quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Onda [2008]


(de Dennis Gansel. Die Welle, Alemanha, 2008) Com Jürgen Vogel, Frederick Lau, Jennifer Ulrich, Jacob Matschenz, Elyas M'Barek. Cotação: *****

Como exemplo pedagógico fundamental para qualquer pessoa ligada ao ramo da educação, “A Onda” surge como um filme obrigatório para conhecer de uma forma tão eficaz qual o papel do docente na transposição da História para o ensinamento e saber até onde seu sistema de ensino pode chegar quando levado ao extremo. Interessante também para jovens em geral, para terem contato com o verdadeiro aprendizado do que são ideologias, conhecendo suas principais características, funcionamento e, o mais importante, suas conseqüências. E claro, para pessoas em geral (independente de serem educadores ou alunos) para ter noção do que é (dentre tantos outros temas) talvez um grande mal da sociedade: a intolerância.

O professor de História do ensino médio Rainer Wenger (Jürgen Vogel) foi ,contrariado, dar um curso sobre aristocracia, quando seu maior desejo era lecionar sobre anarquia (as matérias sendo eletivas já demonstram uma característica do sistema de ensino alemão). Para sua surpresa, seu curso é bastante requisitado, porém, ele luta para manter a apreensão dos seus alunos. Querendo exemplificar da melhor forma o que é o cerne da tal aristocracia, ele resolve simular essa forma de governo, se intitulando líder dos alunos, que passam a ser seus subordinados. Apesar do estranhamento inicial, a maioria dos alunos abraçam a idéia, porém, uma ideologia levada tão a sério acaba levando às conseqüências trágicas, e em uma semana, Wenger vê que a situação fugiu completamente de seu controle. A história é baseada numa história real, ocorrida na Califórnia, em 1967.

De uma maneira geral, a aristocracia é uma forma de governo onde o líder máximo do Estado detém o total controle de todas as camadas governamentais e exerce grande dominação através de vários mecanismos de poder, como a execução em massa do grupo que for contra seus preceitos e o nacionalismo exacerbado. Um dos exemplos mais vivos da história contemporânea é Adolf Hitler, líder do partido Nazista, que ficou a frente da Alemanha de 1934 até 1945. E é ainda mais importante ressaltar que, por se tratar de uma produção alemã, as referências ao nazismo são vistas repetidas vezes ao longo do aprendizado dos alunos. Portanto, é preciso estar ciente do que se trata o tema (o que não é um grande obstáculo).

Os alunos absorvem a idéia da autocracia de forma bem interessante. Os jovens em geral estão extremamente absortos, em constante crise de identidade e exatamente por isso, são mais passíveis às variadas ideologias. Quando se trata de autocracia, a coisa é perniciosa por envolver ideais de comunidade e sua autopreservação. Adotando o lema “Poder pela disciplina” e intitulando o movimento de “A Onda”, eles passam gradativamente a levar a sério demais a doutrina adotada, sempre incitada pelo professor. A camisa branca passa a ser o uniforme oficial dos integrantes para elucidar a imagem de comunidade, o símbolo passa a tomar grande valorização e a saudação é praticamente obrigatória para o reconhecimento dos novos “camisas brancas”. Com essa valorização extrema, eles passam a divulgar essa nova filosofia alastrando o símbolo até nos patrimônios públicos, confrontando até mesmo os anarquistas.

Os jovens personagens funcionam como a grande cartela para aprofundar a questão da “ideologia levada a extremos” de forma satisfatória. Karo (Jennifer Ulrich), a garota que no inicio do filme era a grande ranzinza da turma por não se adequar na aventura empírica proposta pelo professor Wenger, vê que a evolução desse movimento pode acabar caindo num fanatismo trágico. E ela, então, se torna a subversiva que deve ser aniquilada. Ao justificar suas razões para ir contra ao que ela considera um grande problema, é talvez um dos pontos mais didáticos de “A Onda”. Ela diz para o até então namorado:

- Eu não quero ser tratada como uma leprosa só porque não visto uma camisa branca.
- Por que simplesmente não veste uma? – questiona ele.
- Bem simples: Porque não quero.

Pronto. Está travada a polêmica.

“A Onda” tem um grande valor pelo tema abordado, que levado para outros patamares sociais, ainda pode explicar até mesmo a razão pela qual a grande intolerância religiosa é tão prejudicial à nossa sociedade. São muitos pontos a serem discutidos que convergem numa obra que passou batida por não ter a divulgação merecida. O elenco é um achado. Diferente dos jovens de beleza irreal vistas em filmes norte-americanos, os alemães de “A Onda” fazem o tipo mais esquisito, mais real, eu diria. E o filme só se perde em momentos isolados, quando passa a retratar a crise conjugal do professor Wenger, embora tenha sua importância para a narrativa.

Igualmente válido para estudos pedagógicos e sociológicos.

2 comentários:

  1. Vi o trailer desse filme esses dias e já havia ficado bastante curioso. Agora, se tornou uma necessidade! Tenho que vê-lo...

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  2. É o poder de uma ideologia que se afinca numa sociedade que ainda sofre os preconceitos do nazismo. Eu gosto do filme, bem feito e bem montado, e é um ótimo exemplo sobre as diversas influências da hierarquia social e da intolerância, como você bem falou em seu ótimo texto.
    Abraços.

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