sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Meia-Noite Em Paris [2011]


(de Woody Allen. Midnight in Paris, EUA/França, 2011) Com Owen Wilson, Rachel McAdams, Kurt Fuller, Michael Sheen, Carla Bruni, Alison Pill, Corey Stoll, Kathy Bates, Marion Cotillard, Adrien Brody. Cotação: ****

Trata-se, até agora, da maior bilheteria de Woody Allen nos EUA e também aqui no Brasil, o que acabou dando a ele maior jovialidade e um retorno às manchetes, algo que vinha ameaçando acontecer desde “Vicky Cristina Barcelona” (2008) e acabou desfalecendo com os questionáveis “Tudo Pode Dar Certo” (2009) e “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos” (2010). O fato é que “Meia-Noite Em Paris”, filme que abriu o Festival de Cannes de 2011, merece todo o hype que recebeu. Não chega a ser uma grande novidade na filmografia de Allen, até porque o tema já é algo retratado por ele há mais de vinte anos, além das já costumeiras voltas que ele dá longe de sua tão querida Nova York. Após Barcelona e Londres, chega a vez dele se instalar em ares parisienses.

Gil (Owen Wilson) é um roteirista da indústria de Hollywood que passa uma temporada em Paris em companhia de sua noiva, a fútil Inez (Rachel McAdams), aproveitando a ida dos pais dela. Apaixonado pela década de 20, ele acredita que morar na capital francesa poderá trazer mais inspiração para terminar seu romance. Entre passeios em museus e degustação de vinhos, ele se vê cada vez mais conectado ao lugar, até que ao pegar carona numa meia-noite passageira, ele vai parar em uma festa à la anos 20, dando de cara com grandes figuras dessa época, como F. Scott e Zelda Fitzgerald (Tom Hiddleston e Alison Pill), Ernest Hemingway (Corey Stoll) e Cole Porter (Tves Heck), além de poder ter a oportunidade de entregar seu manuscrito para ninguém menos que Gertrude Stein (Kathy Bates) ler. Entre idas e vindas para o século em que ele é apaixonado, acaba se envolvendo com Adriana (Marion Cotillard), uma jovem que só namora artistas em ascensão.

Os fãs de Woody Allen reconhecerão na hora que esse tema já foi maravilhosamente retratado em “A Rosa Púrpura do Cairo” (1985), com Mia Farrow usando sua fantasia para fazer com que o personagem de um filme que ela venera saia da tela do cinema e a convide para adentrar na sua história. Tanto lá quanto aqui, além da apologia que ele faz à arte como forma de entendimento da vida, também é encontrada uma crítica às formas de artes que não absorvem conhecimento, somente fazendo algumas pessoas pedantes, com direito a caricatura do pseudo-intelectual (como o personagem de Michael Sheen). Em “A Rosa...”, a crítica se direciona à própria indústria do entretenimento.

Quem não conhece boa parte dos nomes que Gil encontra em “Meia-Noite Em Paris”, acaba perdendo ainda mais a oportunidade de degustar as tiradas que Allen faz, além de deixar passar batida a maioria das referências. Eu, inclusive, não estava familiarizado com importantes figuras como o desenhista Henri Matisse (1869-1959), e as escritoras Djuna Barnes (1892-1982) e Alice B. Toklas (1877-1967), tendo, a partir daí, a oportunidade de conhecê-los. Mas me diverti mesmo foi com um dos melhores momentos do filme: a conversa de Gil com os surrealistas, representados por Pablo Picasso (1881-1973) e Luis Buñuel (1900-1983), cada um apresentando sua visão de mundo.

Owen Wilson, que foi extremamente subestimado por ser um ator que na maior parte de sua carreira não se importou em ser chamado de medíocre, não faz feio mesmo tentando seguir os trejeitos de Allen, que institui seu estilo com as grandes conversas em grupo (geralmente entre dois casais). Já Rachel McAdams me faz acreditar que ela deve ter um dos melhores agentes de toda Hollywood, já que não possui carisma e aqui está completamente canastrona, apesar da personagem megera. As participações da primeira-dama da França Carla Bruni, que deu o que falar, ficou minguando em cerca de três cenas que acabaram sendo esquecíveis.

Encantando a todos com uma belíssima “moral da história”, que prefiro guardar para não estragar a surpresa, Woody Allen prova que, mesmo cansado e criticado, ele ainda pode surpreender em criatividade e lucro. O que impressiona ainda mais.

6 comentários:

  1. Filme Sensacional.
    Uma verdadeira obra prima de Woody Allen.

    http://www.cinemosaico.com

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  2. Foi muito criticado, mas eu gostei bastante. Quem não queria voltar ao passado, mesmo que não fosse ao seu próprio passado? http://gilbertocarlos-cinema.blogspot.com/

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  3. Numa crônica futebolística do célebre jornalista Mário Filho, ele escreve, durante os anos 50, que futebol bonito era o dos anos 30.
    Acho que essa "moral da história"
    persegue todas as gerações.

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  4. Achei apenas "bonitinho". E ninguém merece o Owen Wilson, consegue ser pior que o John Cusack como alter ego de Allen.

    O Falcão Maltês

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  5. Adorei esse filme, achei um dos melhores que pude ver esse ano.

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  6. Encantador, agradável e muito poético até. Esse filme é realmente tudo isso que exaltam. Teu ótimo texto percorre bem a obra! Um abraço!

    E, ah, é uma delícia ver aqui, pela primeira vez, um Owen Wilson inspirado. abs

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