quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Iluminado [1980]


(de Stanley Kubrick. The Shining, EUA, 1980) Com Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers. Cotação: ****

Stanley Kubrick jamais poderia imaginar que iria comprar um briga feia com o escritor Stephen King e os fãs deste, tudo por conta da sua abordagem particular que fez para a obra homônima do consagrado “mestre do terror”, que batia recordes de vendas na época do filme. O fato é que “O Iluminado” é bom justamente pela temática que Kubrick escolheu e desenvolveu lindamente. Não é um terror escrachado e o medo que nos causa é por conta da natureza psicótica de seu protagonista. Aliás, protagonista somente do filme, pois no livro, a questão principal é outra (o “poder” do menino, que está inserido entre os “the shinings”, vem daí o título). Kubrick parece não estar nem um pouco preocupado com isso, fez (e muito bem) um terror psicológico à sua maneira. E o resultado? Uma obra prima do suspense.

O escritor Jack Torrance (Nicholson) está animado com uma nova oportunidade de emprego. Ele se dispõe para ficar, juntamente com sua esposa, Wendy (Duvall) e seu único filho, Danny (Lloyd), responsável pelos cuidados e manutenção do hotel Overlook durante cinco meses, no inverno que fará com que as estradas que circundam o lugar fiquem fechadas por conta da nevasca. Jack vê nesse isolamento a oportunidade para escrever seu novo romance, mas o lugar é marcado por uma tragédia ocorrida anos antes, quando um funcionário que ficou com o mesmo trabalho, numa espécie de colapso resultante da situação claustrofóbica do lugar (ele teria sido vitimado da chamada “febre da cabana”) matou com golpes de machado sua esposa e filhas pequenas, suicidando-se logo depois. Jack não se importa com a história e parte para o hotel, e dentro de um mês, aparece nele os primeiros sinais de inquietude, além de outros estranhos acontecimentos que apavoram o misterioso lugar.

Jack Nicholson está perfeito no papel, embora muitos o considerem aqui overacting, sendo melhor ter sido escolhido um ator com menos “cara de louco” para impressionar ainda mais. Mas o que importa é que Jack nos reserva cenas ontológicas como seu monólogo no bar, ou principalmente, seu inesquecível "Here's Johnny!", com uma cara sinistra na porta que acabara de ser aberta a machadadas (vide o pôster do filme aí em cima). Os exageros faciais esdrúxulos ficam por conta de Shelley Duvall, que conseguiu tirar Kubrick do sério, como bem mostra um documentário lançado por Vivian Kubrick, filha do mestre, na mesma época do lançamento de “O Iluminado”. O ator mirim Danny Lloyd também é fundamental para a dramatização, mas talvez não tenha gostado da experiência, não quis seguir a carreira de ator e hoje é professor universitário.

As críticas contra Kubrick não está em relação somente na adaptação particular da obra de King. Ele chegou, inclusive, a ser indicado a pior diretor no Framboesa de Ouro de 81 - Shelley Duvall também foi indicada a pior atriz, mas acabou perdendo para Brooke Shields, pelo insuportável “A Lagoa Azul”. Mas ao que parece, não levaram em consideração as excelentes tomadas que ele faz, como o a câmera acompanhando o pequeno Danny andando em seu triciclo pelos longos corredores do hotel, e a elegância na apresentação dos cenários grandiosos, como quando o casal Torrance chega no dia do fechamento do Overlook. Fora as tomadas aéreas durante as viagens, que nos preparam para o clima de isolamento do hotel, que fica num lugar praticamente inalcançável durante o rigoroso inverno.

Os elementos que nos espantam são muito bem pontuados, como o elevador que deságua sangue, as aparições das gêmeas e da velha na banheira. Além da ambientação perfeita do quarto 237 e do bar - onde acontece uma festa à la anos 20 – e a reconstituição de um labirinto sinistro na área verde do hotel. Tudo isso funcionaria tão bem se não estivesse em mãos profissionais como as de Kubrick? Difícil dizer se sim ou se não, mas para os que preferem um terror mais violento, com animalidades e mais fiel ao livro, o próprio Stephen King colaborou para uma adaptação em 97, que é preferida por seus fãs, porém ficou longe da marca que Kubrick deixou na adaptação de 81.

As artimanhas para nos deixar com aquela dúvida do que é real e o que é resultado da loucura que afeta Jack Torrance fazem a nossa cabeça no decorrer de “O Iluminado”, que vai ficando ainda mais sinistro com essas demonstrações de loucura do protagonista.

É tensão do inicio ao fim.

6 comentários:

  1. Clááásico absoluto.

    legal essa informação que vc falou sobre o livro do King focar mais no menino. Sempre me senti estranho ao contar pras pessoas sobre o que era o filme, ja que o nome não fechava tanto com o mote principal, que é a loucura Jack Torrence.

    Assisti uma versão pra TV, dividida em 3 episódios, não sei se é essa mesma que vc comentou de 1997. Como tinha mais tempo, ela focava mais em alucinações do Jack, como os arbustos do jardim grunhindo e indo pra cima dele.

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  2. Opinião de quem não leu a obra original: "O Iluminado" é um dos melhores suspenses já produzidos. Uma obra prima.

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  3. Um filme pra deixar o queixo cair!


    Incrível o blog! Estou sequindo.

    Ahzura's Blog

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  4. Ainda não acredito como um primor como este filme foi indicado no "Framboesa" daquele ano. O público estava meio furioso com o resultado final do filme, rs

    Eu não li o livro, mas gosto muito do filme. Diria que é o meu suspense favorito. Gosto de Nicholson na fita, mas pra mim, é a direção de Kubrick que chama a atenção: esplêndida!

    Abs.

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  5. Um dos melhores filmes de Kubrick. Totalmente assustador.

    O Falcão Maltês

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  6. Clássico incontestável, gosto muito da adaptação, bem verdade Kubrick mudou muito, muito mesmo, o livro de King - por isso irritou tanto ele, na época. Mas, eu entendo, é complicado mexer assim. Mas, o filme funcionou muito e é puro terror psicológico. Sem falar que há cenas antológicas, algumas mencionadas por você.

    Gosto bastante da minissérie lançada, pois é extremamente fiel ao livro, mas não tem o mesmo impacto mesmo, porém eu preferia essa versão quando era criança.

    Abraço

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