segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Saló ou Os 120 Dias de Sodoma [1975]


(de Pier Paolo Pasolini. Salò o Le 120 Giornate di Sodoma, Itália, 1975) Com Paolo Bonacelli, Giorgio Cataldi, Umberto Paolo Quintavalle, Aldo Valletti, Caterina Boratto, Elsa De Giorgi, Hélène Surgère, Sonia Saviange. Cotação: ***

Indigesto? Ultrajante? Repugnante?

Muitos são os adjetivos que passaram pela minha cabeça ao assistir este filme do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, o último de sua carreira, que terminaria tragicamente no final de 1975, com uma morte ainda obscura, cuja principal tese é que tenha sido brutalmente assassinado por um garoto de programa. Pasolini nem chegou a ver seu trabalho pronto, o que é uma pena, porque a sensação que se tem é que a obra parece ter ficado exatamente como ele queria. Até as controvérsias que ele causou, chegando a ser proibido em inúmeros países, e ter sua versão integral disponível para espectadores somente décadas mais tarde.

Numa Itália sob o regime de Benito Mussolini (1922-1943), quatro nazifascistas selecionam jovens civis de uma região do norte do país - mais precisamente na República de Saló - para uma das tarefas mais sádicas que possa existir. Por estarem em ótimo estado físico, 16 jovens (homens e mulheres) são mandados para uma mansão, onde acabarão nas mãos de um grupo disposto a tudo para humilhar e fazer diversas torturas sexuais. E num salão de orgia, os aprisionados ainda são obrigados a ouvir as histórias (que não passam de contos sexuais) de duas fascistas, que envolvem desde pedofilia até a cropofagia.

Sim, para quem já sacou, “Saló ou Os 120 Dias de Sodoma” é baseado na obra do ousadíssimo Marquês de Sade (1740-1814), remetendo ao seu "Círculo de Manias", "Círculo da Merda" e "Círculo do Sangue" (o filme também é estruturado nessas três partes). Mas a adaptação é BEM subjetiva, já que Pasolini transpôs a história de Sade para outro contexto mais fiel à sua realidade. O fato da história se passar em Saló não é, tampouco, um fato fugidio. O irmão de Pasolini foi morto ali, muito provavelmente tendo sido vítima de crime político que envolve questões ideológicas.

Os quatro opressores do filme são os grandes responsáveis pelos piores (e por isso mesmo, talvez os melhores) momentos do filme. Piores no sentido do “fazer chocar ao extremo”, e melhores porque foi o que fez o filme estar presente em listas de obras importantes até hoje. Tem que ter estômago, não há como fugir disso. Afinal, cenas grotescas como um banquete de merda não é nada gostoso de ver. E isso é apenas um aperitivo perto de todo o sofrimento que os prisioneiros são obrigados a passar. Para eles, só a morte seria a salvação, e um dos algozes ainda tira sarro disso ao dizer que a intenção dele é “matar até o fim da eternidade, se é que a eternidade tem um fim".

Se “Saló ou Os 120 Dias de Sodoma” continua sendo tão polêmico ainda hoje, eu fico imaginando o rebuliço que deve ter causado no ano de seu lançamento. Mesmo eu sendo contra a todo e qualquer tipo de censura, eu nem precisei de muito tempo assistindo ao filme para saber que aquilo não tinha como escapar do veto. Fiquei na esperança de que, ao final de tudo aquilo, aconteceria um banho de sangue, com muita sede de vingança. Não posso dizer se isso aconteceu ou não, mas já adianto que essa minha expectativa é herança de outra vertente do cinema que não tem nada a ver. Aqui, Pasolini quer se utilizar de críticas, através de inúmeros simbolismos, como a questão da filosofia fascista do uso ilimitado do poder (bem ilustrado pelo sadomasoquismo).

Entretanto, para entender tudo o que Pasolini quis dizer no filme, é preciso, antes de qualquer coisa, ter um estômago forte.

5 comentários:

  1. Gosto de Pasolini, um cinema poético e humano, mas SALÒ é muito perverso... Tentei revê-lo e não consegui.

    O Falcão Maltês

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  2. minha curiosidade com esse filme é imensa.

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  3. Assisti a esse filme na faculdade, em um Cineclube da vida... A sessão começou com 59 presentes. Terminou com cinco. E eu entre eles. Sinceramente, ate´hoje, não sei o q pensar sobre ele...

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  4. Eu tenho uma curiosidade imensa apesar do tema nada atraente! Como destacado por você, falta-me estômago!

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  5. Já vi esse filme em muitas listas de Os 10 Filmes Mais Perturbadores ou coisa do tipo, perto de Irreversível, Eraserhead ou Holocausto Canibal. Estou muito interessado em ver, gosto do cinema repugnante e de entender o porque de tanta perturbação. Só me falta estômago mesmo.

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