sexta-feira, 24 de junho de 2011

Amores Imaginários [2010]


(de Xavier Dolan. Les Amours Imaginaires, Canadá, 2010) Com Monia Chokri, Niels Schneider, Xavier Dolan. Cotação: ****

Confesso que Xavier Dolan me impressiona. E muito. O rapaz de apenas 22 anos já conseguiu se estabelecer no meio do cinema artístico, levando os dois de seus principais filmes (este e o anterior “Eu Matei Minha Mãe”, de 2009) para o Festival de Cannes, sendo ovacionado também em outras premiações e festivais no mundo afora. Não é para menos, o cara tem talento, embora possua uma estética restrita e faça parte do rol desses diretores que surgem de vez em quando (o exemplo mais forte que tenho é Quentin Tarantino) que são acima de qualquer coisa, cinéfilos inveterados, que abusam de homenagens, tributos, referências, etc. em suas obras a fim de darem maior valor artístico a elas. Para mim, isso não é (e está longe de ser) um defeito.

Passado na parte do Canadá onde falam um idioma francês quase incompreensível até para os próprios franceses, os amigos Marie (Chokri) e Francis (Dolan, que além de diretor e roteirista, também assume o papel de protagonista) não poderiam imaginar que a amizade seria abalada por um amor em comum: o jovem Nicolas (Schneider). Por conta da ambigüidade de Nic (fica incerto se ele é hétero, gay, bissexual, mente aberta), os dois iniciam um constante jogo de conquista, cada vez mais expostos e que vai afetando de forma negativa a amizade entre os dois. Marie e Francis alimentam um amor platônico (não confundir com o verdadeiro conceito de amor do filósofo Platão), e mesmo que se entreguem a outros parceiros sexuais, suas cabeças estão sempre aludindo à Nicolas.

Muitos já sabem que eu não sou grande apreciador de “Os Sonhadores”, filme de 2003 do diretor Bernardo Bertolucci. “Amores Imaginários” tem uma premissa bem parecida, embora os protagonistas sejam os dois interessados, enquanto no filme de Bertolucci, a história era centrada no objeto de desejo, Matthew. Aliás, as referências são fortes não só em Bertolucci, mas também de François Truffaut (1932-1984), Jean-Luc Godard, além da maneira asiática de desenvolver belíssimos planos em câmera lenta ao som de uma trilha sonora underground, que dá para “Amores Imaginários” um enriquecimento cool. Até as cores berrantes podem remeter à Pedro Almodóvar e a utilização da música “Bang Bang (My Baby Shot Me Down)” tem ligação direta com “Kill Bill – Vol. I” do Tarantino. São tantos meios de evidenciar técnicas visuais afetadas e um desenho estilístico fashionista, que “Amores Imaginários” corre o risco de ser apreciado somente no circuito gay.

O que gosto bastante no filme (embora tenha sido muito criticado) são os depoimentos de pessoas aparentemente triviais falando sobre desilusões amorosas, que é o tema maior do filme. São de uma espirituosidade que me divertiu bastante, funcionando para salientar esse campo de discussão, que levados aos personagens, não funciona por si só, pois são pessoas passivas e que empurram atitudes mais cobradas para frente. Não é querendo estragar nada, mas é esperado que pessoas tão sentimentais quanto eles não esperem grande coisa como resultado (um amor recíproco, por exemplo). Pelo menos é a impressão que se dá desde o início do filme, que possui um final que de tão irônico, salva o terceiro ato com louvor.

“Amores Imaginários” é um filme restrito, infelizmente. E é também um ótimo exemplo para mostrar que o estilo muitas vezes sobressai.

4 comentários:

  1. A grande sacada do filme é que ele apresenta o sentimento gay, mas que é também hetero, em suma: é o sentimento universal. Há a mulher que venera o amigo; há o homem que venera o amigo também. E ambos, dentro de suas percepções, investem em sonhos e idealizações desse próprio desejo que sentem...

    É um filme incrível, muito belo, muito bem feito. Tudo é cuidadoso. Dolan é talentoso e poucos reconhecem isso. Se esse filme estivesse estampado o nome "Almodovar", todo mundo diria que seria seu melhor filme. Uma pena, odeio pessoas quem se limitam nos julgamentos.

    Ao meu ver, discordo de ti, nem é um filme restrito assim - minha mãe, vários amigos e, inclusive, parentes que indiquei este filme, adoraram.

    Abraço

    ResponderExcluir
  2. Adorei esse filme, Xavier Dolan mostra aqui que tem talento pra dar e vender e usa um tema mais amplo do que em seu Eu Matei a Minha Mãe. Gostei do seu texto, o filme tem mesmo muitas referências à Nouvelle Vague, além de características aqui e ali com Almodóvar e Tarantino.
    Abraços.

    ResponderExcluir
  3. Eu sou louco para conferir o cinema desse garoto, mas não encontro os filmes dele.

    ResponderExcluir
  4. Acabo de ver este filme, e estou simplesmente reconfortado, não sei como explicar..mas é assim que me sinto...Saindo um pouco do meu particularismo que dar relevância a qualidade do filme,é uma produção aparentemente simples, mas possui um arranjo dramatúrgico extremamente conceitual.

    ResponderExcluir