quinta-feira, 1 de março de 2012

A Invenção de Hugo Cabret [2011]


(de Martin Scorsese. Hugo, EUA, 2011) Com Asa Butterfield, Ben Kingsley, Sacha Baron Cohen, Chloë Grace Moretz, Ray Winstone, Emily Mortimer, Christopher Lee, Helen McCrory, Michael Stuhlbarg, Frances de la Tour, Richard Griffiths, Jude Law. Cotação: *****

Como expectador, eu sempre fui indiferente em relação ao cinema 3D. Embora tenha tido boas experiências (lembro vagamente do quão surpreendido fiquei quando vi “Avatar”), o 3D era, pra mim, mais incômodo por ter que me contentar ao ter meus óculos de grau por baixo dos óculos 3D imundos que nos são entregues na sala de exibição, do que pela sua real utilidade. Aliás, quando ao menos existe utilidade. Não é segredo que essa forma de assistir a filmes (embora não seja necessariamente recente) esteve em alta mais para impressionar em cenas envolvendo explosões, objetos lançados em direção a platéia ou algo parecido, do que ser trabalhada de forma orgânica no próprio filme. Falo tudo isso porque é notório que “A Invenção de Hugo Cabret” é a primeira obra na qual o 3D é usado para elucidar planos de fundo, explorar o campo de visão dos expectadores, e claro, impressionar nas cenas mais óbvias, como num acidente de trem ou na exibição das engrenagens dos relógios da estação onde o filme se passa. Só isso já vale para uma valiosa recomendação: se possível, veja o filme em 3D.

Passado no início do século passado, o menino Hugo Cabret (Asa Butterfield) vive dentro das engrenagens de relógios em uma estação parisiense. Órfão, ele vive de pequenos furtos e está sempre escapando do inspetor da estação (Sacha Baron Cohen) e seu dobermann. Fascinado por um autômato descoberto quando seu pai relojoeiro ainda era vivo, Hugo perde o caderno de anotações em que seria possível o concerto do tal autômato. Na verdade, o caderno é tomado por Georges (Ben Kingsley), um velho rabugento que tem uma pequena loja de brinquedos dentro da estação. Para recuperar o caderno e conseguir, enfim, consertar o autômato, ele contará com a ajuda de Isabelle (Chloë Grace Moretz), a filha adotiva de Georges, que é fascinada por aventuras graças a sua extensa lista de livros lidos. Nessa busca, eles descobrem, entre outras coisas, que o velho Georges na verdade é Georges Méliès, um dos maiores gênios da história do cinema, que renega o seu passado resumido em celulóides perdidos. Mas qual seria a relação entre Hugo, Georges Méliès e o autômato?

Não dá pra ignorar o fato de que “A Invenção de Hugo Cabret” é o filme recordista de indicações do Oscar deste ano, com o total de 11, e pra ser bem sincero, com poder de vitória apenas nas mais técnicas. O preferido de melhor filme, categoria em que “Cabret” também está indicado, está “O Artista”, outra produção que faz uma genuína homenagem ao cinema, mas a sua maneira, com um olhar mais voltado à Hollywoodland. Aqui, a homenagem fica mais por conta da história do cinema, buscada em sua essência, na figura de Georges Méliès (1861-1938), nada menos que o primeiro cineasta, no sentido mais correto da palavra. Mesmo depois da invenção do cinematógrafo pelas mãos dos irmãos Lumière, foi ele - utilizando-se de todo o seu conhecimento de ilusionista e diretor teatral - que fez o cinema-fantasia acontecer. Recentemente, escrevi sobre sua maior obra, “Viagem à Lua”, onde expus de uma maneira mais objetiva a importância dessa mente, o porquê de toda uma geração de cineastas dever algo a este homem, que mesmo depois de produzir mais de 500 filmes em sua empreitada cinematográfica, morreu miserável.

Mesmo com todo esse tratamento especial para com o cinema, e com isso, acaba construído uma relação de proximidade com o cinéfilo, o filme tem uma perceptível divisão. O começo é assumidamente uma fábula, que não é direcionado apenas ao público infantil, que nem imagina quem seja Martin Scorsese (é o primeiro filme “família” do diretor de “Os Bons Companheiros” e “Taxi Driver”). A junção entre essa primeira parte um tanto quanto arrastada e a segunda parte fenomenal é muito bem destacada por um jogo visual na história, onde o protagonista tem um sonho no qual ele próprio possui uma engrenagem dentro de si. Isso, mais uma vez, demonstra a genialidade de Scorsese, que soube dividir o filme de maneira tendenciosa, além de nos fazer concluir que o cinema 3D, do jeito como ele projetou, talvez nos conduzisse a um vislumbre tal qual aquele dos franceses assustados com o trem filmado pelos irmãos Lumière, achando que os atropelariam.

A importância da memória do cinema, e a própria sétima arte em si pode não ser algo que vá impressionar a juventude de hoje em dia. O que é uma pena. Contudo, saber que uma produção como “A Invenção de Hugo Cabret” não só surja, como também emocione o seu público, já é um indício de que a sétima arte sempre pode nos surpreender. Os aplausos que vi ao fim da sessão comprovam isso.

5 comentários:

  1. superestimado exatamente como "o artista" scorsese é melhor em outra area, não gostei muito, acho John Logan péssimo roteirista - o inicio é infantil demais, mas todo o resto é uma linda homenagem ao cinema.

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  2. Belíssimo visualmente e importante em sua homenagem aos velhos tempos, mas falta emoção.

    O Falcão Maltês

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  3. Opa. Não tem nada a ver com o belíssimo "Hugo", porém postarei aqui, já que é o mais novo post do blog.

    Não sei se já viu. Mas caso não, aí vai a análise detalhada que fiz do clássico da comédia "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu" lá no Lumi7: http://www.lumi7.com.br/2012/03/um-close-up-na-setima-arte-apertem-os.html?showComment=1330729854847#c4269322617848012848

    Um abraço!

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  4. Achei decepcionante. É a coisa mais linda visualmente e como você disse, Scorsese merece aplausos por tornar o 3D algo relevante. Mas a história é fraca, previsível, a montagem é equivocada, o menino protagonista é péssimo e o resto do elenco também não me deixou muito satisfeito. No fim, fica mesmo a homenagem a Melies.

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  5. Gostei demais desse "novo Scorsese" que consegui enxergar nesse filme.

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