, 2010) Com Jayme Matarazzo, Marco Nanini, Dan Stulbach, João Miguel, Maria Luísa Mendonça, Elke Maravilha, Mariana Lima, Ary Fontoura, Maria Flor. Cotação: *

Quem conhece Arnaldo Jabor sabe da verborragia característica que ele faz questão de exaltar seja no Jornal da Globo, nos seus escritos ou até mesmo em sua tímida filmografia, que estava no hiato desde o interessante "Eu Sei Que Vou Te Amar", de 1984. 26 anos depois, ele volta à direção de um longa em um dos trabalhos mais vergonhosos do cinema nacional do ano passado - e já me adianto a dizer –, talvez dos últimos anos. A verborragia de Arnaldo foi devidamente transportada para um filme medíocre, onde apenas o esforço de Marco Nanini poderia aliviar algum ponto na situação.

No início do filme, vemos a comemoração do “fim da Segunda Guerra Mundial”. Logo depois, vemos um letreiro anunciando que a cena se passa em 1945, evidenciando uma redundância que só pode estar lá para subestimar a inteligência do espectador. Até aí, embora seja um erro recorrente mais uma vez sendo usado, não chega a ser o mais preocupante. O filme passa então a seguir um fluxo descontínuo sobre o crescimento de Paulinho, no Rio de Janeiro dos anos seguintes. Acompanhamos sua infância, tendo que conviver com as constantes brigas entre seus pais, principalmente devido à opressão machista de seu pai Marcos (Dan Stulbach) sobre a sua mãe Sofia (Mariana Lima). É mostrada também sua pré-adolescência em um colégio religioso até a sua fase pré-adulta, vislumbrado com os cabarés da Lapa e prostitutas performáticas. Sempre tendo uma forte relação com seu avô, o boêmio Noel (Marco Nanini).

Semi-baseado na história do próprio Arnaldo Jabor, "A Suprema Felicidade" demarca um estilo feito para apreciar principalmente as reconstituições. A direção de arte poderia ser o grande trunfo do filme, porém, o que se vê é algo esboçado que poderia muito bem ser visto em uma novela das seis, um bairro tipicamente cenográfico. A edição, que antes adotou a redundância que já citei, não foi fiel às passagens de tempo que soou caótica. Uma hora vemos Paulinho já crescido, ora conhecemos a forma como seus pais se conheceram. Esse não seria um erro grave caso acontecesse de forma natural e aceitável. Mas aqui é tudo picotado e sem nenhuma justificativa plausível. Ou seja, em determinada altura, do que importa saber que os pais de Paulinho se conheceram em um baile e engataram uma conversa sobre "O Morro dos Ventos Uivantes"? Para demonstrar que antes eles se amavam? Mostrar como seu pai era educado? Essas ou outras perguntas não chegam a ser pertinentes porque os personagens em questão são tão mal construídos que duvido se alguém estaria interessado em saber sobre o passado deles.

Pegarei justamente Marcos como exemplo para mostrar o que é um personagem falho. Extremamente machista, o homem consegue se deliciar com cenas da guerra (ele é aviador), com bombas explodindo em território inimigo, sem nem inibir-se com a presença de sua sogra, que é polaca (Elke Maravilha surpreendendo). É capaz de tratar sua mulher de forma inexplicável, sem parecer algo que acontece normalmente por aí (o fato de esposas quererem trabalhar e se verem proibidas por seus maridos). O filme vai avançando e a única certeza que temos é que Marcos é apenas isso, sem nenhuma surpresa ou algum tratamento humanizado. Quando finalmente, em uma conversa com o filho - após este descobri-lo em um bordel – reservaria alguma virada, simplesmente nada sai do lugar. Resumindo, ao manter o personagem sempre com aquele ar bufão e machista, o roteiro admite a unidimensionalidade do personagem, algo esperado apenas em uma novela que, como todos sabem, eu aponto com um dos principais pecados do cinema brasileiro.

As mulheres do filme são as piores personagens. Parece que a regra de Jabor é que todas tenham algum tipo de desequilíbrio. A mais evidente - a encarnada por Maria Flor - atua em cenas de causar vergonha alheia. E todo o tempo para apresentá-la, fazê-la misteriosa, para depois da tal cena vergonhosa a personagem ser simplesmente... esquecida! Da mesma forma ocorre com o melhor amigo de Paulinho, com claras inclinações homossexuais, logo após discutíveis cenas de flerte com um figurante, também é absolutamente ignorado sem uma mínima explicação. Falhas graves pontuadas num roteiro ridículo que retrata o crescimento de um personagem que em nenhum momento soa relevante. Perguntado por uma garota sobre o que ele faz, ele responde algo como “Sei lá, acho que escritor”, sendo que em nenhum momento o vemos lendo ou escrevendo alguma coisa que se preze.

A pretensão artística (vista, por exemplo, em uma cena ridícula onde uma prostituta é esfaqueada ou nos discurso vazio de outra meretriz de dezesseis anos) ou até mesmo no argumento principal, também é determinante para o filme ter saído algo tão ruim. Desde quando Arnaldo Jabor teria cacife pra filmar seu próprio "Amarcord" de Fellini?. O elenco é desprezível. Com exceção de Marco Nanini, nenhum se salva, apesar do esforço dos talentosos Dan Stulbach e Ary Fontoura. Os atores que interpretam Paulinho nas três fases são horríveis, principalmente Jayme Matarazzo, o mais importante e principal responsável pelo desinteresse que somos levados a sentir pelo protagonista.

Mais uma vez livrando a cara de Nanini, que aqui tira leite de pedra, nada redime "A Suprema Felicidade", que no fundo tem um ponto a se considerar: a obra é a cara de seu idealizador. Só resta saber se o fato de "A Suprema Felicidade" ter a cara de Arnaldo Jabor é um elogio a ser levado em consideração. Fica a pergunta.

2 comentários:

  1. Não estou afim de ver uma cópia barata de "Amarcord". Que aliás, é um filme que já não gosto muito...

    []s

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  2. esse passou raspando, nunca vi um filme tão sem sentido assim! obvio que a "suprema felicidade" era clara, a unica alegria que tinha no filme, mas faltou um contexto, uma historia mais forte e não precisava ser tão pesado.

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