quarta-feira, 25 de maio de 2011

Foi Apenas Um Sonho [2008]


(de Sam Mendes. Revolutionary Road, EUA, 2008) Com Kate Winslet, Leonardo DiCaprio, David Harbour, Kathy Bates, Michael Shannon. Cotação: ****

O casal a frente de "Titanic", um dos filmes mais rentáveis da história, volta num drama que apesar de diferente em sua temática, se torna tão trágico quanto o sucesso de 97. Dirigido por Sam Mendes, que aqui dirige sua até então esposa Kate Winslet, trabalhou de uma forma constante - já vista em seu filme de maior sucesso, “Beleza Americana” – a grande ilusão imposta no american way of life. Mas o livro homônimo de 1961 de Richard Yates tem uma atmosfera própria que valida “Foi Apenas Um Sonho” num filme muito bem alinhado, tecnicamente perfeito e um casal de protagonista no melhor momento de suas respectivas carreiras.

Em meados da década de 50, Frank e April Wheeler (DiCaprio e Winslet) levam uma vida aparentemente perfeita. Vivem numa bela casa na Revolutionary Road, uma das regiões mais nobres no subúrbio de Connecticut. Porém, Frank trabalha em um emprego do qual ele destesta por estar se tornando a figura grosseira do seu pai, enquanto April se desilude de vez com sua carreira de atriz após o fracasso imediato de sua última peça. Se dando conta da infelicidade que foi instaurada em sua vida e na de seu marido, April acredita que não deveriam se resignar pelo fato de serem pais, até que ela sugere a Frank abrir mão de tudo e partirem para Paris, um lugar dos sonhos onde ela trabalharia como secretária enquanto o marido teria finalmente tempo para encontrar sua verdadeira vocação. As únicas pessoas com quem eles contam é com um casal de amigos e a corretora da casa, Sra. Givings (Bates), que tem um filho prestes a sair de um manicômio, o matemático John (Shannon).

A grande questão tocada a fundo pelo filme é em relação às amarras sociais que permeavam a década em que se passa a narrativa. Os anos 50 foi uma época de resignação para maridos e esposas. A conversa em que April e Frank revelam aos seus amigos a intenção em ir para França sem um plano muito convencional (iriam mais pela beleza do lugar e a aventura de uma doce fuga do que necessariamente por oportunidades de trabalho) comprova o estado de surpresa de quem os ouve. Alguns vêem nesse pensamento uma irresponsabilidade até mesmo infantil. Outros até prestigiam, mas se mantém em silêncio, tentando conter um olhar por vezes invejoso. Essa inquietação em sair daquela “vidinha” rejeitada principalmente por April, se move junto com a idealização do que a Europa possa oferecer. Mover-se pela emoção sem dar ouvidos à racionalidade (afinal, o marido deve largar uma boa oportunidade de emprego e mudariam drasticamente a rotina dos filhos pequenos) deve ser recriminado? Para April, não. Ela mesma diz que “é preciso ter força de caráter não para arcar com as responsabilidades, mas para se ter a vida que se sonha!”.

Sam Mendes, um dos melhores diretores revelados no começo da década passada, trabalha a inquietação nesse ambiente de forma magistral. Aliado a um bom trabalho de edição, as revelações são feitas de formas graduais. Da maneira como eles chegaram até Revolutionary Road à introdução dos seus filhos, aumentando cada vez mais a realidade dos Wheelers. Tomadas inspiradas e uma linda fotografia ambienta a obra, sempre fazendo questão de desenvolver um tratamento mais acadêmico, pois praticamente toda a equipe são profissionais agraciados por reconhecimentos em suas respectivas áreas, como o músico Thomas Newman (indicado a 10 Oscars), o fotógrafo Roger Deakins (indicado a 9 Oscars) e o figurino de Albert Wolsky (ganhador de 2 Oscars), só pra citar alguns exemplos. Talvez o único (pequeno) defeito se encontra aqui. Afinal, ser técnico demais pode acabar comprometendo o impacto de algumas cenas, as tornando muito distantes.

Apesar do quase óbvio, “Foi Apenas Um Sonho” está para além de um filme da atuação. Mesmo com as presenças marcantes de Kate Winslet, que a cada ano se supera e confirmando seu talento nato para o drama pesado, e Leonardo DiCaprio, um ator que conseguiu - graças a boas escolhas e o acolhimento de Martin Sorsese - chegar ao grupo dos talentosos que estão sempre querendo mostrar mais do que o rosto bonito (isso nem sempre é levado em consideração). Além dos dois, Michael Shannon (indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por esse filme), em apenas duas (longas) cenas combatentes, desconstrói um personagem que mesmo sendo o “desequilibrado” da história, se torna o único consciente do problema que o casal Wheeler enfrenta, e os confronta de forma impactante. Um trabalho soberbo.

“Foi Apenas Um Sonho” é extremamente depressivo, mas capaz de suscitar uma questão relevante para época (ou quem sabe até nos dias de hoje?), além de fazer possível prestigiar o talento de atores em trabalhos magistrais.



5 comentários:

  1. Adoreiii Seu blog !! Ja vi que quando quiser algo sobre filmes ..Verei aqui ! rs
    Beijos .

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  2. Pocha, tenho que rever este filme... Não me lembro de quase nada :(

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  3. Acho esse filme MUITO bom! Como você mesmo disse, o personagem do Michael Shannon é a pessoa mais sã ali.

    E a Kate deveria ter ganho o Oscar por esse e não pela chatice de O Leitor.

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  4. Admiro Winslet, DeCaprio e Sam Mendes, mas achei esse filme frustrante. Esperava muito mais.

    O Falcão Maltês

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