segunda-feira, 21 de março de 2011

Temple Grandin [2010]


(de Mick Jackson. Idem, EUA, 2010) Com Claire Danes, Julia Ormond, David Strathairn, Catherine O'Hara, Stephanie Faracy, Melissa Farman. Cotação: *****

Há muito tempo venho querendo falar sobre "Temple Grandin", uma pérola produzida para exibição na HBO americana, que apresenta Claire Danes em seu melhor desempenho até agora (e acredito que de toda a sua carreira),  contando de forma emocionante a história de Temple, uma mulher autista que revolucionou a indústria frigorífica nos Estados Unidos, que hoje conta com metade de seus centros de produção bovina utilizando as técnicas estudadas por ela. O filme tem um poder de atração quase inexplicável, que nos mantém curiosos pela história de vida de uma mulher que não decaiu frente às suas limitações e enfrentou até o sexismo para conseguir ser hoje uma das mais respeitáveis cientistas americana.

Através de uma edição bem feitinha, com flashbacks e avanços temporais, acompanhamos a história de Temple Grandin, até então uma garota entusiasmada que vai passar as férias na fazenda de sua tia Ann (Catherine O’Hara). Lá, ela inicia uma paixão imediata pelos animais de grande porte, em especial o gado, que segundo Temple, possuem uma forma de se expressar que só ela entende. Mesmo se divertindo nessa temporada de férias, ela logo irá para a universidade, onde terá que conviver com pessoas que ela diz não compreender (“as garotas são tolas e as pessoas ficam lançando olhares que eu não entendo”). Infelizmente nada será como antes, quando estudou numa escola para adolescentes especiais e teve um forte laço com seu professor de ciências, Dr. Carlock (David Strathairn). E os conselhos desse professor e de sua mãe fizeram com que ela alcançasse méritos e reconhecimento pela sua coragem e exemplo de vida.

O discurso de Temple é simples. Tudo o que ela quer é respeito pelos animais. Os defensores ferrenhos -  vegetarianos, vegans e afins - pensam que a indústria dos animais é um mal a ser eliminado. Mas Temple diz que o problema não está no consumo da carne animal, e sim na forma como ela é executada ainda nos matadouros. Segundo ela, a vida segue uma lógica tradicional, uma cadeia alimentar. E entre morrer sendo estripada por um leão e ser bem tratada numa fazenda para morrer com dignidade e o devido respeito, logicamente ela iria querer a última opção. E é com essa visão em prol dos animais que ela resolve se especializar em psicologia animal e seguir a carreira acadêmica, concluindo seu mestrado e doutorado estudando a comunicação entre bovinos e a melhor forma de manejo na criação destes.

Falando de sua “limitação”, podemos nos surpreender ao ver que Temple não é aquele autista que não se comunica e sempre está inerte se balançando para frente e para trás repetidas vezes. Temple, mesmo que não tenha falado até os quatro anos de idade, conseguiu não só se socializar (dentro do permitido por ela), como foi bem mais longe. E o mérito se deve a sua mãe, que nunca a manteve como uma pessoa incapaz. E ela reconhece isso de maneira emocionante em um lindo discurso feito para um público composto de pais de filhos autistas. Tão emocionante como a cena em que ela canta (desafinadíssima) a canção “You'll Never Walk Alone" na formatura de sua graduação.

Se fosse produzido para o cinema, o Oscar de Natalie Portman estaria ameaçado por Claire Danes. Numa interpretação que poderia muito bem cair numa caricatura, ela consegue adentrar no universo interno de Temple, que leva tudo no seu sentido literal (se a tia diz que em sua casa, ela acorda com o galo, ela vai imaginar sua tia cacarejando de manhã cedo) e foi capaz de inventar uma “máquina do abraço” para se sentir confortável em meio às suas crises. Por não aceitar o toque das pessoas, ver Julia Ormond fazendo uma mãe que não pode abraçar sua própria filha é apreciar um trabalho digno. Danes, por sinal, pode não ter sido vista no Oscar, mas garantiu prêmios por sua atuação no Globo de Ouro e no Emmy, sempre acompanhada pela verdadeira Temple Grandin.

É comum nos afeiçoarmos com uma linda história de vida quando se trata de uma obra biográfica composta por todas as formas de dramatização do cinema americano - embora aqui se trate de uma produção para a TV. Mas "Temple Grandin" é a prova de que mesmo assumindo as maneiras corretas de se contar uma história, é capaz de ser algo incrivelmente delicado e que deve ser descoberto pelas pessoas. Eu faço a minha parte em recomendar.

2 comentários:

  1. Vixe, Adécio, Claire Danes e Julia Ormond no mesmo filme... Ninguém merece... Só faltou a Hilary Swank para completar o trio enfadonho...

    www.ofalcaomaltes.blogspot.com

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  2. Nem vou ler muito, já que quero demais ver este! Pelo que já soube Claire, está ótima!

    abs.

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