sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Gente Como a Gente [1980]


(de Robert Redford. Ordinary People, EUA, 1980) Com Donald Sutherland, Mary Tyler Moore, Judd Hirsch, Timothy Hutton, Elizabeth McGovern, M. Emmet Walsh. Cotação: ***


Este filme ficou marcado na história como uma das maiores escorregadas do Oscar do ano de 1981. Tudo isso porque ele ganhou o maior prêmio da noite, quando dentre os indicados, estavam filmes graúdos de Martin Scorsese (“Touro Indomável”), David Lynch (“O Homem Elefante”) e Roman Polanski (“Tess”), além do filme “O Destino Mudou Sua Vida”. Todos, em minha opinião, superiores. Mas por outro lado, ser marcado por esse “ato falho” do Oscar, não o torna desprezível. “Gente Como a Gente”, apesar de ter uma ambientação arrastada em boa parte do tempo e da sensibilidade que demora em convencer, é um filme que, terminadas as duas horas de duração, acaba resultando em um filme realmente comovente.

Conrad Jarrett (Hutton) é um jovem extremamente amargurado. Após quatro meses internado num hospital depois de uma tentativa de suicídio, ele tenta recuperar sua vida social. Mas o incômodo maior está instalado em sua casa, onde seus pais, Calvin (Sutherland) e Beth (Moore), não discutem uma experiência altamente traumática. Seu irmão mais velho morreu vítima de um acidente de barco, e ele convive com a culpa de não poder salvá-lo. Essa culpa que o fez cortar os pulsos, e com isso, sabe que jamais vai ser perdoado. Apesar da relutância inicial, ele decide procurar ajuda psiquiátrica, para ao menos buscar respostas para seu comportamento depressivo. Mas sua mãe continua negando as conseqüências da tragédia e faz o que pode para manter as aparências.

Eu acho que a melhor coisa de “Gente Como a Gente”, reside no processo de “cura” da família, principalmente na figura de Conrad. Durante todo o filme, vemos que sua única confidente é uma moça com quem ele esteve junto durante sua internação. A situação na sua casa não poderia estar mais estranha. Apesar do apoio incondicional de seu pai, é com sua mãe que ele não encontra um elo de proximidade. Não há abraços, e não há chances de não se sentir com o peso da culpa pela morte do irmão, quando é visível o olhar de estranheza por parte de sua mãe, além de ter guardado na memória as lembranças de que seu irmão era o filho preferido dela. Como num bom drama familiar (que eu adoro), as explosões ocorrem, porém, tardiamente. A preocupação da história é preparar terreno e mostrar o trajeto de aproximação de uma família tão fria como esta.

O roteiro é escrito por Alvin Sargent, a partir da novela de Judith Guest. Alvin é um dos roteiristas mais ecléticos que eu conheço. Escreveu, por exemplo, "Homem-Aranha 2", "Em Qualquer Outro Lugar" (um road movie pouco conhecido que eu adoro, com Susan Sarandon e Natalie Portman fazendo mãe e filha), “Infidelidade”, “Júlia” e “Lua de Papel”. Estes dois últimos lhe renderam Oscar de roteiro em 77 e 73, respectivamente. “Gente Como a Gente” também se trata da estréia de Robert Redford na direção. Por sinal, Redford, mesmo hoje, não é considerado um verdadeiro mestre do cinema, embora seja respeitado no meio e prestigiado por conta do Sundance Institute, um organização que ajuda novos talentos do cinema, que é criação sua.

Além de Melhor Filme e Diretor, “Gente Como a Gente” ainda ganhou Oscar de Melhor Ator Coadjuvante para Timothy Hutton (de fato, ele está muito bem no filme, o único que valha em sua carreira), e Roteiro Adaptado, além de indicar outro nome à Ator Coadjuvante (Judd Hirsch) e Atriz Coadjuvante (Mary Tyler Moore).

4 comentários:

  1. Ainda não conferi este filme. Tenho curiosidade por ser a primeiro filme de Redford na direção. Sem contar que gosto de dramas familiares.

    Um dia, sem pressa, eu vejo.

    Abs :)

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  2. Eu realmente espero que esse filme seja muito bom, os comentários sobre ele são ótimos, como ele só saiu recentemente nas locadoras, ainda não tive a chance de conferir.

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  3. Eu tenho certeza que topei com este filme essa semana, mas não me lembro onde. Pela sinopse ele não parece muito desinteressante, gosto dessa exploração de relações familiares, que ficaram ótimas na tua escrita.
    Abraços!

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  4. Dos indicados a Melhor Filme daquele ano, só não vi TESS (comprei há muito tempo em DVD e nunca olhei), mas acho todos os outros igualmente consistentes (e preciso rever a maioria, é verdade). A carga dramática de GENTE COMO A GENTE é expressa muito bem na direção e nas atuações, e é consegue se aproximar bastante do público. Hutton, que era protagonista, venceu Oscar de Coadjuvante, e Tyler Moore, coadjuvante, concorreu como atriz principal (ao contrário do que você cita), mas foram estratégias acertadas, uma vez que naquele ano havia duas atuações praticamente invencíveis nas premiações, e justamente os que venceram (De Niro e Spacek).

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