quarta-feira, 16 de março de 2011

Em Um Mundo Melhor [2010]



(de Susanne Bier. Hævnen, Dinamarca, 2010) Com Mikael Persbrandt, Markus Rygaard, Trine Dyrholm, Toke Lars Bjarke, William Jøhnk Nielsen. Cotação: **

Nem precisei chegar ao término de "Em Um Mundo Melhor" para me pegar indagando sobre as opiniões favoráveis a ele. Não basta ter garantido o Globo de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro nesse ano, fico inquieto ao pensar que o filme tem seus admiradores que dizem enxergar belas lições sociais e filosóficas nesse novo filme de Susanne Bier ("Coisas Que Perdemos Pelo Caminho", "Depois do Casamento"), mais uma vez contando com o coleguismo do roteirista Anders Thomas Jensen. A cineasta em nenhum momento apresenta algo novo na sua filmografia recente e se utiliza do exagero no melodrama para questionar de uma forma “dolorosa” a origem dos grandes problemas geopolíticos da atualidade ou desde sempre: a intolerância.

"Em Um Mundo Melhor" trata de duas histórias paralelas que se cruzam diante de algumas situações trágicas. E duas figuras se tornam os elementos que impulsiona o grande contraponto que Susanne vai trabalhar na sua tese. O médico sem fronteiras Anton (Mikael Persbrandt), que trabalha em um campo de refugiados africanos e com o pouco tempo que usufrui para sua casa, tem que lidar com seu casamento recém terminado por conta de sua infidelidade. Em outro plano, mais precisamente em Londres, conhecemos Christian (Jøhnk Nielsen), um garoto que perde sua mãe vitimada com um câncer e vai com seu pai morar com a avó na Dinamarca. Lá também se encontra a ex-mulher e os filhos do médico Anton (que na verdade é sueco). O mais velho, Elias (Markus Rygaard), é uma criança frágil que sofre bullying na escola, e Christian acaba se aproximando dele de uma forma protetora, mas seu luto mal resolvido acaba gerando uma rebeldia inesperada que ligará os dois garotos intensamente.

Anton e Chrstian são os dois lados de um mesmo questionamento. O médico é pacífico, a ponto de ser chamado de covarde pelo próprio filho. Em uma cena que de tão incômoda chega a ser impressionante, ele ensina às crianças a razão dele em não revidar truculência, enquanto acaba de ser vítima de agressão. Para ele, agir com violência acaba gerando ainda mais violência (“É assim que as guerras começam”, como em um momento o pai de Christian diz, demonstrando que ele reparte da mesma idéia de Anton). Mas essa passividade toda é incompreendida pelo garoto que ainda não sabe como lidar com a morte de sua mãe e também parece não entender a forma fria e distante de seu pai em relação a isso tudo. Sua resposta se dará através de atitudes inconseqüentes, perigosas e irresponsáveis (como estar no alto de um prédio), que para a diretora do filme, são o que há de mais expressivos em relação ao perigo que aquela criança representa.

Mas todo esse estudo de personas, apesar de ser claro em todo momento do filme, apresenta algumas questões que acabam sendo quase ignoradas pelo roteiro. Ao mostrar o embate entre Anton e o chefe de uma milícia violenta que dizima mulheres grávidas nessa região miserável da África, Susanne nos dá as melhores cenas de "Em Um Mundo Melhor", abrindo mais espaço para a evolução dramática de seu personagem, que acaba voltando para a Dinamarca e parece ganhar uma visão mais crua de determinadas situações da vida que pareceu ter sido aprendida por ele. O fato é que suas apreensões filosóficas sobre a morte, a importância da família e o como têm de lidar com a violência evidenciam um clichê que Suzanne insiste em utilizar. Já é característico dela.

Embora tenha um arco dramático bem apresentado, dois atores mirins competentes e uma fotografia belíssima que vislumbra belas paisagens dinamarquesas, "Em Um Mundo Melhor" peca pelo marasmo e discursos enfadonhos que denotam o protesto de Suzanne em relação aos problemas sociais de seu país, confrontando com o drama de um país africano (!). A mulher é pretensiosa. Mas essa pretensão, como disse, tem seus admiradores e a fez ser premiada pelo filme em questão. E numa edição de Oscar que dentre outros termos, eu ditei como “um ano de retrocesso”, a vitória de um filme com tantos chavões honestamente não me impressiona nem um pouco.

Um comentário:

  1. Ainda não conferi e fazerei sem pressa. Gosto da Bier, mas o não fui com o 'jeitão' do filme, rs

    []s

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