quinta-feira, 8 de março de 2012

As Mulheres do Sexto Andar [2010]


(de Philippe Le Guay. Les Femmes du 6ème Étage, França/Espanha, 2010) Com Fabrice Luchini, Sandrine Kiberlain, Natalia Verbeke, Carmen Maura, Lola Dueñas, Audrey Fleurot. Cotação: ****

Voltar a morar em São Paulo, no meu caso, significa retomar alguns costumes que eu tinha - e que muitos cinéfilos também possam ter. Para matar algum tempo e evitar pegar aquele trânsito em horário de pico, nada melhor do que entrar num cinema e matar o tempo que for para uma volta pra casa mais tranqüila (por sinal, eu conheço gente que pega um cineminha só pra aproveitar o ar condicionado nos dias de muito calor, ou aproveitar enquanto o carro se encontra no lava-rápido). Mas enfim, o que importa aqui é que numa dessas oportunidades de matar o tempo pegando uma sessão na Rua Augusta, acabei me deparando com este filme que eu só conhecia de nome, e nem sequer sabia do que se tratava. Por já ter assistido boa parte dos outros filmes em cartaz e não ter muita flexibilidade de horário, acabei optando por este, e confesso, foi um delicioso passatempo.

As tais mulheres do sexto andar são nada mais do que domésticas espanholas, que durante os anos 60, pareciam ser tradicionais nos cuidados da casa de franceses. O filme se passa justamente na França, onde essas mulheres se instalavam nas proximidades da casa das patroas, muitas vezes deixavam casa e família numa Espanha devastada no pós-guerra civil e sob o domínio do ditador Francisco Franco. No prédio do filme, as espanholas estão em peso. Após o pedido de demissão de uma delas, o casal Jean-Louis Joubert (Fabrice Luchini) e Suzanne (Sandrine Kiberlain) tenta encontrar alguma empregada tão boa quanto. Até que chega até eles a graciosa María Gonzalez (Natalia Verbeke), recém-chegada na capital francesa e ainda com algumas dificuldades no idioma. A aproximação entre Maria e Jean-Louis vai crescendo até que, aos poucos, ele vai percebendo a importância das espanholas que vivem tão perto dos seus patrões, e ao mesmo tempo, estes tão pouco ainda sabem sobre elas.

Mesmo que aparentemente seja uma sinopse dramática, “As Mulheres do Sexto Andar” é considerado uma comédia até leve, sem grandes baques e quase nenhuma situação melodramática. É interessante ver o retrato da relação entre as patroas francesas e suas empregadas espanholas de uma maneira tão lúcida e cômica. É uma comédia de costumes básica, que certamente agradará o grande público, caso o filme seja descoberto. Cheguei até a lembrar de “Domésticas”, ótimo filme de 2001 de Fernando Meirelles, com o início acrescido de depoimentos das espanholas, uma mais impagável que a outra. Mas as semelhanças ficam só no início mesmo. Aqui, os patrões chegam a ser mostrados, por um tempo até excedido, mas é tudo tão bem desenvolvido que nem nos importamos em dividir a atenção entre os franceses e os espanhóis, porque é justamente a curiosidade do protagonista pela vida das mulheres do sexto andar que vai funcionar como fio condutor de todo o desenrolar da história.

As personagens, que entre elas, são interpretadas até por musas de Almodóvar, como Lola Dueñas e Carmen Maura (de "Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos"), são um tanto quanto caricaturais, umas bem mais do que outras. Mas o filme é tão gracioso que até isso fica perdoável, pois a intenção, como disse lá no início do texto, é atingir o grande público, que muitas vezes, não tolera personagens mais dúbios. Então, nada melhor do que investir na caricatura ou até mesmo em algumas saídas forçadas (nunca uma aula de investimento econômico foi tão didática e superestimada). Mais tarde, pesquisando sobre o filme, descobri que também é uma espécie de autobiografia, já que o diretor e escritor Philippe Le Guay tinha um pai corretor da bolsa, assim como o protagonista, e também chegou a ter uma empregada espanhola em casa durante a infância. Ou seja, é mais um elemento que garante ainda mais aceitação do público. 

E nesse caso, esse mesmo público deveria (re) conhecer a obra.

3 comentários: